Foi preciso uma pandemia para que Marcelo Rebelo de Sousa fosse à televisão relembrar-nos importância das pequenas coisas durante o tempo da pandemia que, garante, nos mudou a todos. E tendo em conta que vivemos numa fase em que é preciso repensar valores, umas aulas de cidadania não podiam ter vindo em melhor altura.

A aula do Presidente da República, a primeira desde 2018, altura em que deu a sua "última lição normal" como professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, arrancou às 13h30 como parte integrante do projeto #EstudoEmCasa.

O projeto, decorrente de uma parceria entre o Ministério da Educação e a RTP, tem como objetivo a produção de conteúdos direcionados para alunos do primeiro ao nono ano de escolaridade que, devido ao surto de COVID-19 no País, estão impossibilitados de ter aulas presencialmente nas escolas.

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Mas porque a aula, como todas as outras,  foi feita em canal aberto, na RTP Memória, além dos miúdos, também os adultos sintonizaram o canal para ouvir as lições de Marcelo Rebelo de Sousa. Foi, aliás, esse o ponto que o Presidente da República começou por reforçar. "Nunca os pais e os avós estudaram tanto como nos últimos dias", referindo-se ao papel fundamental da televisão.

De olhos virados para a câmara, deu por começada a aula que iria consistir nas suas lições sobre a pandemia. Estas foram as lições mais importantes de Marcelo Rebelo de Sousa.

Lição #1. A coisa mais importante da vida é a vida

"A coisa mais importante da vida é a vida e a saúde", começa por dizer. Mais do que o desporto ou a educação, "nada é possível sem vida e saúde".

E por isso, continua, "devemos agradecer aos nossos médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos, porque todos eles foram excecionais e muitos deles tiveram de dormir fora de casa, longe das suas famílias, durante dias, semanas, meses, para não os contaminar."

Lição #2. A situação que vivemos, vivemo-la na Europa

Na segunda lição, Marcelo Rebelo de Sousa reforçou a necessidade de se pensar no surto da COVID-19 como um problema europeu e global e criticou a desvalorização de alguns países. "Ao início, a Europa também andou distraída e houve países que olharam para o vírus como se fosse só de algumas economias", incapaz de transpor fronteiras.

"A Europa percebeu e foi menos egoísta do que boa parte do mundo", explicou.

Lição #3. O agradecimento a quem nos permitiu ficar em casa

"Nesta epidemia, o vírus pegava-se com muita facilidade a gente de todas as idades", começou por explicar. Por isso, diz que muitos dos portugueses ficaram em casa durante semanas e meses. Mas recorda que isso só foi possível porque houve quem fosse trabalhar para que a economia não fosse travada.

"Houve quem tivesse de tratar do lixo, das seguranças, das comunicações, dos correios, das mercadorias. E nunca é demais agradecermos a quem trabalhou diariamente, e em risco, e possibilitou que ficássemos em casa", concluiu.

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Lição #4. A importância de seguir as medidas de segurança

"O vírus atacou toda a gente, mas sobretudo os mais idosos, os mais doentes. E a nossa obrigação, e a vossa — que são mais novos —, é não pensarem que são eternos e que não devem seguir as regras de saúde", referindo-se ao uso de máscara, aos cuidados de higienização.

Precisamente para proteger os mais idosos e as pessoas com várias doenças associadas.

Lição #5. O vírus atacou a todos, mas impactou de forma diferente

Nesta lição, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que embora o vírus contagiasse da mesma forma, o seu impacto era diferente consoante a situação sócio-económica do cidadão. "Atacou sobretudo os mais pobres, os mais fracos, os mais carenciados", refere.

E são esses os que têm menor "capacidade de resposta", porque "não têm teto ou têm casas sem condições, sem água e eletricidade" ou porque as condições de saúde não "são as mesmas que as vossas."

E ficou a vontade de "mudar um bocadinho o País".

Lição #6. A importância das pequenas coisas

"Vocês [referindo-se aos miúdos que assistiam a telescola] passaram semanas fechados em casa com os vossos irmãos, pais, avós e ficaram distantes de outros familiares, de amigos da escola. Nunca tinham estado tanto tempo longe deles."

Mas reconhece que isso, por vezes, "foi uma irritação, um cansaço" e até "uma guerra". Mas pede para que se olhe para o aspeto positivo: "Nunca nos últimos tempos tiveram tanto tempo juntos com os vossos irmãos e os vossos pais. Isso é uma sensação única porque mesmo quando não corre bem, a família é a família."

E conclui a lição: "Mudou muita coisa na vossa vida e descobrimos o valor das pequenas coisas. Quando não podíamos sair de casa, as pequenas coisas ganharam uma importância que geralmente não lhes dávamos. Nada é pequeno na vida. E só foi possível melhorarmos porque todos perceberam o sacrifício que tínhamos de fazer."