Quem passou pelas ruas de Lisboa nos últimos dias deparou-se com vários cartazes de fundo preto onde estava inscrita uma mensagem em inglês. "You smile more often for selfies than for people", diz um deles, que quer alertar para o facto de hoje em dia as pessoas mostrarem um sorriso fácil para a câmara que muitas vezes não aparece na vida real.
Uns metros adiante, encontra-se outro. E outro. E outro. Em cada um deles, a tendência é fotografar com o telemóvel e partilhar nas redes sociais, com descrições que demonstram que houve uma reflexão. "Somos todos boas pessoas nas redes sociais", escreve uma utilizadora no Instagram ou "campanha brutal", diz outra.
Talvez neste caso a dependência desta tecnologia não faça assim tão mal, e até pode ajudar, já que o objetivo foi precisamente "fazer com que as pessoas comparassem as vidas reais com as virtuais, na esperança de perceberem que não estão a viver as melhores vidas por causa dos hábitos tecnológicos", diz Tomaz Castelão no site onde mostra algum do seu trabalho.
Tomaz é creative copywriter e o autor das 12 frases que foram espalhadas por Lisboa. Foi através das palavras que Tomaz encontrou a sua forma de arte, cuja iniciativa mais recente é a campanha que se tornou viral: "Online Offlife".
"Num ato de vandalismo significativo, saímos para as ruas de Lisboa no meio da noite e colámos centenas de cartazes com mensagens que questionam diretamente a nossa atual relação com a tecnologia, que algumas mentes importantes descreveram como o grande vício da século XXI", diz no site da iniciativa, descrevendo como é que tudo aconteceu.
A ideia irreverente, com o propósito de consciencializar para o facto de a tecnologia estar a separar e não a unir as pessoas, tem como base dados científicos. É que há vários estudos que compravam a influência negativa que as redes sociais e a tecnologia estão a ter em várias camadas da sociedade.
Um deles é de um estudo português realizado pelo Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA), publicado em 2018 pela revista académica "International Journal of Psychiatry in Clinical Practice".Este conclui que "a evolução criou mecanismos neurofisiológicos para reconhecer as relações sociais como satisfatórias com base em informações sensoriais e de feedback corporal presentes nas interações cara a cara", fator que não acontece na comunicação online, gerando solidão.
Mas há mais. Um outro estudo publicado no ano passado indica que os adolescentes que passam mais tempo a comunicar online ou em frente aos ecrãs, e menos tempo em atividades sem tecnologia, não estão tão bem psicologicamente em comparação aos outros.
E é por isso que frases como "fica mais ao telefone do que no mar" ou "escreveu mais 'eu amo-te' do que disse", andam espalhadas por Lisboa de forma a que as pessoas debatam sobre o assunto e, quem sabe, mudem algumas práticas diárias.
Veja todos os cartazes criados por Tomaz Castelão e publicados no Instagram.