Outono rima com cabelo a cair, já sabemos. Mas será que os hábitos que temos regularmente e que assumimos como corretos são mesmo úteis, eficazes e, acima de tudo, saudáveis? Nesta altura do ano em que os cuidados com o cabelo devem ser redobrados devido à queda sazonal, pedimos a ajuda de Helena Toda Brito, dermatologista, para analisar ao detalhe seis gestos que temos com o nosso cabelo, dos mais comuns aos pouco usuais.
Cortar o cabelo
Para que os fios se mantenham saudáveis, é importante que estes sejam cortados regularmente (a frequência ideal é de três em três meses) — depois de um corte, o cabelo acaba por ficar com uma aparência mais saudável, existindo também a ilusão de densidade devido à eliminação das pontas secas e danificadas, vulgarmente conhecidas como pontas espigadas.
Há também muitas pessoas que acreditam que um corte de cabelo faz com que o mesmo cresça mais depressa. Não é verdade. "A frequência com que se corta o cabelo não tem qualquer relação com a velocidade a que ele cresce", esclarece Helena Toda Brito, que explica que o crescimento do cabelo "é determinado pelos folículos pilosos, localizados no couro cabeludo, e estes não são influenciados pelo corte que ocorre ao nível da haste capilar".
O mesmo se aplica com as massagens no couro cabeludo, esteja este seco ou molhado. "Não existe evidência de que estas massagens tenham qualquer interferência no crescimento ou aparência do cabelo", afirma a especialista.
Reduzir o champô e o condicionador
Apesar de existir a ideia de que reduzir a utilização do champô e/ou condicionador faz com que o couro cabeludo produza menos sebo, Helena Toda Brito afirma que tal noção "não passa de um mito". Segundo a especialista, "a quantidade de sebo produzida pelas glândulas sebáceas é determinada essencialmente por fatores genéticos e hormonais, não sendo afetada pela higiene com um champô adequado".
A dermatologista acrescenta que a utilização do champô é "fundamental para eliminar a sujidade e oleosidade em excesso do couro cabeludo e cabelos" e que esta deve ser concentrada no couro cabeludo, "sendo o produto que escorre pelo comprimento do cabelo suficiente para a sua correta higienização". Se o cabelo estiver muito sujo e o couro cabeludo bastante oleoso, devem ser feitas duas aplicações de champô; caso contrário, "uma é suficiente".
Em relação ao condicionador, Helena Toda Brito recomenda que este produto seja utilizado em todas as lavagens, dado que "melhora significativamente a aparência do cabelo, oferecendo brilho e diminuindo a eletricidade estática, responsável pelo cabelo frisado" — mas ao contrário do champô, a especialista alerta que a sua aplicação deve ser concentrada nas pontas dos cabelos, evitando a raiz dos cabelos e o couro cabeludo.
"As raízes e couro cabeludo não necessitam de condicionador porque o sebo (óleo natural produzido pelas glândulas sebáceas da pele) produzido pelo couro cabeludo é suficiente para os hidratar", afirma a dermatologista, que explica que aplicar este produto nas raízes "só iria tornar o cabelo mais oleoso". Já as pontas estão mais longe do couro cabeludo e é necessário hidratá-las com condicionador.
Lavar o cabelo todos os dias
Quantas vezes ouviu que não deve lavar o cabelo diariamente? Muitas, talvez. Porém, e de acordo com Helena Toda Brito, "não existe nenhum problema em lavar o cabelo todos os dias, dado que este deve ser lavado com a frequência necessária para estar limpo, e tal varia consoante o tipo de pele (peles oleosas precisam de lavar mais vezes), nível de atividade física e idade (as pessoas de mais idade não precisam de lavar tantas vezes)".
A especialista acrescenta que caso precise de lavar os fios diariamente, não tem de ter medo de o danificar, dado que "uma lavagem diária com um champô suave e adequado ao tipo de cabelo não vai tornar o cabelo mais oleoso".
Utilizar ferramentas de styling
As placas alisadoras e os ferros de caracóis conseguem proporcionar looks incríveis e cuidados no conforto de casa, e de forma bem mais económica do que no salão. Porém, se tem a ideia de que a utilização destas ferramentas de styling não danificam o cabelo (porque usa aparelhos de qualidade e utiliza produtos protetores de calor), está completamente errada.
"As temperaturas elevadas das ferramentas de styling podem danificar bastante o cabelo, sendo desaconselhável a sua utilização excessiva", refere Helena Toda Brito, que recomenda que a sua utilização seja limitada "a uma vez por semana ou menos, para além de se tentar reduzir o tempo de contacto com o cabelo ao mínimo necessário".
Para reduzir os danos nos seus fios, e se não consegue mesmo abandonar por completo estas ferramentas, use-as com a temperatura mais baixa possível e sempre com o cabelo seco, previamente protegido pela aplicação de um produto protetor de calor — a especialista recomenda produtos em creme ou spray, "com polímeros protetores e silicones na sua composição, dado que isolam o cabelo do calor".
Enxaguar os fios com água fria
Mais um mito: lavar os cabelos com água fria não traz qualquer tipo de vantagem, seja em volume, crescimento mais rápido ou hidratação. "Uma vez que a haste capilar, parte visível do cabelo, não contém células vivas na sua composição, esta não reage à temperatura da água com que é enxaguada", salienta Helena Toda Brito, que afirma que a preocupação com a temperatura da água apenas faz sentido se estivermos a falar de enxaguar os cabelos com água quente.
"O cuidado que se deve ter é evitar a utilização de água muito quente, que provoca a remoção excessiva dos óleos naturais do couro cabeludo e pode tornar o cabelo baço e danificado", afirma a dermatologista, reforçando que não "existe qualquer vantagem em enxaguar com água fria, sendo suficiente a utilização de água morna para manter o cabelo saudável".
Aplicar máscaras caseiras
Para fugir aos produtos demasiado industrializados, há quem prefira recorrer a ingredientes naturais e a máscaras caseiras com azeite, ovos e até óleo de coco. Mas se a aplicação de óleos vegetais como azeite e óleo de coco nas pontas do cabelo é eficaz na hidratação, "pela sua composição rica em gorduras e vitamina E, estes ingredientes podem deixar um cheiro característico nos fios, sendo difícil de remover com a lavagem", avisa Helena Toda Brito.
De acordo com a especialista, quando lavar o cabelo após a aplicação destas máscaras caseiras, "deve massajar o cabelo com champô com os fios ainda secos e só depois enxaguar" — caso contrário, se lavar o cabelo da forma comum, este pode ficar com um aspeto oleoso durante vários dias.
Quanto à utilização de ovo nos cabelos, a dermatologista explica que a ideia de usar este ingrediente deve ter surgido, provavelmente, devido "à composição rica em proteínas e gorduras dos ovos". Porém, as proteínas deste alimento "não conseguem ser incorporadas na estrutura do cabelo e, mesmo que se lave bem os cabelos, o cheiro demora a desaparecer", insiste a especialista.
Escovar o cabelo
Tem o hábito de andar sempre com a escova de cabelo atrás? Se sim, saiba que "escovar os fios excessivamente pode danificar a cutícula, tornando o cabelo frisado, quebradiço e sem brilho", garante Helena Toda Brito, que recomenda que a escovagem seja realizada de forma suave e limitada ao mínimo necessário para desembaraçar os cabelos, e devem preferir-se escovas de plástico ou madeira, "com cerdas bem espaçadas e que desembaracem os fios sem puxar"; já as escovas de cerdas de javali "não são as mais indicadas, pela falta de uniformidade das cerdas naturais e fricção que causam no cabelo, podendo danificá-lo consideravelmente".
A especialista alerta também para o perigo de escovar cabelos lisos ainda molhados, dado que estes "partem mais facilmente", sendo aconselhável deixá-los secar um pouco antes de escovar. Pelo contrário, os cabelos encaracolados "devem ser desembaraçados com um pente de dentes largos enquanto molhados, para diminuir o risco de quebra", conclui a dermatologista.