A meio da noite, acorda com os gritos angustiantes do seu filho. Mas quando chega ao pé dele, repara que ainda está de olhos fechados, agitado, como se estivesse a ter o pior pesadelo do mundo. No entanto, se a teoria do sonho assustador pode parecer a mais acertada, a verdade é que a criança pode estar a passar pelos terrores noturnos, um fenómeno do sono frequente em miúdos entre os 9 meses e os 4 anos.

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Apesar de muito angustiantes para os pais, que acordam com os gritos dos filhos, e os encontram agitados, a chorar, transpirados e com o coração a bater rápido, os terrores noturnos "são uma etapa normal do desenvolvimento cognitivo da criança", salienta a pediatra Joana Martins à MAGG. "São um terror para os pais, que acordam aflitos, mas não para as crianças, que nem sequer estão a sonhar com nada assustador, nem têm memória do sucedido quando acordam. Não é uma doença, não tem consequências, nem tem de ser uma situação medicada."

Os especialistas não conhecem um motivo para o surgimento dos terrores noturnos, mas sabem que estes acontecem mais frequentemente nas primeiras três horas depois de as crianças adormecerem, num sono sem sonhos, o que acontece ao início da noite.

"É preciso entender que temos diferentes ciclos de sono, que se repetem. Na fase um e dois, o sono é ligeiro, na três e quatro, mais reparador, e depois entramos no sono REM [Rapid Eye Movement], que é a fase em que sonhamos. E é curioso perceber que só conseguimos sonhar se descansarmos, o que acontece principalmente na fase três e quatro. Os terrores noturnos surgem na primeira metade da noite, num sono sem sonhos, geralmente na fase três e quatro, longe do mecanismo do despertar", explica Joana Martins.

joana martins
créditos: Joana Martins é médica pediatra no Hospital Dona Estefânia

A especialista refere que os miúdos dão "gritos aflitivos e há muita agitação motora", mas continuam de olhos fechados, a dormir. "Há duas estratégias para tirar a criança desse ciclo. Ou são os próprios miúdos a acordar com os seus gritos, e temos apenas de estar junto deles para os acalmar, sendo que regressam ao sono rapidamente; ou temos mesmo de os acordar. É verdade que pode ser uma estratégia menos boa para crianças que têm dificuldade em adormecer, mas se não o fizerem por si e continuarem a gritar durante vários minutos, têm de ser os adultos a fazê-lo."

Acender uma luz de presença ou intensificar a luz, tocar no braço da criança ou falar num tom um pouco mais alto são estratégias para acordar os miúdos de uma forma suave, para que eles saiam do ciclo dos terrores noturnos e voltem a adormecer.

Pesadelos não são terrores noturnos

É muito frequente confundirem-se os dois conceitos, mas são coisas completamente diferentes. "Os pesadelos são sonhos de conteúdo assustador, mas são sonhos. Assim, acontecem durante o sono REM, mais frequentes a partir do meio da noite. As crianças — e qualquer pessoa —, já descansaram, já passaram por vários ciclos de sono, por isso podem ter pesadelos por volta das quatro da manhã, por exemplo", relata a pediatra Joana Martins.

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Ao contrário dos terrores noturnos, os miúdos podem ter uma memória fugaz dos sonhos. "Podem não conseguir invocar completamente o que aconteceu ou não ter capacidade narrativa para descrever todos os detalhes, mas lembram-se de algumas coisas, e principalmente que se assustaram", afirma a especialista.

É esperado que os terrores noturnos parem de suceder até aos 4 anos, e as crianças que têm episódios destes de uma forma mais frequente podem começar a falar durante o sono, o mesmo mecanismo dos sonâmbulos. A especialista recorda que "existem estudos muito interessantes que falam da relação da carga genética do sonambulismo com a frequência dos terrores noturnos". Ou seja, crianças que têm muitos terrores em idades mais jovens, podem revelar-se sonâmbulas no futuro. "Mas ter terrores noturnos não quer dizer que se tornem sonâmbulas obrigatoriamente, não acontece sempre", esclarece Joana Martins.

artigo originalmente publicado em 2020

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