Não estaremos muito longe da verdade se dissermos que passamos mais tempo dentro dos nossos ecrãs do que fora deles. Só que desta espécie de migração de realidade, coisas acontecem ao corpo que permanece na dimensão em que nascemos. Uma das consequências físicas sente-se na pele.
As manifestações na pele da exposição acumulada à luz azul emitida pelos aparelhos é um debate recorrente entre dermatologistas. Se, por um lado, e de forma controlada, são capazes de tratar algumas patologias, como a acne, por outro, e no reverso da medalha, está a capacidade destas radiações envelhecerem precocemente a pele, avisa a Academia Espanhola de Dermatologia e Venereologia (AEDV).
“Na dermatologia, a luz azul é usada como uma ferramenta terapêutica, assim como recorremos à radiação ultravioleta para o tratamento de psoríase ou de dermatite atópica. O problema surge quando há uma exposição abusiva à luz azul, algo que ainda não foi definido ", diz, citado pela edição espanhola da “Vogue”, Rubén del Río, dermatologista da AEDV.
Quais é que são as consequências diretas da exposição continuada à luz azul? De acordo com José Aguilera, médico de biologia e investigador da mesma academia, “potencialmente, pode causar danos à pele por stresse oxidativo, o que significa que, para combatê-la, a pele ativa os melanócitos [células responsáveis pela produção de melanina], de modo a aumentar, como defesa, a produção de melanina cutânea”, diz.
“Também foi demonstrado que afeta o estado hídrico da pele e da barreira cutânea, porque a exposição a esta radiação altera a síntese de colagénio. Tudo isto pode causar envelhecimento prematuro: flacidez, rugas e aumento de pigmentação.”
Ao contrário da radiação UV, especialmente lesiva para peles mais claras, no caso das radiações emitidas pelos aparelhos, são as pessoas morenas que pagam a conta mais alta: em causa estão, segundo o mesmo especialista, as “células que tendem a produzir mais melanina", podendo a sua acumulação resultar manchas.
A partir de que dosagem é que estas consequências se podem, a longo prazo, fazer sentir? José Aguilera refere, à mesma revista, que 48 horas seguidas à frente de ecrãs aumenta a probabilidade destes efeitos aparecerem. Mas alerta para outro facto: a luz azul não está só nos telemóveis — ela também está na dimensão real.
E em mais sítios do que imagina. Por exemplo: entre as 9 e as 20 horas, 30% da radiação que o sol emite é de luz azul; 37% da radiação de luz fluorescentes também emite este tipo de radiação, assim como as luzes brancas LED, com uma percentagem de 35%. A televisão ou o tablet têm um número superior: 40%.
A exposição aos ecrãs já levou a que se criassem cosméticos que têm como objetivo defender a pele contra este envelhecimento precoce provocado pelas radiações dos meios digitais. Ainda assim, não há certezas quanto à sua eficácia. Até lá, é apostar em protetores solares de espectro amplo, em hidratantes de qualidade, ricos em antioxidantes, capazes de lutar contra o stresse oxidativo e, claro, tentar passar mais tempo na dimensão real da vida, fora desse ecrã para onde está a olhar.