Quando o pai se reformou, depois de toda uma vida como diretor de uma escola, Elena Durán e o irmão ficaram preocupados. Afinal, o pai tinha 60 anos e muita vontade de se sentir ativo, ainda que inserido numa sociedade que pouco tem para oferecer a esta faixa etária.
Não tem, mas devia e são os números que o dizem. Portugal tem 3,5 milhões de pessoas com mais de 55 anos e, dessas, 2,5 milhões estão inativas, seja por desemprego ou por já estarem reformados.
"Os 55 anos de agora, não são os 55 anos de há décadas. As pessoas com esta idade ainda têm imenso para dar, falta é oportunidade para isso". explica Elena. E foi exatamente esta oportunidade que a especialista em marketing criou, aos 35 anos, ao abandonar o emprego em gestão, marketing, vendas e estratégia na Unilever, para criar a 55+, um projeto social que visa reintegrar pessoas com mais de 55 anos desempregadas e reformadas no mercado de trabalho, através da partilha de know-how e prestação de serviços ao público em geral.
O site está pronto desde o final do ano passado e, até agora, são mais de 200 as pessoas com mais de 55 anos inscritas. "Falámos com juntas de freguesia, centros de dia e a Santa Casa da Misericórdia, mas a grande surpresa tem sido ver pessoas que individualmente nos contactam a dizer que estão disponíveis para trabalhar", refere, aproveitando para explicar que, ainda que o serviço esteja só disponível em Lisboa, há já elementos de outras zonas do País em lista de espera para quando a plataforma abranger outras regiões e até outros países, uma vez que Elena, sendo natural de Andaluzia, sul de Espanha, tem noção que este problema não é um exclusivo português.
Até chegarmos a essa fase, há até quem não se importe de pagar a deslocação dos "especialistas" — designação que Elena dá às pessoas inscritas no site — só para ter os serviços prestados a preços competitivos. "Fazemos questão que todos recebam um preço justo mas, no final, o cliente também sai beneficiado, uma vez que os preços são um pouco mais baixos do que os praticados habitualmente", garante Elena.
Os serviços disponíveis são os de jardinagem, pet sitting, aulas de música, pequenas reparações, apoio familiar a séniores, como acompanhar numa consulta médica ou numa ida ao supermercado, e a crianças, com a possibilidade de prestação de serviço de babysitter ou ir buscar e levar à escola, por exemplo. No entanto, aquele que tem tido mais procura é mesmo o de ter um chef em casa. Neste caso, pode contratar alguém para ir a casa e preparar as refeições da semana ou simplesmente escolher um dia especial, seja um jantar a dois ou com amigos, e ter alguém que lhe prepare o jantar, com ementa personalizada.
Os preços são calculados por hora de serviço e, no caso do chef em casa, podem ir dos 8€ por uma hora aos 75€ por um pack de dez horas. Já o serviço de jardinagem, outro exemplo, funciona também no sistema de uma hora por 5€ ou em packs de dez horas a 46€.