Estávamos em meados de 2019 quando, em média, o preço da habitação aumentou em cerca de 9,6%. Em agosto, aliás, as notícias davam conta de que o preço médio das casas em Lisboa se fixava acima dos 3.500€ por metro quadrado depois de, no segundo trimestre de 2018, se ter verificado um ligeiro abrandamento na subida de preços — ainda que tenha sido nessa altura que se venderam mais casas.

As freguesias de Santo António e Misericórdia foram consideradas as zonas mais caras da cidade e Marvila a mais barata. Era previsível, portanto, que 2020 fosse de grande crescimento para o sector. Só que a conjuntura atual provocada pela pandemia do novo coronavírus trouxe incertezas e dúvidas. Agora, o expectável é que as rendas venham a cair a pique.

Quem o diz é Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Ibérica, que garante que os proprietários de alojamentos vão ter de se adaptar à nova realidade já a partir dos próximos meses. "Os proprietários vão ter de se ajustar à procura, porque quem arrenda casa é quem não tem capital e os senhorios terão de se adaptar a esta nova realidade", explica em declarações ao jornal "Expresso",.

O drama de quem não consegue arrendar casa em Lisboa
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Mas Ricardo Sousa adianta ainda que fevereiro "foi o melhor mês de sempre" no sector e que em março ainda não se sentiu  qualquer abrandamento provocado pelo surto de COVID-19 no País. Mas o mais certo, continua, é que os efeitos da pandemia se comecem a sentir no sector — principalmente nas empresas especializadas no alojamento local.

“No último trimestre começou a ser visível a migração de algumas unidades para o arrendamento de longa duração. Casos de pessoas que criaram o próprio emprego e se confrontam agora com margens cada vez mais curtas”, explica.

E continua: “Quem tiver tesouraria vai conseguir ultrapassar esta crise, o problema será para quem tiver urgência de vender. Há sempre operadores que querem passar para o mercado de arrendamento. Quem tem várias unidades vai vender para fazer encaixe financeiro e recuperar perdas destas semanas, deixando uma para o arrendamento.”

Mas em que é que isto se vai concretizar, em termos práticos, numa altura em que não há investimento no negócio e o turismo do País está parado? Para o economista João Duque, citado pelo "Expresso", numa quebra nos preços das casas e nos valores das rendas à medida que Portugal se prepara para uma quebra no interesse turístico pelo País.

“Quanto mais tempo demorar a retoma da confiança, mais fácil será observar-se uma quebra, que já se verifica, no preço das casas e mercado de arrendamento. Vamos ficar com uma capacidade de oferta muito elevada. Após os atentados, pensávamos duas vezes antes de entrar num avião. Vai haver uma quebra no interesse turístico de Portugal. Os não-residentes, que estavam a comprar em força, vão demorar reconquistar a confiança.”

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Mas ainda que o impacto no sector só venha a ser conhecido nos próximos meses, Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, diz ao "Expresso" não ter dúvidas sobre qual vai ser a nova realidade: "O sector está suspenso, algumas operações foram adiadas, há muitas incertezas quanto às ondas de choque".

Por isso, garante que é certo que, pelo menos no imediato, os valores das rendas venham a cair a pique. "O arrendamento foi o mercado de refúgio quer da procura quer da oferta noutras crises, a verdade é que mal o mercado normalizou, a oferta saiu do mercado para venda ou outros regimes.”