Apesar de estar muito associada aos homens, é uma doença que afeta cada vez mais as mulheres — pelo menos é o que dizem os especialistas. A queda de cabelo pode ter várias causas, sendo a mais frequente a alopécia androgenética (também conhecida por calvície). Considerada uma doença, incide sobretudo na parte de cima do couro cabeludo e está associada a razões genéticas.

Outra causa muito comum para a queda de cabelo (mas que não é considerada como doença) é o deflúvio telogenico (ou queda de cabelo sazonal). A MAGG falou com Luísa Caldas Lopes, dermatologista no Hospital da Luz, para tirar todas as dúvidas. Perceba o que é cada uma destas causas e como se podem tratar e prevenir.

Existe mais do que uma razão para a queda de cabelo

A médica começa por explicar que a calvície é uma situação "geneticamente determinada e, portanto, de origem genética familiar". Além desta existem outras causas: "A mais comum é o deflúvio telogénico em que se vê o cabelo cair ativamente. Na alopécia androgenética (calvície), que pode afetar homens e mulheres, o cabelo vai enfraquecendo em determinadas zonas mas não se vê cair propriamente", explica.

O deflúvio telogénico não é tão grave pois acontece em alturas transitórias sazonais (alterações climáticas) ou após, por exemplo, uma intervenção cirúrgica, parto ou doenças agudas. É uma resposta fisiológica do organismo que volta ao normal no espaço de meses. Estar mais preocupada ou cansada, ter uma alimentação desequilibrada e ter alterações no couro cabeludo também podem afetar a queda de cabelo. Na alopécia androgenética não é bem assim. As razões são genéticas, portanto o problema é duradouro.

A doença é predominante no sexo masculino mas afeta cada vez mais mulheres

A alopécia androgenética é a maior doença causadora de calvície masculina e feminina, embora afete homens e mulheres de maneiras diferentes. Esta doença é causada pela dihidrotestosterona (DHT), uma versão mais forte da testosterona que é parte de várias funções relacionadas com o desenvolvimento sexual do homem, nomeadamente a formação dos órgãos genitais, o desenvolvimento das características primárias e secundárias na puberdade e a atividade da próstata.  As mulheres também produzem esta hormona, mas em quantidades muito menores.

O problema é que, no couro cabeludo, o DHT parece promover a "miniaturização folicular". Ela faz com que os folículos capilares vão diminuindo de tamanho, a fase de crescimento do cabelo fique cada vez mais curta e os fios se tornem mais finos e ralos, podendo até parar de nascer por completo.

As hormonas femininas, como o estrogénio,  ajudam a proteger da ação do DHT mas, com a diminuição da sua produção, principalmente depois da menopausa, as mulheres com predisposição genética para a doença podem manifestar uma queda anormal de cabelos. Estes casos de calvície hereditária feminina têm vindo a aumentar à medida que as mulheres são expostas a uma maior carga de stresse, tensão e ansiedade, cada vez mais habituais.

O padrão de calvície feminino e masculino são diferentes. Existem duas escalas diferentes de gravidade: "A Escala de Hamilton, para o homem, com 7 graus de gravidade, e a Escala de Ludwig, para a mulher, consoante o local e rarefecção capilar".

Nos homens começa com uma rarefação capilar simétrica nas duas têmporas, na parte da frente da cabeça, que formam as bem conhecidas "entradas". A seguir começam a cair os cabelos da parte superior. Numa fase final, os cabelos da parte superior traseira permanecem ou tornam-se rarefeitos. Tudo o resto desapareceu.

Nas mulheres não acontece o mesmo: os cabelos da frente não caem mas tornam-se muito finos e rarefeitos, principalmente na parte superior, deixando a pele visível.

Como diagnosticar a doença?

Existem algumas formas de conseguir perceber atempadamente que pode sofrer de alopécia androgénica. Por ser uma doença genética, o histórico familiar é importante: se algum dos pais, tios ou avós, tanto do lado paterno como materno, têm a doença, é provável que possa também vir a contrai-la. Se tem problemas como disfunção da tiroide, diabetes, depressão, uma má alimentação, limpeza inadequada do couro cabeludo ou consumo de substâncias como álcool ou nicotina, deve ter cuidado. Eles intensificam (mesmo) a queda dos cabelos.

Há também características do couro cabeludo que identificam a presença de alopécia, como por exemplo produção de oleosidade acima do normal, dermatite seborreica (caspa), vermelhidão, comichão e ardor no couro cabeludo.

Como pode prevenir?

Por ser uma doença genética, a calvície hereditária não pode ser totalmente evitada, no entanto há formas de a atenuar. Manter um estilo de vida saudável e ter uma dieta equilibrada é muito importante para prevenir a queda de cabelo.

Pode lavar o cabelo todos os dias, mas sempre que usar o secador deve ter em atenção a temperatura: não pode ser muito alta e deve mantê-lo a uma distância mínima de 30 centímetros do cabelo. Não deve puxar com força o cabelo e deve evitar pintá-lo mais do que uma vez por mês.

Ao contrário do que possa pensar, cortar mais vezes o cabelo não evita a sua queda. É uma ilusão provocada pelo facto de o cabelo mais curto não puxar tanto pelo couro cabeludo, o que dá uma sensação de volume.

Para prevenir a calvície também deve ter em atenção ao excesso de produtos químicos nas tintas que usa, aos alisamentos e permanentes, e à maneira como o penteia: não deve usar penteados muito puxados e presos, como rabo de cavalo ou tranças.

O tratamento: tópico, sistémico ou cirúrgico

Luísa Caldas Lopes explica que "consoante a gravidade da situação, há vários tratamentos tópicos (locais) e sistémicos (por comprimidos)". Por não existir uma cura, quando os tratamentos são interrompidos a determinação genética da doença volta a manifestar-se e a queda de cabelo continua. Existe ainda a possibilidade de fazer um tratamento cirúrgico como o transplante capilar ou uma prótese capilar.

No tratamento tópico é muito utilizado Minoxidil, um dos produtos mais receitados para tratar a queda de cabelo. A sua substância estimula a absorção de nutrientes e oxigénio no folículo capilar, aumentando o seu tamanho e prolongando a fase de crescimento dos cabelos. Pode vir em forma de loção, espuma ou creme.

No tratamento sistémico, a administração de "antiandrogénicos na mulher; e finasteride, ou semelhantes, no homem" bloqueia a ação da hormona masculina no folículo do pelo. Mas atenção: "os tratamentos devem ser adequados a cada uma das situações especificas e que, qualquer uma destas medicações, deverá ser sempre feita com orientação médica consoante a situação, idade e sexo da doente".

Os tratamentos cirúrgicos consistem no transplante capilar, em que os folículos capilares são retirados de uma área dadora do próprio paciente, normalmente os cabelos da nuca ou das laterais da cabeça, e transplantados para as áreas calvas. São escolhidas essas áreas pois esses folículos tendem a ser menos sensíveis à hormona DHT, e as probabilidade de sofrerem novamente com ele, são menores.

Também existe a opção de colocar próteses capilares: são feitas com fios de cabelo naturais e implantados numa base de material hipoalergénico fino e flexível. São presas ao couro cabeludo com adesivos especiais que permitem que à pessoa continuar a ter a sua vida normal: pode tomar banho, fazer exercício e dormir sem ter de tirá-las.

Mas o melhor é não tomar nenhuma decisão antes de falar com um médico. Nestes casos, o especialista mais indicado é um dermatologista.