Nas palavras do psicólogo António Castanho, as crianças vítimas e expostas à violência doméstica têm sido no sistema "silenciosas", "esquecidas", "secundárias". Mas a realidade é elas são verdadeiras vítimas: as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens receberam 12.645 comunicações por exposição à violência doméstica em 2019 — valor que é superior ao dos anos anteriores —, sendo que os menores constituem, junto das mães, quase 50% das pessoas acolhidas em nas estruturas da Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica, composta por 133 estruturas, que fornecem apoio jurídico, psicológico e social.
Por isso, mais de dois milhões de euros vão reforçar esta rede com profissionais especializados no apoio psicológico a crianças e jovens vítimas de violência doméstica, avança o "Público", jornal que dá conta do enquadramento anterior.
Este reforço passa por garantir que as crianças não constituam "meras testemunhas entre familiares" e que possam ver reconhecido o estatuto legal de vítima. O paradigma tem de mudar: é que além de muitas vezes as crianças serem as principais vítimas, há ainda aquelas que "carregam as cicatrizes emocionais de testemunhar o terror que existe em torno delas", diz António Castanho, citado pelo mesmo jornal.
"Algumas são agredidas violentamente quando tentam intervir para acabar com a violência, outras são usadas como parte da vingança e do ciúme que pode surgir quando um dos progenitores tenta reconstruir uma ‘nova’ vida para si e seus filhos. Tragicamente, algumas morrem.”
É preciso intervier de modo a auxiliar, uma vez que o impacto gerado por estas situações deixa marcas grandes, capazes de influenciar o curso de vida. Segundo António Castanho, investigações indicam que crianças que tenham sito vítimas ou expostas à violência doméstica têm maior risco de desenvolver perturbações do humor, de ansiedade, transtorno de stress, abuso de substâncias e problemas académicos — sem esquecer a possibilidade de replicarem o comportamento.