Ainda não são conhecidas as medidas a serem aplicados pelo governo para o Natal, mas pelo menos nisto não há dúvidas: devido à pandemia, as lojas estão a antever um aumento em mais de 30% de vendas online em comparação com os anos anteriores, segundo as informações avançadas pelo "Jornal Económico". A explicação é simples. Para impedir o surgimento de novas cadeias de transmissão do novo coronavírus em Portugal, há quem prefira fazer as suas compras a partir de casa sem ter de se deslocar a locais de grande afluência — numa altura em que as diretrizes das autoridades de saúde desaconselham contactos e deslocações desnecessárias.

E embora a decisão seja sinónimo de algum conforto, na medida em que não tem de sair de casa, e segurança física, também é verdade que a preferência pelas compras online significa, invariavelmente, o aumento de burlas. Só em abril, durante o período em que o primeiro estado de emergência esteve em vigor, o "Portal da Queixa" registou 356 reclamações em contexto de burla e fraude decorrentes de compras online, traduzindo-se numa média de 16 queixas por dia.

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No entanto, há medidas relativamente simples que qualquer pessoa pode tomar para não ser enganada numa altura em que as caixas de e-mail são bombardeadas com promoções e ofertas aparentemente imperdíveis e que, apesar de aparentarem, nem sempre são legítimas.

Para Ana Santos, especialista em segurança informática, o principal passo para que se evitem burlas ou roubos de dados passa por entender que o principal obstáculo a pessoas mal intencionadas deve estar entre o ecrã do computador e a cadeira, ou seja, no utilizador — já que algumas das práticas de segurança dependem dele durante todo o processo.

A pensar nisso, a especialista listou uma série de conselhos de segurança para as compras online de Natal, mas que, reforça, são válidas para qualquer altura do ano.

1. Analisar as hiperligações dentro dos e-mails

Para Ana Santos, uma forma relativamente simples de evitar burlas ou roubo de dados passa por "conferir as hiperligações que surgem associadas a campanhas promocionais enviadas por e-mail".

"Quando, num e-mail, se carrega num botão para uma determinada oferta ou um desconto, é preciso que o utilizador se certifique de que aquele botão e aquele e-mail redirecionam o utilizador para o site oficial da loja. Ao passar o cursor do rato pelo botão que diz redirecionar para a loja oficial, a hiperligação escondida surge no canto inferior esquerdo do ecrã e é a partir daí que se torna possível identificar o local para onde aquele e-mail nos pretende enviar", explica à MAGG.

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Se o endereço for o mesmo do da loja a que queremos comprar um determinado produto, não há motivo de alarme. Caso contrário, a especialista recomende que não se entre no site. Caso entre, no entanto, evite preencher qualquer formulário com os seus dados pessoais.

2. Usar a funcionalidade de autenticação forte se o seu banco a permitir

A funcionalidade só passará a ser obrigatória a todos os bancos e prestadores de serviços a partir de 31 de dezembro. No entanto, há já várias instituições que a permitem e que pode ser ativada pelo utilizador.

No fundo, obriga a que, antes de qualquer pagamento online, o utilizador tenha de introduzir um novo código — que pode ser enviado por mensagem, por exemplo — para confirmar que, de facto, é ele quem está a autorizar um determinado pagamento. 

"O Banco de Portugal lançou uma campanha a alertar para a necessidade de aumentar a segurança dos utilizadores e promoveu a funcionalidade da autenticação forte. É só mais uma camada de proteção", refere, que pode evitar que o dinheiro da conta seja usado por terceiros para compras não aprovadas pelo titular em caso de roubo de dados.

3. Não guarde os seus dados bancários no histórico do seu navegador

"Nunca devemos guardar o número do cartão de crédito nem o código de segurança", alerta Ana Santos. A explicação é simples. "Ao fazê-lo, a verdade é que não sabemos exatamente quem tem acesso a esses dados, onde é que esses dados ficam armazenados e de que forma estão seguros".

Ainda que haja uma conveniência associada ao guardar os dados bancários dentro do navegador, na medida em que não precisa de voltar a preencher os seus dados durante uma próxima compra, a especialista em segurança informática não tem dúvidas de que essa inconveniência é um mal menor.

4. Sempre que possível, use cartões "descartáveis"

"Recomendo sempre o uso de cartões descartáveis, funcionalidade que está presente no MB Way, por exemplo, porque após um determinado pagamento, o cartão é automaticamente destruindo sendo impossível haver qualquer transação associada àquele cartão", explica.

Para Ana Santos, esta é uma alternativa a considerar para quem ainda não tem ao seu dispor a funcionalidade de autenticação forte, na medida em que impede o utilizador de dar o número do seu cartão real, uma vez que este é camuflado por um número virtual associado à sua conta e cujo cartão é automaticamente destruído após cada transação.

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Esta funcionalidade está disponível em serviços como o MB Way ou o Revolut. "Neste momento, faz todo o sentido este tipo de utilização que dê o controlo total ao utilizador", defende.

 5. No ato da compra, evitar redes de Wi-Fi públicas

Outro dos conselhos é evitar as redes de Wi-Fi públicas, como as de hotéis ou restaurantes, de livre acesso a qualquer pessoa dentro do espaço. Além de não se saber com exatidão qual o nível de segurança dessa rede, Ana Santos diz ainda que, por ser uma rede aberta, não há a garantia de que os dados estejam seguros.

É que por se tratar de uma rede livre, sem palavra-passe de acesso, é possível que haja alguém mal intencionado dentro da rede a monitorizar o tráfego e a ter acesso, em tempo real, a todas as informações pessoais — como dados bancários — do utilizador durante uma determinada compra.