PsychotycNerd#6116. Era sob este nome de utilizador na rede social Discord que João, o jovem de 18 anos que ficou em prisão preventiva esta sexta-feira, 11 de fevereiro, pelos crimes de terrorismo e posse de arma, navegava em conversas internacionais sobre tópicos como massacres sem alvo definido e tiroteios em escolas.

5 minutos de massacre e uma fuga de autocarro. Todos os detalhes do plano de João para atacar a faculdade
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E foi na mesma rede social que o estudante de engenharia informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa revelou o seu plano de levar a cabo um assassinato em massa no Bloco 3 daquela universidade usando facas, uma besta e explosivos fabricados por si para matar e incendiar estudantes e as instalações.

O motivo? Em conversa na Discord, João contou ao seu interlocutor, um jovem norte-americano que tratava por Sammy, que a motivação para o atentado se devia a um incidente sobre plágio naquela universidade. O jovem da Batalha queixou-se de uma denúncia "mentirosa" e confessou que estaria em vias de ser suspenso da universidade depois de uma alegada falsa acusação por plágio num trabalho académico. Por isso, planeava "vingar-se de todos" e matar "o maior número de colegas possível".

João sofre de Asperger, mas o síndrome não o impede de distinguir o bem do mal

A investigação está ainda a tentar apurar se a denúncia existe mesmo ou se foi apenas uma perceção da personalidade de João. Recorde-se de que, de acordo com a família, desde criança que João é acompanhado por lhe ter sido diagnosticado Asperger, um síndrome dentro do espectro do autismo, que afeta a comunicação verbal (o jovem fez terapia da fala) e a capacidade de socialização, , avança o "Correio da Manhã".

Traços que o levaram isolar-se dos restantes colegas e que motivaram episódios de bullying tanto na terra de origem como na própria universidade. Ainda assim, a Polícia Judiciária (PJ) garante que a doença não o impedia de distinguir o bem do mal, nem lhe afetava a capacidade de optar ou não pela prática de condutas ilícitas.

João queria matar "o maior número possível" de colegas. Tudo que sabemos sobre o jovem que planeava um atentado terrorista
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Alarmado com a conversa, Sammy avisou o FBI por email, a 4 de fevereiro, garantindo que apenas conhecia o jovem pelo nome de utilizador que usava naquela rede social. No mesmo dia, o FBI alertou a Polícia Judiciária, que obteve o IP (endereço que identifica um dispositivo na Internet ou numa rede local) do suspeito e conseguiu chegar à morada da casa onde João vivia, na zona norte de Lisboa. O estudante foi vigiado e esteve sob escuta até a PJ conseguir os mandados para a busca domiciliária, mas segundo uma fonte judicial, o suspeito chegou a ser filmado com comportamentos bizarros em plena rua, confirma o jornal "Expresso".

Nas buscas ao quarto onde vivia em Lisboa, a PJ deteve o rapaz, a 10 de fevereiro, na véspera do suposto massacre, e apreendeu quatro facas, uma besta, 25 flechas, isqueiros, maçaricos, duas latas de gás em spray, duas latas de gás butano e quatro latas de combustível. No plano estava explícita a intenção de comprar embalagens líquidas de isqueiro e às 15h30 "preparar tudo para amanhã".

No dia seguinte, 11,o objetivo era entrar às 12h30 na casa de banho do Bloco 3 e "preparar-se". Às 13h20 "começar o ataque". E às 13h25 "fim". A fuga estaria meticulosamente planeada em prol do horário do autocarro que João usaria como transporte de fuga. Sexta-feira era denominado o "dia final".

Acusado por crime de terrorismo e posse de armas

Apesar de não ter tido qualquer motivação religiosa, política ou ideológica e de não chegado a praticar qualquer ato de violência, João foi indiciado pelo Ministério Público por um crime de terrorismo e esta interpretação dos factos foi validada pelo juiz de instrução, que se decidiu pela prisão preventiva alegando a prática de um crime de terrorismo.

Já que, segundo a lei de terrorismo, "quem, por qualquer meio, treinar (…) ou adquirir por si próprio treino, instrução ou conhecimentos, sobre o fabrico ou a utilização de explosivos, armas de fogo ou outras armas e substâncias nocivas ou perigosas, ou sobre outros métodos e técnicas específicos para (…) intimidar certas pessoas, grupos de pessoas ou a população em gera" terá de ser punido pela prática terrorista.

À data deste artigo, o  jovem de 18 anos encontra-se na ala de psiquiatria da prisão de Caxias, para onde foi transferido na noite de sexta-feira, 11, e onde poderá ficar a cumprir quarentena até regressar à prisão do estabelecimento anexo à Polícia Judiciária, onde passou a primeira noite, ou ao estabelecimento prisional de Lisboa. Mostrava-se ansioso e perturbado e a transferência para a ala psiquiátrica do hospital de Caxias tem o principal objetivo de garantir o bem-estar do jovem.

O juiz que o ouviu decretou a prisão preventiva por considerar existir perigo de continuação da atividade criminosa, mas advogado já anunciou que vai recorrer da medida de coação.