Ludmila, funcionária do lar de Reguengos de Monsaraz, foi uma das 18 vítimas do surto de covid-19. Antes de morrer, a 1 de julho, a funcionária enviou uma mensagem ao marido na qual dava conta da gravidade da situação: "Estou mesmo mal, vou ser ligada à máquina", escreveu a Adrian Istratuc, conforme revelado pelo jornal "Correio da Manhã" esta quarta-feira, 26 de agosto.

A mensagem, escrita no telemóvel, foi enviada juntamente com uma fotografia sua. Mila, como era tratada na terra pelos mais próximos, deixou o marido e três filhos: dois rapazes de 15 e 17 anos e uma menina de 5. O marido, 42 anos, mecânico de automóveis, fica agora sozinho com as crianças à sua responsabilidade e teme pelo futuro, apelando apenas a que lhe deem trabalho, uma vez nem tem, conforme revela ao "CM", direito a qualquer apoio do seguro do lar, a não ser no que diz respeito a comida.

Adian, em Portugal desde 2005, revelou ainda ao jornal ter a certeza de que foi no lar de que a mulher ficou infetada. "Foi lá que apanhou o vírus, de certeza. Dizia que os velhotes andavam com febre, perguntei-lhe se fizeram testes, disse-me que não, que andavam a tomar ben-u-ron. Quando caiu o primeiro no chão, uma velhota, percebemos que qualquer coisa não estava bem", conta.

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O vírus espalhou-se entre idosos e funcionários, e no caso de Ludmila, professora na Moldávia e em Portugal desde 2006, começou a ficar com tosse e febre alta, que não passava com os ben-u-ron recomendados. "Ficava pior de dia para dia. Começou a sentir-se mal no dia 16 de junho, já não foi trabalhar, e só a 19 ou 20 foi para o hospital. Devia ter ido logo", revela o marido.

Uma auditoria da Ordem dos Médicos realizada no contexto do surto de COVID-19 que provocou a morte de 18 pessoas no lar de Reguengos de Monsaraz atribuiu responsabilidade dos casos à administração, que, conforme apurado, não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS).

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O mesmo relatório dizia não era possível cumprir "o isolamento diferenciado para os infetados ou sequer o distanciamento social para os casos suspeitos", conforme divulgado pelo "CM" a 6 de agosto.