No Grand Palais, Matthieu Blazy ergueu um cenário cósmico para marcar o início de uma nova era na Chanel, com planetas suspensos e um sol de 15 metros a iluminar o espaço. Depois da saída de Virginie Viard, o designer franco-belga, que fez história na Bottega Veneta, apresentou a sua estreia na maison francesa com a ambição de reconectar a casa ao seu ADN, mas com uma vibe contemporânea.

Foi uma estreia e pêras, que está a ser aplaudida pelas redes sociais. O designer começou pelo ícone da casa, o fato, mas reinventou-o com uma leveza e irreverência inesperadas, com flanelas cinzentas inspiradas nas calças de Boy Capel, saias envelope desfiadas, tweeds translúcidos, denim e recortes quase escultóricos.

Há pérolas, há camélias, há trigo bordado a ouro, mas também há transparências e saias tão baixas que revelam intenções e ironias. É Chanel em modo provocação e, ao mesmo tempo, uma lufada de ar fresco. Matthieu Blazy quis falar de amor e de liberdade (e conseguiu). “A Chanel é sobre o amor”, disse, no final. "O nascimento da modernidade na moda vem de uma história de amor", acrescentou.

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Mas essa ideia não ficou patente só nas roupas, mas também num momento de pura emoção que aconteceu no fim da apresentação. Awar Odhiang, modelo etíope-canadiana de ascendência sul-sudanesa, surgiu no último look e a fechar o desfile. Um gesto histórico, sendo que se tornou a terceira modelo negra a encerrar um desfile da Chanel, depois de Alek Wek, em 2004, e Adut Akech, em 2018. Mas, afinal, quem é ela?

Awar Odhiang nasceu num campo de refugiados na Etiópia, filha de uma família que fugia da guerra civil no Sudão do Sul, e cresceu no Canadá, para onde se mudou em criança. Foi descoberta quase por acaso enquanto trabalhava numa loja e, a partir daí, o destino encarregou-se do resto, tendo-se tornado numa das figuras mais requisitadas da nova geração de modelos.

Já desfilou para Hermès, Prada, Valentino, Max Mara e Gucci, protagonizou campanhas para Louis Vuitton, Saint Laurent e Loro Piana e apareceu em editoriais para a "Vogue", "W Magazine" e "Harper’s Bazaar". Recentemente, foi também um dos rostos da nova (e controversa) linha de beleza da Louis Vuitton, assinada por Pat McGrath e fotografada por Steven Meisel.

No Grand Palais, vestida com uma T-shirt de seda marfim aberta nas costas e uma saia balão coberta de flores multicoloridas, conquistou o público por não se limitar a desfilar. Aplaudiu, sorriu, incentivou o público a levantar-se e transformou o final da apresentação das novidades da maison num momento de celebração.

Apesar de ser uma das modelos mais requisitadas da atualidade, Awar Odhiang tem um perfil discreto. Em entrevistas, fala do orgulho nas suas origens e do desejo de representar, no mundo da moda, as histórias que nem sempre são contadas. O seu percurso é uma narrativa de superação e visibilidade, mas também de elegância interior, que se manifesta no exterior, como estas fotos provam.

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