Novos dados do Observatório Nacional do Bullying (ONB), organismo criado no início de 2020, apontam para um aumento exponencial da violência psicológica nas escolas. Segundo as denuncias que chegaram ao ONB, 92,10% referem-se a casos que implicam violência psicológica, 66,60% implicam também bullying social, apenas 50,40% dos casos implicam violência física e os casos de bullying com uma componente sexual ficaram nos 9,30%. Ainda que a violência física continue a representar metade das queixas, a violência psicológica e social já atingem valores superiores.

ONB foi criado há precisamente um ano, a 30 de janeiro de 2020, com objetivo de "recolher informação sobre a ocorrência de situações de bullying em Portugal, em diversos contextos", seja presencialmente nas escolas e imediações ou online. Quanto a este aspeto, o observatório constatou que maior parte das situações de bullying acontece presencialmente (74,20%), principalmente no recreio (60,40%).

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As denúncias são feitas através de um questionário online do ONB por testemunhas e vítimas ou ex-vítimas de bullying e os dados agora revelados foram recolhidos durante 2020 — ano em que se registou um total de 407 queixas, na maioria apresentadas por encarregados de educação das vítimas ou ex-vítimas (67%) e concentradas nos distritos de Lisboa e Porto (45,20%).

A maior parte das situações de bullying acontece tendo raparigas (249) como vítimas, enquanto os rapazes são os principais agressores (211). As idades mais comuns são entre os 12 e os 13 anos.

De acordo com o ONB, uma iniciativa da Associação Plano i, criado por quatro psicólogas e uma advogada, os principais motivos para agressões estão relacionados com o aspeto físico (51,80%) e ainda com os resultados académicos (34,90%).

Estes números dizem respeito a um ano atípico no ensino, umas vez que entre março e abril vigorou o ensino à distância. Mesmo assim, durante este período relativo ao primeiro confinamento generalizado no País, o Observatório Nacional do Bullying recebeu a denúncia de quatro casos de ex-vítimas e um de uma vítima, que persiste desde 2017.

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Em 2019, já tinha sido divulgado um relatório sobre violência no namoro, cujas tendências se assemelham aos dados agora revelados sobre bullying em Portugal. Grande parte dos casos de violência no namoro (87,8%) diz respeito a violência verbal e a psicológica encontra-se na ordem dos 75,7%. Já a física, corresponde a 27% dos casos de bullying. Relativamente ao género das vítimas de violência, há também maior incidência nas raparigas (89,2%, um total de 66) e os rapazes são os maiores agressores (91,9%, um total de 68).

A Associação Plano i, sediada no Porto, trabalha ativamente no sentido de sensibilizar para a prevenção do bullying, da violência no namoro e ainda para promover a igualdade e a inclusão entre a comunidade.