É conhecido como cabeleireiro das estrelas, e penteia entre muitas conhecidas a manequim Sara Sampaio. Vasco Freitas, que tem um dos salões mais famosos do Porto, está revoltado por muitos colegas de profissão estarem a ser sujeitos a trabalho que os obriga a interagir com pessoas, só porque estas pessoas são conhecidas ou aparecem na televisão. E não poupou críticas duras a ninguém, de Cristina Ferreira ao primeiro-ministro. A sua revolta transpareceu num vídeo publicado este sábado, 11 de abril, na sua conta de Instagram onde revela estar revoltado com a forma como a sua profissão e vários colegas estão a ser tratados.

"Como é que é possível nesta altura em que estamos todos em casa, há cidades isoladas, toda a gente na sobrevivência, e temos uma ministra que faz nuances? O António Costa que corta o cabelo? Os apresentadores de televisão, Cristinas Ferreiras, Júlias Pinheiros, continuam a ter os maquilhadores e cabeleireiros? Mas que merda é esta, malta?", questiona.

Vasco Freitas, fechou o salão a 14 de março por iniciativa própria, não só porque faz parte de um dos grupos de risco por ser imunodeprimido, mas também porque tem 13 funcionários e esta seria a única forma de minimizar os riscos de contágio da COVID-19.

A revolta que expressou através das redes sociais deve-se ao facto de notar que não há respeito, em particular das entidades de saúde (nomeadamente a ministra), pelos profissionais que tiveram de cessar atividade assim que foi implementado o estado de emergência. "É uma questão de respeito às autoridades e de respeito ao próximo. Se estamos todos no mesmo barco, eles devem ser os primeiros a dar o exemplo e a não dar motivos às pessoas de desacreditar no que está a acontecer, porque aí sim vai ser um problema", diz Vasco Freitas à MAGG.

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O cabeleireiro revela que tem recebido inúmeras mensagens de clientes que dizem "estou horrível em casa" e questiona-se como é que é possível verem figuras de Estado com cabelo e apresentação impecável quando ligam a televisão. "Será que a imagem é tão importante? Vamos ver então os médicos. Será que eles precisam da imagem como os políticos? Eles sim [médicos] estão na linha da frente", diz Vasco.

O cabeleireiro defende que todos devem dar o exemplo, sem exceções, porque os próprios números têm revelado a eficácia do estado de emergência e da conduta dos portugueses. "Os portugueses foram até mais competentes do que as normas que o País impôs", refere Vasco Freitas.

O cabeleireiro acrescenta ainda que a população foi mais consistente do que a própria diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, que no início da proliferação da COVID-19, num comunicado de imprensa a 15 de janeiro, desvalorizou a situação: "Não há grande probabilidade de chegar a Portugal: mesmo na China o surto foi contido, para o vírus chegar cá seria necessário que alguma pessoa tivesse vindo da cidade afetada para Portugal".

Contudo, o vírus acabou mesmo por chegar a Portugal e proliferar, tal como Vasco previa. "Já tinha vivido isto em Milão, porque estive lá quando isto rebentou e percebi a gravidade da situação, talvez um bocadinho antes da ministra da Saúde". Agora com o salão fechado, revolta-se com o facto de ver a sua profissão a ser desvalorizada.

"O que eu exigia era um bocadinho mais de respeito pelo esforço que estamos a fazer e que não nos tratassem como uma área de tal insuficiência, tal desnecessidade, quando os próprios políticos são os primeiros a recorrer à mesma", diz. Não compreende por isso porque é que alguns profissionais de beleza continuam em atividade, uma vez que além de ser injusto para os restantes, não estão a respeitar as normas impostas às atividades de beleza que foram obrigadas a cessar.

"Também podia abrir já a porta, limitar o número de pessoas lá dentro e continuar a trabalhar. Ou só posso receber um ministro, uma Cristina Ferreira ou uma delegada da DGS?", questiona Vasco Freitas, que revela que em termos de higienização, o seu salão tem a mesma capacidade de um hospital. Está equipado com extração de ar, desinfeção constante, e já tem também vidros e divisões nos quais o próprio investiu do próprio bolso para se preparar para o futuro.

Contudo, sabe que deve respeitar as normas e só vai reabrir quando tiver condições para isso. E estas podem estar prestes a chegar. O cabeleireiro de Sara Sampaio e Raquel Strada revela que "segundo os rumores que correm vindos da Assembleia da República" está a contar abrir a meio termo em meados de maio, reconhecendo que essa reabertura será feita com muitas limitações. "Provavelmente vamos ter que fechar em outubro e novembro com o reaparecimento do coronavírus".

Até lá, tem de sustentar os rendimentos dos 13 membros da equipa com quem trabalha, o pagamento do espaço e o investimento que está a fazer no salão. Para isso, recorreu a um crédito que consistia numa ajuda de 20% do que o Estado lhe atribuiu, mas essa foi cancelada porque "o dinheiro esgotou", de acordo com as informações que foram transmitidas a Vasco Freitas esta segunda-feira, 13 de abril.

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Apesar de estar a conseguir sustentar o negócio, Vasco Freitas revela que o mesmo não acontece noutros casos. Sabe de situações de cabeleireiros infetados que fazem domicílios e, apesar de não concordar com a prática, deixa uma análise: "A culpa é do cabeleireiro, mas também da necessidade de sobrevivência, porque a parte das rendas e tudo mais só saiu muito mais à frente, já quase no dia 10", refere, acrescentando que conhece outros profissionais que já não receberam este mês e estão à procura de trabalho.

Outra das injustiças diz respeito aos impostos do Estado, que o cabeleireiro diz não compreender. "Nós pagamos 23% de IVA e a restauração paga entre 12 a 14%. Porquê? Nós não produzimos tanto lixo, não produzimos tanta poluição, a nossa arte vem das mãos. Somos uma área que não temos custos, não prejudicamos a sociedade e porque é que somos dos poucos que pagamos a taxa máxima? Só porque somos um meio de beleza? Mas neste momento está a provar-se que toda a gente precisa de nós", protesta.

Compara ainda a situação com a dos restaurantes e turismo pelo facto de receberem um apoio superior do Estado e a par disso conseguirem algum rendimento com soluções como as que temos visto crescer nos últimos temos: o caso do take away e das entregas ao domicílio.

No vídeo publicado no Instagram Vasco Freitas refere ainda que se sente injustiçado pelo facto de ter que pagar quase 4% de juro por cada ajuda que os profissionais na área da beleza vão receber: "Somos os últimos a abrir, fomos os primeiros a fechar e somos os mais discriminados nos apoios dos bancos", diz e conclui:"Isto é muito injusto".

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