Desde 1954 que foram poucas as aparições da aldeia do Vilar, no concelho de Pampilhosa da Serra, altura em que se fecharam as comportas da Barragem do Cabril, no Zêzere. Passados 68 anos, a vila engolida pela água voltou à tona devido à descida do caudal do rio Zêzere, pelo segundo ano consecutivo.

Não é a primeira vez que a antiga aldeia volta a ficar visível à superfície, o mesmo aconteceu em 2021, de acordo com Manuel Barata, de 77 anos, morador em Portela do Fojo, que recorda as memórias que também emergem sempre que as ruínas deixam de estar debaixo de água. Isto porque  “quando a barragem encheu”, Manuel, na altura com 10 anos, os pais e irmã tiveram de deixar a aldeia do Vilar, conta à agência Lusa, citado pelo "Diário de Notícias". “Avisaram para a gente sair. Pagaram o que eles quiseram”, continuou.

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Além de Manuel Barata, outras pessoas vivem o momento como uma atração turística e fazem visitas ao espaço para recordar o que ainda ficou da antiga aldeia. As partilhas vão sendo feitas pela rede social Facebook e são vários os que referem a "história" que agora está a olho nu. 

"Visita à Aldeia do Vilar submersa... Só quando as águas do Cabril estão nestes níveis é que é visível... Recordar a história da nossa Albufeira do Cabril", escreve um dos visitantes numa publicação. "Antiga Aldeia do Vilar, submersa aquando da construção da Barragem do Cabril. Com a falta de água, é digno de ser visitado. Eu fui ver e amei", diz outra utilizadora.

A Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra fez ainda circular um vídeo na mesma rede social para mostrar as "casas, moinhos, barrocas e passagens de água" que por vezes espreitam quando o rio desaparece.

Contudo, o que é agora uma atração, pode no verão ser uma ameaça para o turismo, dado que neste local funciona uma praia fluvial e uma piscina flutuante que, até o caudal subir de novo, não tem como boiar. 

"É muito importante para nós que, com a Câmara, temos investido em infraestruturas no local", como uma churrasqueira, bar e parque de merendas, disse o presidente da Junta de Freguesia de Portela do Fojo – Machio, Henrique Fernandes Marques, citado pelo "Diário de Notícias".

Portugal está a passar por um período de seca extrema, o que faz com que a produção de eletricidade fosse suspensa em cinco barragens (Alto Lindoso, Touvedo, Vilar-Tabuaço e Cabril/Castelo de Bode) e a agricultura esteja em risco. A Federação Nacional de Regantes de Portugal (FENAREG) já pediu ao governo para tomar medidas que contornem o impacto da seca na produção.