Ouvir André Ventura é ouvir os mesmos argumentos a cada entrevista e a cada debate. A observação foi feita por Manuel Luís Goucha que o recebeu na tarde desta quinta-feira, 7 de janeiro, no "Goucha", o seu novo programa das tardes da TVI que, a partir de agora, irá contar com a presença de todos os candidatos à Presidência da República. "Você repete os mesmos argumentos a cada debate", argumentou o apresentador à medida que o ouvia o candidato presidencial a denunciar "o problema que existe com a comunidade cigana" ou aquilo que Goucha diz ser "uma tática habitual da extrema-direita de cavalgar nas imperfeições da democracia".
O candidato extremista André Ventura, no entanto, refuta esta ideia e prefere antes falar numa "direita anti-sistema". "Criámos esta ideia de que qualquer político que defenda a redução do subsídios para quem não quer fazer nada ou que as minorias têm um problema é um fascista. Criou-se esta cultura na Europa e custa-me, porque é um ataque vil quando me chamam fascista sem rebater os meus argumentos", começou por dizer André Ventura.
Na tentativa de rebater, Manuel Luís Goucha argumentou que a "democracia significa inclusão" e que Ventura combate as minorias tomando a parte pelo todo. "Procuro não o fazer, Manuel", respondeu o candidato. Na verdade, e olhando para as declarações do candidato no passado (e no presente), o que se encontra é um discurso inflamado e repleto de generalizações.
Foi, aliás, uma generalização que lhe valeu uma multa por descriminação racial ainda em dezembro. Na altura, o líder do Chega escreveu: "Quase 90% da comunidade cigana vive de ‘outras coisas’ que não o seu próprio trabalho. Enquanto não percebermos que há aqui um problema estrutural de subsidiodependência e de não integração deliberada, ele continuará a crescer descontroladamente”, escreveu na altura o líder do Chega.
A decisão veio da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que ordenou o pagamento de uma multa de 3.370€ que André Ventura fez saber, na altura, que não iria pagar.
Confrontado com as acusações de que era fascista e extremista, André Ventura respondeu: "Acha que dizer prisão perpétua é fascismo? Criou-se também esta narrativa de que somos contra os imigrantes, mas não somos. Até porque temos alguns dentro dos órgãos do partido. A Europa não pode afastar-se dos imigrantes que vêm para fugir da morte e da guerra. A diferença é que nós estamos abertos a eles, desde que venham para trabalhar e para cumprir as regras".
Quando Manuel Luís Goucha acusa o candidato de "cavalgar nas imperfeições da democracia", aquela que considera ser uma "tática habitual da extrema-direita", Ventura nega e apoia-se na argumentação de ser anti-sistema e de querer um País livre. "Mas estamos num País livre e que vive em democracia. O Chega existe, quer maior exemplo do que esse?", respondeu o apresentador.
Mas Manuel Luís Goucha acusou ainda o candidato e líder do Chega de se vitimizar quando este se queixava de ser perseguido pelas posições que toma. "Nunca houve um líder tão perseguido como André Ventura. É inacreditável. O meu conforto é que, com estes ataques, chego a casa ao final do dia, vejo as sondagens e vejo que ainda há esperança para Portugal."
Na reta final da entrevista, o apresentador aproveitou ainda para abordar o comentário, em tom de ameaça do candidato a José Castelo-Branco quando, na sua conta de Twitter, escreveu: "Mesmo em Nova Iorque, se eu ganhar as eleições, não te safas mais neste País". Levado a justificar-se, André Ventura diz que não se tratou de uma ameaça. "Não é uma ameaça. Ele não se safaria com aquele estilo pindérico. Se eu for presidente, o país vai acordar de tal maneira do ponto de vista civilizacional, que aquele cidadão não vai ter lugar em Portugal".
"Mas ele tem todo o direito de ser como é", respondeu o apresentador. A resposta do candidato? Que tinha todo o direito de dizer que o estilo do socialite era "pindérico".
No final da entrevista, André Ventura diz acreditar numa missão que lhe foi dada por Deus. "Deus deu-me essa missão de mudar Portugal e eu sinto-a dentro de mim. Rezo, como todos os católicos, e sinto que Deus me quer neste papel de transformar o País."