Portugal prepara-se para entrar num novo confinamento geral bastante semelhante ao de março de 2020. As novas medidas referentes à obrigação de permanecer em casa — que terá inicio às 00h desta sexta-feira, 15 de janeiro — foram anunciadas pelo primeiro-ministro, António Costa, esta quarta-feira, 14. Entre as restrições, encontra-se previsto o encerramento dos estabelecimentos culturais o que fez com que vários profissionais desta área rapidamente se manifestassem nas redes sociais sobre a situações.
Nuno Markl foi um deles, que, através da página de Instagram, acabou por fazer uma comparação inevitável relativamente ao facto de as cerimónias religiosas serem permitas e os espetáculos não. "A razão porque publico isto aqui, não é para defender que não se devam fazer cerimónias religiosas - sei o quão importantes elas são para muita gente, sobretudo em alturas como esta; a razão porque publico isto aqui é porque, mais do que nunca, continua a perpetuar-se a ideia - não exclusiva de nenhum partido ou orientação política - de que a cultura, já pelas ruas da amargura, é um luxo supérfluo, inútil", começa por escrever o humorista.
Na mesma publicação, Nuno Markl refere ainda o facto de o tema da cultura não ter sido abordado em nenhum dos debates presidenciais "sublinhando o estranho desprezo a que uma área tão importante e que dá trabalho a tanta gente, foi votado". Também na página oficial da "Comunidade Cultura e Arte" pode-se ler uma declaração do diretor da mesma — que foi posteriormente partilhada por dezenas de artistas, e não só — que sublinha que "uma país sem cultura é um país sem futuro".
"Foram mais de 18 debates para as eleições presidenciais, que terão lugar no próximo dia 24 de janeiro, e um dos temas mais discutidos foi o futuro; o futuro do país no nosso território, o futuro do país na Europa ou o futuro do país no mundo global, e não houve uma única pergunta, de nenhum moderador, sobre a cultura", afirmou Rui André Soares.
Nuno Markl refere ainda a forma "exemplar" como as normas de segurança e higiene têm sido postas em prática nos estabelecimentos culturais realçando que "as normas de segurança que serão usadas, por exemplo, em eucaristias não serão muito diferentes das que seriam usadas em teatros."
Também Rui Maria Pêgo, que recentemente fez parte do elenco do espetáculo "Avenida Q", não ficou indiferente à situação. "Durante seis meses fiz parte de um espetáculo de teatro que levou milhares de pessoas ao teatro em segurança. Fizemos apresentações de noite, à tarde, e até de manhã. As lotações foram reduzidas, os atores testados, as bolhas das pessoas com quem nos cruzávamos regidas de forma espartana", começou por escrever na rede social Instagram realçando ainda que durante estes meses ninguém ficou doente nem houve nenhum caso de Covid-19 entre os espectadores. "Ninguém discute a dificuldade do momento que atravessamos, ninguém põe em causa a violência que é transversal a todxs, mas a cultura não vale menos do que as cerimónias religiosas, ou do que eventos desportivos."
Tal como Nuno Markl, Rui Maria Pêgo destaca a forma como a cultura foi desvalorizada nos debates. "Convém lembrar que apenas um dos candidatos presidenciais - que eu saiba -, se debruçou sobre a cultura, esse eterno enteado enfezado escondido na despensa. Soubemos hoje que os espetáculos estão proibidos durante esta fase de confinamento geral. Repito: não houve casos em teatros ou cinemas. Mas haverá casos de pobreza extrema, fome, gente a ficar sem casa, muitas famílias que nem sequer têm caras conhecidas, e que provavelmente não poderão contar com apoios mágicos. Não duvido da exigência do momento, não argumento que a cultura vale mais do que os outros sectores que tantos desempregados vão gerar, mas não significa, certamente, menos.", rematou.
Diogo Piçarra decidiu também usar a rede social Instagram para falar em nome de todos os profissionais do setor, referindo que não pede "mais do que outras áreas, porque todas são importantes, cada uma à sua maneira". "Mais uma travessia no deserto, mais um mês de incertezas e sem garantias. Mais um completo abandono desta classe gigantesca e que tanto contribui financeira e emocionalmente. E na crista da onda é o silêncio, a falta de debate, discussão e sensibilidade por parte do ministério que nos representa", começou por escrever o cantor referindo que uma abertura de, pelo menos 5%, já seria "uma luz ao fundo deste túnel infinito para muitos que vivem na escuridão."
Relativamente às cerimónias religiosas, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) determinou a suspensão ou adiamento de batismos, crismas e casamentos, tendo em conta a gravidade da situação atual provocada pela pandemia. “Estamos conscientes da gravíssima situação de pandemia que vivemos neste momento, a exigir de todos nós acrescida responsabilidade e solidariedade no seu combate, contribuindo para superar a crise com todo o empenho”, lê-se no comunicado do Conselho Permanente da CEP desta quinta-feira, 14 de janeiro, citado pela "Renascença".
Deste modo, irão manter-se as “celebrações litúrgicas, nomeadamente a eucaristia e as exéquias”, mas “outras celebrações, como batismos, crismas e matrimónios, devem ser suspensas ou adiadas para momento mais oportuno, quando a situação sanitária o permitir”, indicam os bispos portugueses.
Também na rede social "Twitter" foram várias as personalidades e internautas que se manifestaram de imediato quanto às novas regras previstas para o confinamento que terá início às 00h desta sexta-feira.