No final de março, o governo anunciou que o teletrabalho, sempre que possível, será obrigatório até ao final do ano. Isto significa que as habitações dos portugueses vão continuar a ser o principal espaço de trabalho e que as contas, em particular da luz, vão refletir a presença constante em casa. Só duas pessoas em teletrabalho no mesmo domicilio, pagam, em média, pelo menos, mais 28€ por ano na fatura da eletricidade. Os cálculos com base numa família-padrão foram feitos pela empresa Selectra, que compara tarifas de luz e gás natural, e divulgadas pelo "Jornal de Notícias".

Teletrabalho obrigatório e desfasamento de horários mantêm-se até final do ano
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Os gastos não dizem respeito ao uso do computador, mas a tudo o que está inerente a um dia de trabalho: utilização dos eletrodomésticos, como a máquina de café, o forno e a televisão. "Num lar, o consumo elétrico gerado por eletrodomésticos ronda os 66% da fatura de luz anual. Após um ano desde o início da pandemia, as nossas casas tornaram-se no lugar onde passamos grande parte do nosso tempo. Esta vivência permanente em casa trouxe um aumento nos gastos", explicou a Selectra, em comunicado.

A empresa não teve em conta gastos com a climatização do lar ou iluminação, destacando que só "nos casos em que os agregados familiares tenham lâmpadas de baixo consumo é que o valor seria residual", aumentando apenas entre três a cinco euros por ano.

O consumo de eletricidade registou um pico nos primeiros três meses do ano, correspondentes ao período em que o País enfrentou uma vaga de frio e os gastos com aquecimento foram mais elevados — passando, em alguns casos, de 80 para 200 euros mensais, de acordo com a associação de defesa do consumidor (DECO). Face à necessidade de maiores gastos em aquecimento, o Governo lançou em janeiro um apoio extraordinário ao preço da eletricidade aplicado diretamente na fatura dos consumidores, dirigido a 800 mil famílias beneficiárias da Tarifa Social de Eletricidade.

Sobre esta medida, Carolina Gouveia, jurista da Deco, reconhece que é um apoio "meritório", mas "diminuto face ao aumento de consumo verificado". Muitas famílias têm extrema dificuldade em suportar qualquer custo adicional, de acordo com dados recentes do Eurostat, que colocam Portugal em quarto lugar entre os países da Europa cuja população não tem capacidade financeira para aquecer eficientemente a sua habitação. Para fazer face a essa situação, o Governo criou "vouchers eficiência", que vão, ainda este ano, apoiar monetariamente famílias carenciadas no sentido de melhorarem a eficiência energética dentro de casa.