O cenário ambiental em Portugal não é animador, de acordo com um novo estudo intitulado "Limites Ecológicos: O Impacto Intergeracional do Uso dos Recursos Naturais", encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian com o objetivo de perceber o impacto de cada geração na gestão de recursos naturais. O resultado? "Portugal já ultrapassou o limite em todas as categorias ambientais", dizem os autores da investigação.
Ao todo, foram analisadas sete categorias — alterações climáticas, poluição da água, consumo de água doce, produção e deposição de resíduos, poluição atmosférica, destruição da camada de ozono e pressão sobre os ecossistemas — e apenas esta última escapou aos limites relacionados com as alterações climáticas ultrapassados ao longo dos últimos anos, cuja principal causa é a relação entre a economia e o consumo, que quanto mais crescem, mais se afastam dos limites ecológicos. Contudo, este resultado não é assim tão animador.
"Isto apenas acontece devido ao facto de Portugal não ser autossuficiente em termos alimentares (relacionado com o sucessivo abandono agrícola que foi ocorrendo desde a entrada na União Europeia). Num cenário do aumento do grau de auto-aprovisionamento alimentar, este limite seria facilmente ultrapassado", refere o estudo a que o jornal "Público" teve acesso.
A investigação tinha como principal propósito perceber como é que os recursos têm sido usados pelas várias gerações e o que resta para as seguintes e o que foi apurado é que são as mais velhas que "têm impactos ambientais per capita mais elevados" quanto à "poluição da água e à pressão sobre os ecossistemas", de acordo com um dos coordenadores do estudo, Ricardo da Silva Vieira, do centro de investigação Maretec, do Instituto Superior Técnico (IST).
No entanto, foram também as gerações mais velhas que contribuíram para políticas como a introdução do gás natural ou valorização de resíduos, a partir dos anos 90, que ajudaram reduziram os próprios impactos ambientais.
Quanto às gerações futuras, dado que Portugal ultrapassou quase todos os limites ecológicos, têm um grande desafio pela frente. "Para serem sustentáveis, as gerações atuais e as futuras têm hoje disponível um limite de emissões que é 41% inferior ao que se verificou até aos anos 90", afirmam os investigadores.
A pouca margem de manobra das reservas emissões de carbono deixadas até à data poderá ser mais fácil de gerir pelo facto de as gerações atuais estarem mais atentas às alterações climáticas. "Há indícios que nos dizem que, tendencialmente, os impactos das gerações mais jovens estão a ser mais baixos. É de esperar que eles comecem a decrescer", sublinha Ricardo da Silva Vieira.