As discotecas preferem manter as portas fechadas do que adotar a legislação aprovada no final de julho em Conselho de Ministros, criada para dar uma alternativa a estes espaços, encerrados desde março. As medidas novas impõem ao setor um regime de funcionamento idêntico ao das pastelarias e dos cafés. Na região de Lisboa estabeleceu-se o encerramento obrigatório às 20 horas, enquanto no resto do território continental o fecho é à uma hora da manhã.

Mas isto não equivale à reativação do setor, como já veio frisar Mariana Siza Vieira, ministra da presidência de Estado e de Presidência: os bares e discotecas não podem retomar a atividade normal, podendo apenas funcionar como outros estabelecimentos comerciais.

O setor continua indignado. "Isto não vem resolver nada. É uma resposta e faz com que permaneçam os mesmos problemas no setor. O que diz é que as discotecas têm de continuar fechadas", disse José Gouveia, da Associação Nacional de Discotecas, à Agência Lusa. "Quem achou que o podia fazer já o fez ainda antes desta determinação, mas insisto que no caso das discotecas, pelas suas características, é totalmente inviável. Aquilo que precisamos é de um apoio porque a nossa situação está insustentável."

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João Fernandes, empresário e artista conhecido como Deejay Kamala, proprietário de três discotecas em Lisboa, diz que esta readaptação "está fora de questão", considerando que a medida do Governo serviu para "atirar areia para aos olhos da comunicação social".

Adianta que apenas os bares readaptaram a sua atividade para poder fazer venda na rua, porque para as discotecas as novas regras não são viáveis. "O foco de qualquer discoteca é entre a 01:00 e as 05 horas. Não há nenhuma discoteca que consiga funcionar até às 20 horas."

No norte o horário é mais alargado do que em Lisboa, mas a história repete-se: nem Plano B, nem Pérola Negra, nem Indústria. Nenhuma discoteca reabriu nos moldes de uma pastelaria ou de um café. "A nova possibilidade não é só a questão do horário [limitado até à 1 hora], é a limitação de dizer que tem de por mesas na pista. Por amor de Deus, uma discoteca é uma discoteca. As mesas não dançam, nem consomem, nem faturam", disse à Lusa António Fonseca, presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, que caracterizou como "ridículas" as regras.

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No Algarve, igual. "Ninguém aderiu a isso porque as discotecas têm como horário de abertura o horário que nos foi dado para o encerramento. Já foi o tempo, nos anos 1980, que abria a discoteca às 22 horas. Agora não, agora temos as discotecas a abrir às meia-noite ou à uma, aliás as pessoas só vão para a discoteca depois de estarem nos bares e os bares agora também têm um horário mais alargado", disse Liberto Mealha, presidente da Associação de Discotecas do Sul e Algarve.