Cátia Silva organiza casamentos mas, se pudesse, tinha uma outra profissão. Ou melhor, criava ela uma nova profissão. "Seria fura-casamentos profissional. Era a minha maneira de poder ir a mais", brinca, ainda que se note ali um entusiasmo real com a possibilidade de poder estar presente em (ainda mais) umas dezenas de eventos do género.
Em miúda fazia recortes de revistas com as noivas que ia encontrando e lembra-se perfeitamente do dia em que, por se ter portado mal, a mãe a pôs de castigo. "Não me deixou ir a um casamento a que eles iam. Ela sabia que para mim não havia nada pior", conta à MAGG.
Ainda que tenha enveredado por uma carreira no ensino — é professora de primeiro ciclo — não admira que atualmente faça dos casamentos profissão. Mas não falamos aqui de casamentos tradicionais. Cátia criou a empresa Bad Bad Maria e dedica-se a preparar o dia com que os noivos sempre sonharam. "Quando me perguntam o que é isso de um casamento alternativo, respondo: é o que vocês quiserem". Podem já antever que uma resposta dessas dá largas à imaginação de quem procura que o dia seja único.
Cátia dividiu o casamento em três festas
Antes de começarmos a apresentar o que Cátia pode fazer num casamento, comecemos por contar o seu. "Casei três vezes", diz-nos. Não é que com 38 anos seja algo impossível, mas mesmo assim seria peculiar. "Com a mesma pessoa", acrescenta. Ah, bom.
Enquanto professora, Cátia já trabalhou em Angola, Moçambique e Macau e foi exatamente na Escola Portuguesa de Macau que conheceu Carlos, com que organizou as tais três festas de casamento.
Como sabia que se viesse a Portugal, a família ia insistir em fazer um casamento tradicional, Cátia e Carlos decidiram que seria na Tailândia. Antes disso, casaram oficialmente, na presença do cônsul em Macau e depois rumaram a Chiang Mai, acompanhados de um grupo de 50 familiares e amigos, entre eles a avó de Cátia que, com 76 anos na altura, não quis faltar aos dois primeiros casamentos da neta, não sabendo ainda que havia um terceiro na calha.
Quando vieram a Portugal de férias, as tias de Cátia começaram a pedinchar-lhe um casamento onde todos pudessem estar presentes. Cátia aceitou, na condição de ser feito à sua maneira. Não houve igreja, véu e grinaldas, e a cerimónia foi toda feita no jardim da casa da avó, com quermesse e rifas, bolo feito por uma amiga, churrasco e comes e bebes trazidos por todos.
Ideias não lhe faltavam e os amigos começaram a aproveitar-se delas. "Um deles, ainda em Macau, deu-me mil patacas [o equivalente a cem euros] e disse-me: 'Organiza-me o casamento". Claro que foram precisas mais do que aquelas mil patacas, mas Cátia conseguiu dar um toque personalizado à festa. Havia decoração alusiva à saga Star Wars, arranjos de mesa feitos com grãos de café e surpresas para os convidados à base de chocolate e whisky, reunindo assim alguns dos sabores preferidos do noivo.
A este foram-se juntando outros pedidos de ajuda e Cátia percebeu que a coisa podia ficar séria. Criou uma página de Facebook da Bad Bad Maria — já lá vamos ao nome — até ao dia em que se viu obrigada a deixar de lado a escola para se dedicar a este projeto que começou em Macau e viajou consigo até Portugal, para onde Cátia veio viver há um ano, ainda que se mantenha entre os dois países, até porque lá está ainda o marido e muitas festas para organizar.
Projeto a crescer
A página de Facebook cresceu para um site e, num futuro próximo passará a empresa de comunicação para o mercado de casamentos. "Vamos ter um canal de YouTube, continuarei com o blogue para partilha de histórias e vamos agregar uma lista com os melhores fornecedores do mercado", explica Cátia. Além disso, depois de ouvir tantas vezes a expressão “este casamento é muito Bad Bad Maria”, Cátia decidiu registar a marca e criar uma outra, a Wedding Planner — Cátia Silva Wedding Planning, focada principalmente na organização de casamentos para estrangeiros que queiram casar em Portugal.
Aliás, um dos mais originais que ajudou a organizar foi precisamente o de um casal de brasileiros, em que a noiva apareceu na festa sem saber que era o seu casamento. "O noivo disse-lhe que vinham a Lisboa para um casamento de uma amiga dele e aproveitámos o momento em que ela foi à cabeleireira arranjar-se para preparar tudo. Quando chegou ao hotel, tinha o seu casamento à espera", conta Cátia.
Também já organizou um casamento num balão de ar quente, com metade da cerimónia em terra e outra metade no ar, tudo organizado por si, aproveitando o Festival de Balões de Ar Quente que acontece todos os anos no Alentejo.
Com tanta originalidade, também o nome tinha que ter uma história. Ora experimente fazer uma tradução direta de Bad Bad Maria. Exato. Mau Mau Maria era uma expressão que Cátia usava muito, enquanto professora, para chamar a atenção aos mais pequenos. Um dia, numa aula de português para chineses, e assumindo um inglês ainda pouco desenvolvido, disse aos alunos exatamente isso, 'Bad Bad Maria'. Quando cheguei a casa e contei aos meus amigos, eles riram-se imenso e um deles disse-me: 'Um dia que tenhas uma empresa tens que lhe dar esse nome'". E assim foi.