Manuel Serrão está a ser investigado no âmbito da Operação Maestro. Aquilo que está em causa é um alegado desvio de 40 milhões de euros no Plano de Recuperação e Resiliência, destinados a promover têxteis portugueses – e terá utilizado parte desse dinheiro para viver num hotel de luxo.

O empresário, que foi esta terça-feira, 19 de março, alvo de buscas pela Polícia Judiciária, é suspeito de ter vivido no Hotel Sheraton, no Porto, durante oito anos. Esta terá sido residência permanente de Manuel Serrão entre 2015 e 2023, perfazendo um total de 372 mil euros.

Contudo, o empresário apresentou essas despesas como fazendo parte de um projeto elegível para apoios europeus. A informação foi avançada pelo "Diário de Notícias", tendo por base dados que constam nos autos da polícia, aos quais tiveram acesso.

Uma noite no Sheraton Porto para uma pessoa, em quarto deluxe com uma cama extra grande, custa 132€, de acordo com simulação feita no site para a noite de 22 a 23 de março, já com taxas incluídas. O estacionamento com arrumador tem um custo de 25€ por dia – e o mesmo se aplica ao valor diário do estacionamento no parque da unidade, que também pode ser pago à hora (2,40€).

Sai piscina, entra comida de conforto. O brunch do Sheraton Cascais até tem fonte de chocolate (e bebidas incluídas)
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Além de Manuel Serrão, a Operação Maestro fez com que fossem investigadas mais pessoas, como é o caso de Júlio Magalhães, o pivô da TVI que, esta terça-feira, 19, deixou voluntariamente a apresentação dos noticiários, algo que se deve manter até a situação ser tirada a limpo. Contudo, na investigação constam ainda nomes como António Silva, António Sousa Cardoso, Nuno Mangas e Katty Xiomara.

A investigação das autoridades sustenta que os suspeitos utilizaram uma teia de empresas, tendo o setor têxtil como base – já que Manuel Serrão esteve à frente da Associação Selectiva Moda entre 2015 e 2023 –, para fornecer faturas falsas e serem submetidas aos programas de financiamento de projetos como o Compete 2020.

As suspeitas recaem sobre 14 projetos cofinanciados por subsídios da União Europeia e levados a cabo entre 2015 e 2020. Em 12 dos projetos, a Selectiva Moda apresentou quase 14 mil documentos de despesa, que perfazem um total de mais de 71 milhões de euros. As autoridades de gestão consideraram elegíveis mais de 67 milhões de euros, aos quais corresponderam mais de 38 milhões em subsídio validado no âmbito do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

Da investigação em curso, resultaram ainda fortes suspeitas do comprometimento de funcionários de organismos públicos, fulcrais na agilização de procedimentos relacionados com as candidaturas e nos pedidos de pagamento, ajudando assim na gestão destes projetos.