Uma história partilhada por muitos dos voluntários e responsáveis da associação “Nuvem Vitória” é a da menina internada com graves problemas respiratórios que, na hora de se ir deitar, ao ouvir contar uma história, conseguia melhorar os níveis de oxigenação do sangue. A cada suspiro a acompanhar as personagens respirava melhor. Esta é uma das razões de existência desta associação, que se dedica a contar histórias à noite a crianças hospitalizadas, para ajudar a que tenham um sono mais descansado e reparador.
Dormir faz bem à saúde
São inúmeros os estudos que confirmam a importância da leitura, mais especificamente o contar de histórias, à noite, para as crianças adormecerem. Fazê-lo desde cedo traz benefícios não só no vocabulário, como também no desenvolvimento de competências de pré-leitura e competências cognitivas necessárias a uma aprendizagem escolar de sucesso.
Em caso de internamento hospitalar, esta rotina não só deve ser mantida, como promovida, já que pode ajudar a fazer com que as crianças durmam melhor, levando a uma recuperação mais rápida. “Há estudos que demonstram que há um impacto direto da privação de sono no aumento da produção de cortisol (a chamada hormona do stresse), que traz um efeito negativo na recuperação de doenças”, explica a psicóloga clínica Clementina Pires de Almeida. “A privação do sono potencia uma maior hipersensibilidade à dor e esta, por seu lado, não deixa dormir, criando um ciclo vicioso. Inclusivamente, a medicação pode perder o efeito neste combate à dor”, continua.
Em regime hospitalar, os ciclos de sono são interrompidos com o acender de luzes, com a necessidade de tomar medicação ou de acudir outros pacientes. Tudo o que promova ciclos de sono mais longos e reparadores é bem-vindo. É aqui que entram os voluntários da associação “Nuvem Vitória”: são formados para lerem histórias aos pequenos pacientes, de forma a que, através do imaginário, os ajudem a relaxar. “Prolongar as palavras ou simular bocejos ajuda a fazer essa integração sensorial, ou seja, a preparar o sono”, continua a especialista.
O outro lado da história
Apesar de reconhecermos a importância primordial do sono para a saúde, há dados que confirmam que ainda lhe damos pouca atenção. Um estudo realizado este ano pela empresa de estudos de mercado GFK e pelo LIDL – um dos cinco maiores retalhistas a nível mundial – demonstra que as crianças e os pais dormem menos do que seria recomendável e que as histórias para adormecer estão desaparecer das rotinas familiares. Da análise feita aos 500 questionários online, dirigidos a indivíduos entre os 18 e os 54 anos, pais de crianças entre 1 e 7 anos, verifica-se que apenas um terço das crianças até aos 7 anos dorme as 10 horas aconselhadas, e que dos 54% dos pais que leem histórias ao deitar aos seus filhos, 23% apenas o faz uma a duas vezes por semana.
“As sociedades atuais funcionam 24 horas por dia e não incentivam uma redução dos estímulos quando anoitece”, diz Teresa Rebelo Pinto, psicóloga especialista em sono. Acrescenta ainda que são diversos os estudos que revelam não só uma associação direta entre a redução ou privação do sono e o insucesso escolar, como um maior risco de acidentes e incidentes, níveis mais elevados de agressividade, maior consumo de substâncias, maior risco de depressão e perturbações de ansiedade, obesidade ou diabetes.
Sabemos, porém, que se nem todos temos os mesmos ritmos ou necessidades de descanso todos precisamos de um sono saudável. Mas isso o que é? “É aquele em que as pessoas dormem o suficiente para si, com horários regulares de deitar e levantar”, explica.
Há ainda outros indicadores: adormecer com facilidade e não acordar durante a noite, e ser autónomo na regulação dos horários de sono, ou seja, “saber quando são horas de começar a desligar das atividades do dia. Neste campo, a maioria dos adultos não o faz, prolongando o tempo de trabalho pela noite dentro”, revela Teresa Rebelo Pinto.
A verdade é que se fala em introduzir rotinas no quotidiano das crianças para que descansem as horas necessárias, mas são os adultos que têm maior dificuldade em fazê-lo. O mesmo estudo, realizado pela GFK e pelo LIDL, confirma-o: os pais de crianças até aos 7 anos dormem, em média, menos de sete horas por noite. “Encaramos as rotinas como algo aborrecido, mas são essenciais para o saudável funcionamento do nosso organismo. Podemos dizer que é uma forma de o nosso cérebro poupar espaço e energia. Se estivermos dessincronizados não conseguimos corresponder às nossas necessidades cognitivas, emocionais e criativas”, conclui.
Saber ajudar
Foi com base em todas estas evidências que o LIDL lançou a sua campanha de Natal que pretende alertar para a necessidade de se respeitar o sono e de reavivar a tradição de contar histórias às crianças ao adormecer, de forma a estreitar os laços emocionais e afetivos, favorecendo um melhor ambiente familiar. Este ano, pretende sensibilizar todas as famílias portuguesas a lerem histórias aos seus filhos para noites mais felizes e a integrar na rotina de uma vida saudável a preocupação com a qualidade do sono. A sua campanha de Natal solidária reverte a favor da Nuvem Vitória, contribuindo para que a associação desenvolva e promova mais materiais, ferramentas e competências que propiciem um ambiente favorável e equilibrado para uma noite de sono adequada às crianças hospitalizadas.
Até dia 30 de dezembro, por cada bolo-rei Favorina vendido, o LIDL dará 1€ à associação. Desta forma, nos próximos dois anos, será possível alargar para 10 o número de instituições que irão receber a visita das “nuvens” contadoras de histórias. Além disso, serão organizados mais dois núcleos de voluntariado no Grande Porto e em Lisboa. Até 2020, o objetivo é chegar a 50 mil crianças, com 900 voluntários.
Vamos encher este país de nuvens solidárias, fazer chover histórias por todo o lado e sobretudo colocar o país a dormir melhor.