A Câmara Municipal do Porto decidiu, na terça-feira, 18 de julho, selar mais de uma centena de lojas do Centro Comercial Stop, na rua do Heroísmo, no Porto, alegando “falta de licenças de utilização para funcionamento”. Das 126 lojas que compõem este estabelecimento, a autarquia encerrou 105 espaços, que eram a casa de alguns músicos, que usavam aquele local como salas de ensaio ou estúdios.

A Associação de Músicos do Stop apontou que cerca de 500 artistas deixaram de ter um local para trabalhar, não tendo agora um outro sítio para onde ir. “A maior parte do pessoal que está aqui, que são cerca de 450 a 500 pessoas, não têm para onde ir. Não têm locais para poder fazer barulho, para poderem estar o tempo que quiserem, que é o que tem de bom isto”, referiu Rui Guerra, presidente da associação, à agência Lusa, citado pelo “Observador”.

Durante a manhã de terça-feira, a Polícia Municipal foi destacada para o local não permitindo mais entradas no estabelecimento comercial. Vários lojistas e também artistas reuniram-se à frente do edifício manifestando-se contra o encerramento do Centro Comercial Stop, exibindo alguns cartazes com mensagens de “A Casa da Música é aqui”, “Estão a matar a cultura”, “É o nosso ganha-pão”.

O que significa este espaço para os músicos do Porto?

Mariana Moreira é uma artista que usufruía do Centro Comercial Stop para ensaiar com a sua banda. Durante a terça-feira passada, a jovem esteve presente à porta do estabelecimento para lutar contra este encerramento. Para esta artista, o espaço é onde conseguem “promover um bocado a cultura do ‘underground’ do Porto.

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“Eu tenho uma banda no Stop, com outros colegas que têm outras bandas. Nós temos uma sala e costumámos ensaiar aqui. E, no fundo, aquilo que nós tentamos fazer é promover um bocado a cultura do ‘underground’, que neste momento estão a tentar matar aqui no Porto”, apontou Mariana à agência Lusa, citada pelo jornal “Correio da Manhã”.

Esta jovem vê que “não está a ser feito nada para preservar a cultura genuína daquilo que é o Porto”. Estão a tentar “apagar as pegadas de pessoas que ainda têm a possibilidade de pensar de forma livre, e de criarem cultura que está associado a um tipo de pensamento livre, que é uma coisa que as pessoas não querem. Estão a tentar pintar esta fotografia muito bonita daquilo que é a cidade, e ao mesmo tempo quem é daqui quem vive aqui, sabe perfeitamente que não é assim”, acrescentou Mariana.

João Cardita é um outro músico que viu a sua vida a mudar de repente depois de ter assistido ao encerramento das lojas na manhã de terça-feira. “Sem aviso prévio, aconteceu isto. Cheguei às 10h30 e já estava neste estado [espaços fechados e músicos a retirarem equipamento e instrumentos]. Tinha ensaios a partir das 11h30 até durante a tarde inteira. Ia preparar alguns concertos e não vai ser possível fazer isso”, mencionou o artista à Lusa, citado pelo “Correio da Manhã.

O que dizem os governantes?

A ordem para salar mais de uma centena de lojas do Centro Comercial Stop foi justificada pela “falta de licenças de utilização para funcionamento”, mas Ricardo Valente, vereador da Economia da Câmara do Porto referiu que este estabelecimento comercial não podia continuar a funcionar “sem condições de segurança”, acrescentando que “mais dia, menos dia” o encerramento do edifício iria chegar.

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O Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, também se pronunciou sobre o caso e revelou que está em conversações com o presidente da Câmara do Porto para encontrar uma solução para o problema. “Eu próprio estou disponível para ajudar, o Ministério da Cultura, naquilo que é possível, num espaço que é formalmente um centro comercial, mas que se transformou num centro cultural”, mencionou o ministro, citado pelo jornal “Expresso”.

“Colocam-se aqui muitas questões de segurança, de relação com a vizinhança e com os moradores da zona. Tudo isto implica alguma ponderação e alguma reflexão, mas sei que a Câmara Municipal do Porto quer encontrar uma solução. Não se pode ignorar [este problema e as consequências que advém] do ponto de vista de segurança e das condições em que as pessoas que ensaiam lá vivem”, acrescentou Pedro Adão e Silva.

Como alternativa ao encerramento de várias lojas, a autarquia do Porto propõe a utilização do Silo Auto, que para o Ministro da Cultura resolveria os problemas, nomeadamente os relacionados com a segurança do espaço. Uma outra possibilidade foi, mais tarde, revelada por Rui Moreira. A escola Pires de Lima, localizada a 200 metros do Stop, é uma outra proposta do presidente da Câmara do Porto, que aponta que as instalações deste espaço estarão prontas até ao final do ano para receber os artistas.