Para quem é seguidor assíduo de João Jonas pode pensar que, pela qualidade dos vídeos e ideias, o canal do youtuber foi sempre assim. Mas a verdade é que não. O primeiro vídeo do jovem de 21 anos, publicado em 2013, foi sobre Oreos, com a sua primeira câmara e editado no Movie Maker, sem grande qualidade. Hoje, o criador da série partilhada no YouTube, "Escola dos Youtubers", tem 110 mil seguidores e é a nova cara da marca de mochilas CoolPack.

Dorme apenas quatro a cinco horas por dia, está na faculdade e ainda trabalha 30 horas semanais numa loja. A tudo isto, acrescenta o amor pelos vídeos e todo o trabalho e projetos no YouTube. A concorrência existe, mas João Jonas não sente que faça parte do grupo de youtubers que luta pelos melhores números e parcerias. Para já, a única preocupação é ser ele próprio.

Quando é que começou a fazer vídeos?
Tudo começou em 2013. Na altura tinha entrado para o Curso de Teatro no secundário e achei que o YouTube poderia ser uma boa plataforma para me dar a conhecer às pessoas, explorar a minha criatividade, pois desde de que me lembro que gostei de vídeo.

Qual é a melhor parte de ser youtuber?
Acho que a melhor parte é podermos expressarmo-nos livremente, e podermos ser uma voz que chega a muita gente.

E a pior?
A pior parte são as expectativas que criamos relativamente em relação a um certo tipo de conteúdo, que depois acaba por não ter o feedback que achávamos que ia ter. Aprender que existe também momentos de altos e baixos. Lembrarmo-nos sempre que trabalhamos para um público é fundamental e acho que o mais importante é pensar: “O que é que as pessoas querem ver?”, sem deixarmos de ser fiéis a nós próprios e à mensagem que queremos passar.

Já consegue viver só do Youtube ou tem outro trabalho?
Não, infelizmente ainda não consigo viver só do YouTube. Sim, tenho um trabalho. Trabalho numa loja.

João Jonas é a nova cara da marca de material escolar CoolPack

Quanto tempo demora a gravar um vídeo?
Depende muito do tipo de vídeo que vou gravar, se for um vlog simples a falar para a câmara sobre um tema em específico, uns 20 minutos. Se for algo mais pormenorizado como um sketch, com falas e tudo, demoro cerca de um dia, para escrever, gravar e editar.

Em que é que se inspira?
A maior parte das minhas inspirações são ideias que surgem literalmente de piadas que faço no meu dia a dia enquanto convivo com os meus amigos ou situações que me acontecem e eu decido reproduzi-las de uma forma mais ampliada.

Como surgiu a ideia do projeto "Escola dos Youtubers"?
É a primeira vez que vou confessar isto, mas naquela altura tinha acabado um relacionamento e não estava bem. Costumo dizer que é quando estamos mais frágeis ou emocionalmente mais instáveis que somos mais criativos.

Estava no sofá, a tentar motivar-me a voltar ao YouTube e a pensar em conteúdos sobre o regresso às aulas, e caiu-me de repente o pensamento: “Era incrível se os youtubers andassem todos juntos na mesma escola!”. E foi basicamente isto. Liguei para cada um dos youtubers que faz parte da série, expliquei o conceito, eles gostaram e criámos o primeiro vídeo que era para ser só aquele. Entretanto, teve uma adesão que nunca esperei, mesmo, e assim decidimos transformar isto numa série.

Como está a ser o feedback do público?
O feedback é incrível e é cada vez maior. As pessoas identificam-se com aquelas personagens! São todas tão diferentes e o mais importante, que vejo refletido em cada episódio e sempre quis fazer isso desde o início, é a mensagem que cada um deles tem.

Em cada episódio quero sempre abordar um tema e passar uma mensagem, acho que isso é importante, e é importante que a série também seja educativa. Na realidade, o que mais desejo é que para quem vê pense: "Eu poderia ser aquela pessoa".

Porquê a transição dos vlogs para a ficção?
Desde sempre que queria usar o meu canal do YouTube para criar os meus próprios trabalhos enquanto ator. Estou numa área que não é fácil e são muitos cães ao mesmo osso. Não estou à espera que alguém olhe para mim e pense “este gajo até é capaz de ter potencial!”, prefiro criar uma via de poder fazer o que gosto e mostrar às pessoas o meu trabalho. Criar as minhas próprias oportunidades. Acho que foi um risco que teve resultado.

O criador da 'Escola dos Youtubers' teve a ideia numa altura mais sentimental

Como é lidar com a fama?
Acaba sempre por ser um bocadinho constrangedor. Muitas vezes quando me abordam, eu nunca sei muito bem o que dizer. Tento sempre ser acessível, mesmo nos dias menos bons.

Recorda-se de alguma história engraçada de pessoas que o abordam na rua?
Bem, as mais engraçadas acabam por ser mesmo as que acontecem no meu local de trabalho. Os pais entram na loja com os filhos, e eles fazem uma cara de denúncia: “Eu conheço esta pessoa!”. Na maioria das vezes não acreditam e chegam mesmo a perguntar se realmente sou eu. Acho que eles ficam espantados por ser uma pessoa real e realmente ter um trabalho como toda a gente. Acho que a palavra já se espalhou e as visitas à loja são uma constante. Tudo bem, os meus chefes gostam e apoiam o que faço, nisso por acaso tive muita, muita sorte.

Já foi nomeado para dois prémios, o Play Award Revelação 2018 e o Play Award Série de Ficção 2018. Confiante?
Acho que em ambas as categorias há candidatos à altura. Tenho noção de que o formato da série é uma coisa vibrante e nova, estou confiante por causa disso. Relativamente à revelação, seria um prazer enorme recebê-lo, seria uma mostra que todo o trabalho tem realmente frutos. Que por muito mais que durma apenas quatro a cinco horas por dia, que esteja a estudar na faculdade, trabalhe 30 horas semanais numa loja e ainda arranje tempo para fazer vídeos, esse trabalho é recompensado.

Porque é que decidiu aceitar o convite da CoolPack para ser a nova cara da marca?
Sempre fui viciado em material escolar... lembro-me de quando era pequeno receber os catálogos do regresso às aulas em casa e marcar círculos à volta de tudo o que queria comprar. Às tantas já tinha mais de metade das páginas com círculos, eu queria tudo. Acho que o conceito da marca é super fun e por isso também me identifico muito. Não foi difícil dizer que sim.

João tem 21 anos, estuda e trabalha numa loja

Que outros projetos tem daqui em diante?
2019 é um ano de muitos projetos que pretendo concretizar, sendo que estou mais focado num deles. Tenho trabalhado nele desde dezembro do ano passado, estou muito ansioso para que salte cá para fora e para ver a reação das pessoas. A seu tempo tudo se saberá.

Sente que existe muita concorrência no mundo do YouTube?
Sinto que existe alguma sim, não desminto. Mas sinto que pelo menos eu, desde sempre, tentei passar uma mensagem de que realmente devemos ser uma comunidade. É natural que quando muitos vivemos disto, queremos ter os melhores números, os melhores conteúdos, as melhores parcerias, o que acaba por ser quase uma luta de quem chega mais longe. Felizmente não me incluo. Acho que há quem pense assim, mas também há muitos youtubers que simplesmente vão fazendo o seu conteúdo sem se preocuparem muito com isso.

Que conselhos pode dar a quem está a começar?
"Do what you wanna do". Basicamente é isto. Faz o que te apetecer, desde que sejas autêntico e realmente gostes do conteúdo que estás a criar — essa imagem vai passar para quem vê.