"A pessoa que come bochechas de porco só com salada. Acha que é isso que faz o prato ser saudável?", "Paizinhos das criancinhas que deixam o resto do Perna de Pau dentro da chávena do café. Espero que nunca saibam o que é ter uma perna de pau" e "A pessoa que é cliente há anos e que todos os dias pergunta o preço do café. Deve pensar que isto é a taxa Euribor" são algumas das frases irónicas que pode encontrar na conta de Instagram Café de Bairro.
É o retrato irónico, bem-disposto, por vezes cáustico, das manias irritantes de clientes, de situações caricatas, de episódios hilariantes que podiam passar-se em qualquer café deste País. Mas passam-se num café específico, situado algures em Lisboa. A MAGG conversou com Carlos (nome fictício), autor do Café de Bairro. Carlos trabalha mesmo num café, algures em Lisboa, "num bairro onde há de tudo um pouco: gente rica, gente pobre, gente armada em rica". Esta é a atividade que tem para pagar as contas, embora a sua formação seja noutra área.
Porque é que decidiu criar a conta?
Decidi criar a conta quando me foi comunicado que o meu lay-off de 3 meses ia terminar. Começou a ter mais alguma atividade quando comecei a trabalhar. O facto de falar mal da patroa, que é um tema bastante recorrente, acontece por me ter baixado o ordenado sem me avisar previamente, apenas no dia de cair o ordenado na conta.
Como é que reúne estas experiências?
Existem pessoas que me questionam se o que é escrito é verdade. Mas sim! Tudo o que está na página aconteceu-me. Umas coisas mais antigas, outras mais recentes. E sim, são quase diárias, onde aponto tudo nas notas para, no futuro, não me esquecer de nenhuma pérola.
Já teve reações de pessoas do mesmo ramo?
A maior parte dos comentários e partilhas são pessoas que trabalham na área de restauração, turismo e hotelaria. Recebo muitas mensagem de pessoas a identificarem-se com as situações que são descritas na página.
"O atendimento ao público é sempre uma caixinha de surpresas, tanto de bom como de mau."
Já algum cliente desconfiou que estava a ser retratado?
Existem alguns clientes do café - poucos - que seguem a página, e alguns deles são protagonistas dos posts. Como também já perdi a conta aos colegas de trabalho que tive, muitos deles também me relembram das coisas mais inusitadas que aconteceram connosco. Claro que há pessoas que obviamente estão restringidas de ver o conteúdo, porque há situações bastante claras em que iriam perceber claramente de que café se tratava e isso, para já, não pode acontecer (risos).
Como é, em geral, trabalhar na área da restauração?
Eu vou ser muito sincero e toda a gente sabe o que eu penso sobre isto. Há pessoas que tiram formação nas áreas de restauração porque gostam realmente daquilo que fazem. Eu comecei na restauração por necessidade. Não tive nem tenho qualquer formação na área e até menti na entrevista de emprego ao dizer que tinha experiência e depois fiquei. Só continuo na restauração até conseguir ser autónomo financeiramente na área em que realmente tenho formação. Além de que tenho um horário fixo que me permite estar tempo de qualidade com a minha família. Em relação ao trabalho em si, é bastante exaustivo e o atendimento ao público é sempre uma caixinha de surpresas, tanto de bom como de mau.
Qual foi a situação mais caricata que já viveu?
Uffff, tantas. Na altura não teve piada nenhuma mas perto da hora de almoço, pouco tempo depois de começar a trabalhar, entornei 2 baldes de óleo em pleno café, com os clientes todos a chegar. Mas desde ter de avisar senhoras que não se podiam sentar em cadeiras de bebé do Ikea, até fazer bitoques sem carne, já me aconteceu de tudo.
Bitoques sem carne?!
Basicamente comeu batatas, arroz e ovo estrelado. Não consegui esconder a minha reação e ri-me na cara dela.