O Parque Aquático do Almargem, em Viseu, deveria ter aberto em 2015. O projeto foi apresentado publicamente em meados de 2008 e, depois de um investimento de cerca de 25 milhões de euros, as obras chegaram mesmo a avançar a uma rapidez considerável. No entanto, e devido a uma série de acasos infelizes, os trabalhos de construção nunca foram finalizados e o complexo não chegou a abrir.
A ideia original para o complexo turístico previa a criação de uma piscina de ondas, uma piscina infantil e um spa onde estariam incluídos um ginásio, saunas, jacuzzi, banho turno e salas de massagem. Além de um restaurante, um salão de bowling e uma discoteca, estava ainda estipulada a criação de insufláveis, tobogãs individuais e escorregas rápidos.
Era, portanto, uma obra megalómana que pretendia dar vida à região. E talvez por isso o local tenha tanto interesse para os mais curiosos que, à saída da estrada Nacional 2 com sentido a Viseu, se deparam com o parque aquático facilmente visível no horizonte.
E o interesse tem gerado visitas. Prova disso é a quantidade de buracos existentes na vedação do espaço que, segundo Pedro (nome fictício), fotógrafo e um entusiasta pela procura de locais abandonados em Portugal e no mundo, visitou o espaço depois de conhecer a história infeliz que impediu que o negócio se materializasse em pleno.
"Tomámos conhecimento do local porque saíram notícias na imprensa que diziam que o projeto tinha falhado depois de um investimento de cerca de 25 milhões de euros. Como nessa reportagem não havia fotografias, isso aguçou ainda mais a minha curiosidade e tive de ir explorar", explica à MAGG.
Foi assim que, numa questão de dias, Pedro juntou três amigos e todos rumaram, em novembro, para Viseu. Quando lá chegaram, o que viram não deixava margens para dúvida: "O parque estava cheio de ervas por todo o lado e não parecia haver qualquer manutenção. A própria vedação estava danificada em vários pontos da rede, o que mostra que já entrou ali muita gente."
A sensação de quem já está a habituado a sentir-se sozinho neste tipo de complexos, na medida em que não há mais ninguém à volta, não fazem Pedro esquecer a mistura de sensações entre estupefação e pena sobre um projeto que, considera, tinha tudo para ser um sucesso.
As fotografias mostram que as obras já estavam muito avançadas com vários escorregas, piscinas e brinquedos finalizados e prontos a serem utilizados. Faltam os últimos retoques como pintar paredes que ainda deixam o tijolo visível a olho nu, por exemplo. Mas são os detalhes "mais incríveis" do espaço que Pedro guarda na memória.
"Explorei o parque todo, mas foi nos tubos que encontrei um elemento fantástico e que me surpreendeu. Estes tinham três ou quatro tipos de cores diferentes em círculo para dar uma sensação diferente a quem os usava. É um detalhe que mais nenhum parque aquático português usa, já que normalmente se opta por tubos opacos." Mas não esquece também o facto de o parque ser atravessado pelo rio Vouga, o que tornou a experiência ainda mais rica.
"Achei que a travessia pelo rio Vouga tornou a experiência ainda mais única", por não ser habitual. É essa característica, e o facto de, no plano original, as piscinas interiores serem aquecidas para poderem ser usadas o ano inteiro, que permitem Pedro afirmar que este seria um parque "que teria muito sucesso não só por ser diferente, mas por ser engraçado e original".
Mas apesar dos buracos na vedação, Pedro não encontrou vestígios de vandalismo. No entanto, especula que já terá havido episódios de roubo. É que embora não haja graffiti espalhados pelas paredes ou pelos escorregas, há pelo menos um armazém remexido que, especula o fotógrafo, terá servido de local de armazenamento para o material das obras.
É que dentro dessa unidade, dividida em dois pisos, o que se encontra são mesas, cadeiras, cabos e baldes de tinta. "A ideia com que fiquei foi que as mesas e as cadeiras serviam de apoio ao trabalhadores durante as construções e que, assim que as obras finalizaram, arrumaram os materiais ali dentro."
Como qualquer entusiasta da exploração sabe, Pedro também ia preparado para o perigo que está a qualquer esquina quando o assunto é entrar em propriedade privada e sem uma aparente manutenção. Embora o material seja relativamente recente, o fotógrafo diz que "antes de meter o pé onde quer que seja", olha uma, duas e três vezes.
"Quando visito um qualquer local aparentemente abandonado, vou sempre à procura do perigo e com o Parque Aquático de Almargem não foi exceção porque aqui também há perigos a ter em conta", diz, referindo-se à ponte que é usada para fazer a travessia do rio.
Ainda que seja de betão e esteja em bom estado, Pedro diz que, antes disso, há uma outra composta totalmente de madeira que "apodreceu".
"Essa pequena ponte de madeira tinha apodrecido mas, como as vigas eram visíveis, pus os pés nos sítios onde estavam as vigas e correu tudo bem. Mas claro que foi um risco que corri porque tive de a atravessar duas vezes, para ir e para voltar. Uma pessoa mais desatenta que não meta os pés no sítio certo sujeita-se a cair ao rio", adverte.
No entanto, e ainda que Pedro não tenha dúvidas em apelidar o Parque Aquático de Almargem como um local abandonado, Manuel Cruz, promotor e proprietário da propriedade, nega por completo esta definição.
Segundo conta, esta é uma ideia que tem prejudicado e muito as suas negociações com parceiros na Europa e em Portugal para desbloquear a situação e poder, finalmente, ter margem de manobra para arrancar de novo com o projeto.
"As informações que andam a circular na internet, de pessoas que visitam o espaço sem se informarem e que depois publicam dados falsos, já deu processos em tribunal. Porque isso tem afetado muito a nossa empresa nas negociações com parceiros em Portugal e no estrangeiro", explica o proprietário à MAGG.
E continua: "É que as pessoas veem essas informações e depois olham para o nosso discurso, que não reflete o que é publicado na internet, e acham que estamos a mentir. Quando não é o caso. Não é verdade que o Parque Aquático do Almargem esteja ao abandono. Está, sim, numa situação delicada devido a uma série de problemas, mas estão a ser feitos todos os esforços para que o problema seja resolvido o mais rapidamente possível dentro das condicionantes que existem."
As condicionantes, essas, decorrem dos problemas iniciais com o concurso público a que a empresa de Manuel Cruz concorreu para a procura de investimento para o projeto. Terá sido durante a obra que o Turismo de Portugal, devido a umas incorreções no concurso público, efetivou um corte significativo do investimento que obrigou à paragem imediata das obras.
"Não estamos de acordo com isso porque consideramos que fizemos tudo dentro da lei para validar todas as situações antes de avançarmos. Neste momento, estamos novamente em negociações com o Turismo de Portugal, embora também estejamos em tribunal devido aos cortes, para desbloquear o processo."
Devido às boas negociações que têm vindo a ser desenvolvidas até agora, e pelo facto de as obras já estarem num ponto muito avançado, é difícil para Manuel perspetivar uma data de abertura do parque. Mas garante não estar de braços cruzados e, muito menos, ter deixado o local ao abandono.
"Estamos com boas negociações com o Turismo de Portugal e cremos que dentro deste trimestre teremos possibilidade de concretizar todas as condições que nos permitam validar uma data de operações para podermos ter uma data de arranque e de finalização. Cremos que, no prazo máximo de um ano, conseguiremos abrir o parque", só que as negociações ainda não permitem fechar uma data de arranque nos trabalhos de construção.
Apesar de tudo, o proprietário do complexo turístico tem noção de que o espaço atrai visitantes e desvaloriza aqueles que dizem que o parque tem mau aspeto.
"A obra está parada, não tem formas de rendimento e, por isso mesmo, o parque está fechado. Mas isso não tem impedido as pessoas de rebentarem as redes da vedação, de abrirem os portões e de entrarem", e lamenta que haja quem tenha esse tipo de comportamento por ser grave, "constituir um crime" e por "pôr em causa as negociações e a seriedade da empresa."
Em conversa telefónica com a MAGG, Manuel Cruz insiste e reforça a ideia de que o parque Aquático do Almargem não está abandonado. E embora Pedro, o fotógrafo que entrou no espaço, não tenha visto ninguém a gerir a propriedade, Manuel Cruz garante que há uma equipa diariamente empenhada em recuperar o complexo turístico — e que os escritórios da empresa estão "mesmo ao lado da propriedade".
"O parque tem dono e os nossos escritórios estão mesmo ao lado. Embora não estejam dentro da propriedade, estão ao lado e é lá que, diariamente, são feitos os esforços necessários para que a situação seja desbloqueada o mais rapidamente possível", desabafa Manuel Cruz.
"Como as obras estão inacabadas, passa a ideia de que o parque está num estado muito mau, mas não é verdade. As obras estão em muito bom estado, só que não foram terminadas e mesmo a ponte de betão [referida por Pedro] está em bom estado. Queremos resolver isto o quanto antes, só que as decisões em tribunal demoram muito tempo. Mas as negociações estão a ser boas", conclui esperançoso de que o projeto que idealizou possa um dia ser finalmente aberto ao público.