O Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) recebeu o dobro dos cadáveres que normalmente recebe com necessidade de autópsia. E triplicou o número de cadáveres que morrem em casa, em lares ou mesmo na rua sem que alguém os venha reclamar.
Trabalhadores de agências funerárias descrevem ao jornal "Observador "cenário de guerra" a que se tem assistido na sequência do aumento de mortes. Um destes funcionários relata o momento em que, num hospital da Grande Lisboa, foi necessário procurar dentro de um contentor o cadáver que iria ser enterrado.
“Não havia listas, estavam todos em macas. Então, eu e a minha mulher tivemos de começar a tirar as macas todas cá para fora e, com a luz do telemóvel, ler todas as identificações até encontrarmos a nossa. Parecia um filme. Um verdadeiro cenário de guerra“, disse.
Neste hospital, que nunca chega a ser identificado e onde o Observador esteve presente, existem seis contentores refrigerados alinhados lado a lado, junto à morgue, que funciona no piso inferior do edifício. "Os corpos são tantos que, para encontrar um deles, identificado por uma etiqueta, é necessário ir retirando um a um do interior até chegar ao que se procura. Depois, os corpos, colocados em macas hospitalares, voltam a ser colocados no interior, até que chegue mais alguém para os levar", descreve o "Observador".
Devido ao aumento de cadáveres em hospitais e no Instituto de Medicina Legal, que leva a um atraso na resposta das funerárias, o Ministério da Justiça anunciou o reforço “da capacidade de frio em 15 dos seus Serviços Médico-Legais, o que tem permitido garantir que os corpos que neles dão entrada direta sejam conservados adequada e dignamente”. Logo depois, solicitou a utilização do camião frigorífico da Protecção Civil para a preservação dos corpos", instalando-o na Academia Militar, perto do Instituto de Medicina Legal.
Francisco Corte Real, presidente do INNMLCF, diz ao Observador que a preservação dos cadáveres assenta em "três pressupostos: segurança, dignidade e privacidade", frisando que não quer “repetir as imagens que nos chegaram de outros países em março”. No entanto, sublinha o mesmo jornal, é precisamente esse o cenário que começa a montar-se em hospitais de Lisboa.
Em 2020, o INMLCF recebeu 10.476 cadáveres, mais 875 do que no ano anterior. Em janeiro de 2021, recebeu 1.445, mais 452 face ao período homólogo, em que se contabilizaram 993 entradas. Antes, a média era de 20 cadáveres por reclamar. A 3 de fevereiro de 2021, o número ia em 78, diz o jornal "Observador."
Normas para a realização de funerais mudaram
A Direcção-Geral da Saúde atualizou as regras para a realização dos funerais de pacientes com COVID-19, permitindo agora que se veja o corpo durante a cerimónia.
"Para a cerimónia fúnebre/funeral, o caixão deve preferencialmente manter-se fechado, mas caso seja esse o desejo da família, e houver condições, pode permitir-se a visualização do corpo, desde que rápida, a pelo menos 1 metro de distância", diz a norma da DGS.
"A visualização do corpo pode também ser conseguida através de caixões com visor. Em qualquer uma das situações, não é permitido tocar no corpo ou no caixão", adianta ainda a norma da Direção Geral da Saúde.