
De Demi Moore a Kylie Jenner, passando por Lindsay Lohan, a máxima das celebridades no que diz respeito às intervenções estéticas, atualmente, parece ser "menos é mais". O excesso de preenchimentos, traços transformados e resultados artificiais estão a dar lugar a um novo ideal estético: o da naturalidade. Afinal, já lá vai o tempo em que ir à faca se resumia a uma boa aparência, custasse o que custasse – mais do que nunca, as mudanças querem-se mais subtis e a realçar a beleza natural.
Trocando por miúdos, várias das figuras públicas que surgiram com rostos visivelmente mais suaves e rejuvenescidos não renunciaram aos procedimentos estéticos – por outro lado, começaram a escolher o que fazer de forma mais consciente, com técnicas menos invasivas e mais ajustadas à sua fisionomia. Uma tendência que não passa despercebida aos olhos de quem trabalha diariamente na área da medicina estética.
Na MP Clinic, em Cascais, esse modus operandi faz-se sentir todos os dias. Nicole Fernandes, sócia e diretora-executiva do espaço, e a médica Andreia Casimiro, que integra a equipa de profissionais que fazem a magia acontecer, confirmam-no: os pacientes não querem transformar-se, querem melhorar-se. E, mais do que isso, querem sentir-se bem com o reflexo que veem ao espelho – sem deixarem de se reconhecer.
“Tu queres olhar-te ao espelho e ver-te a ti, não queres ver uma pessoa diferente. Se queres realçar coisas com as quais não estás tão confortável, a medicina estética pode ajudar-te com isso", explica Nicole Fernandes, à MAGG. "Há mulheres de 60 anos que se sentem novas e não é isso que veem ao espelho. Com as intervenções estéticas, conseguimos devolver-lhes essa aparência jovem", continua.

No fundo, é esse o segredo das celebridades: procedimentos que são feitos de forma natural e adaptada às suas necessidades. "Há uns anos, os médicos faziam muitas cirurgias plásticas, que acabam por ter resultados mais exagerados", explica Andreia Casimiro, médica especialista em medicina estética, acrescentando que os procedimentos também eram realizados com outras substâncias.
Exemplo disso é o PMMA – ou polimetilmetacrilato, uma substância plástica na forma de microesferas, que normalmente é indicada para corrigir pequenas deformidades ou a perda de gordura facial. "Foi inventado com um bom propósito, por causa das pessoas que tinham HIV e ficavam muito magras. Era o que havia na altura, mas, com os anos, percebeu-se que não é assim tão bom", explica, dizendo que, à medida que o tempo passa, esse preenchimento vai ficando pouco estético – além de ser permanente.
Assim, a procura pela naturalidade veio de mãos dadas com a evolução da medicina estética – afinal, "não foram as pessoas que pediram para ficarem mal preenchidas", constata a especialista. Isto significa que os resultados indetetáveis que vemos hoje em dia são fruto da remoção dos procedimentos que foram feitos com recurso a técnicas mais arcaicas, aliado à execução de protocolos mais atuais e que culminem num visual mais harmonioso.
"Hoje em dia, as cirurgias e procedimentos são muito mais avançados. Muitos são feitos endoscopicamente, quase sem cortes", afiança, deixando ainda a certeza de que todos os tratamentos que as celebridades fazem também são feitos na MP Clinic. A diferença reside na frequência com que os realizam, que é "muito maior" do que o comum mortal, e nos profissionais que são responsáveis pelos mesmos, que são conhecidos por "protocolos de excelência".
Nicole Fernandes concorda, dizendo que "em Portugal, nem toda a gente consegue gastar esse dinheiro e fazer esses planos de tratamentos tão grandes", mas não significa que estes não estejam à mão de semear. "Os tratamentos que essas celebridades fazem, em que estão tão naturais, e muitas delas nem sequer dizem que fazem tratamentos, são exatamente os que nós fazemos aqui na clínica", corrobora.
"Acho que o que evoluiu foram os profissionais e a ciência", remata Andreia Casimiro, acrescentando que as tendências também pesam na balança. "Há alturas em que o que está na moda é mais os lábios maiores e outras mais pequenos, mas, mesmo assim, acho que também tem que ver com a evolução dos procedimentos em si", clarifica.
Mas, afinal, o que andarão as celebridades a fazer?
Para as celebridades que têm estado na vanguarda desta nova era na estética, da qual a naturalidade é a maior bandeira, há vários procedimentos a que recorrem. Andreia Casimiro diz que os "bioestimuladores são uma escolha popular", já que são não são nada mais do que substâncias injetadas na pele que vão estimular a produção de colagénio e elastina, rejuvenescendo-a de forma natural e gradual — quase como uma poção da juventude, portanto.
Outro tratamento bastante procurado pelas celebridades – e pelo público no geral, diga-se – é a administração de toxina botulínica (vulgo botox), que tem, entre muitos benefícios, o poder de limitar o aparecimento de rugas e linhas finas, especialmente nas áreas da testa e ao redor dos olhos, por exemplo. "É aquele onde tu vês mais resultado imediato e uma diferença nas rugas, no brilho da pele", frisa a especialista, dizendo que é dos tratamentos que funcionam "mais na base da prevenção".
Isto porque esta substância é responsável pelo relaxamento dos músculos, que vai impedir a formação de novas marcas indesejadas – se elas já lá estiverem, por exemplo, a única coisa em que vai ajudar é fazer com que a pele não fique ainda mais vincada. Contudo, aplicado com moderação, este procedimento é praticamente invisível, o que o torna ideal para aqueles que sonham com um rejuvenescimento subtil, sem efeitos artificiais ou exagerados.
Por outro lado, o ácido hialurónico é sinónimo de hidratação e volume – coisa que vamos perdendo à medida que as funções biológicas do nosso corpo vão decaindo. Este componente, que o organismo já produz naturalmente, é utilizado para suavizar linhas finas ou restaurar volume perdido em certas partes do corpo, como os lábios, as bochechas ou até as olheiras – e, "contrariamente ao PMMA, o corpo consegue metabolizá-lo", pelo que, numa questão de poucos meses, os efeitos desaparecem e há a necessidade de retoque.
Questionada sobre se o segredo para conseguir resultados naturais no âmbito destes procedimentos é a cadência com que são realizados, Andreia Casimiro diz que em nada tem que ver "com fazer tudo de uma vez ou não", já que "isso é a escolha do paciente". "O que faz o resultado ser natural é o plano de tratamento que indicamos para a pessoa em específico", frisa, reiterando que isso requer sempre uma análise detalhada do paciente e respetivas necessidades, algo que têm sempre em conta na MP Clinic.
No que diz respeito a serem aquilo que de melhor corrige o que insatisfaz os pacientes, Andreia Casimiro diz que "depende do caso". É que "há situações em que [o mais indicado] é a cirurgia plástica, porque há casos que não dá para tratar com injetáveis", continua, deixando bem explícito que "a ideia dos injetáveis não é tratar um problema grave; é prevenir muita coisa e trabalhar na qualidade da pele".
E estes procedimentos são reversíveis?
A crescente procura por procedimentos estéticos que resultem numa aparência natural não se deve apenas a uma mudança de gosto ou a uma influência das celebridades. Para muitas pessoas, essa decisão está também relacionada com a segurança e com o conforto de saber que, em caso de arrependimento, é possível reverter o que foi feito. Segundo Andreia Casimiro, essa é uma das maiores vantagens de muitos dos procedimentos mais procurados atualmente.
É o caso dos preenchimentos com ácido hialurónico, por exemplo, que podem ser dissolvidos através de uma enzima específica: a hialuronidase. Esta flexibilidade traduz-se numa maior liberdade para experimentar pequenas mudanças sem o peso de um compromisso definitivo – se bem que, de acordo com a médica, não é assim tão comum haver pessoas que queiram livrar-se do que fizeram por completo.
"É muito raro alguém vir porque quer tirar o preenchimento labial", afirma, dizendo que isso acontece, normalmente, por recomendação da profissional e em casos específicos, como quando "há a presença de nódulos" ou porque o produto "migrou" – quando se aloja numa zona diferente daquela em que devia estar, diga-se. "Quando alguém quer tirar [o preenchimento] é porque quer fazer novamente, até porque já não consegue ver-se sem ele", adianta.
Ainda assim, nos escassos casos em que o paciente possa querer o ácido hialurónico longe da porta, a especialista diz que "se o removermos, o lábio volta a estar exatamente como estava antes". O mesmo se aplica aos outros procedimentos – bioestimuladores e toxina botulínica –, embora não sejam reversíveis, segundo nos conta a especialista.
"O botox já não é reversível, não dá para remover", explica. Isto porque este atua ao nível neuromuscular, não podendo ser simplesmente dissolvido ou removido como o ácido hialurónico. Ainda assim, "desaparece totalmente passados três ou quatro meses", continua Andreia Casimiro. No caso dos biosestimuladores, que trabalham ao nível celular, a lógica é a mesma – "só que são tratamentos tão naturais que é raro terem de ser removidos", remata.
A importância de profissionais qualificados para resultados naturais
Em Portugal, o intrusismo médico na área da estética tem vindo a aumentar, com a ASAE a instaurar cerca de 90 processos-crime só em 2023 por usurpação de funções, principalmente devido à aplicação ilegal de toxina botulínica e ácido hialurónico por pessoal não-médico, como noticiou o "Observador" na altura. Neste sentido, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS), a ASAE e o INFARMED têm intensificado ações de fiscalização conjuntas.
Nicole Fernandes defende que a desinformação é um dos principais fatores que leva tantas pessoas a procurarem quem não tem habilitação para realizar estes procedimentos. "Muitas vezes o que faz as pessoas irem a essas pessoas é porque não percebem que isto é um tratamento médico, que é injetável, que pode correr mal", afirma. E quando os resultados são maus – como acontece tantas vezes nestes contextos –, não só não há naturalidade, como se alimenta o estigma em torno desta área.
"A transparência é mesmo a chave nestas questões"
Andreia Casimiro reforça que o maior risco não está na aplicação em si, mas em tudo o que pode correr mal depois – e na capacidade para intervir atempadamente. "Injetar é fácil; resolver e saber onde injetar e em quem é que é difícil", confessa, relembrando uma máxima comum entre os seus professores. A importância do acompanhamento médico contínuo é muitas vezes ignorada por quem encara estes procedimentos como simples retoques.
Para contrariar isso, a responsável da MP Clinic diz que o estabelecimento aposta as fichas todas na educação. "Nas redes sociais, nós explicamos os procedimentos, explicamos que são realizados médicos", afiança, acrescentando que essa mesma transparência é praticada em consulta. Ou seja, os profissionais dão a conhecer os produtos utilizados e mantêm registos completos do histórico do paciente, mesmo que este opte por fazer o tratamento noutro local.
Sobre o enquadramento legal, Andreia Casimiro garante que ele existe — "a regulamentação está lá", responde — e define bem quem pode fazer injetáveis: "são médicos e médicos dentistas que podem fazer injetáveis, dermatologistas também". O problema, segundo ela, está na forma como a fiscalização é feita.
Assim, quando o paciente está informado sobre possíveis reações, consegue responder com confiança e desfazer mitos à volta desta área, que não tem de ser um bicho de sete cabeças. “Ao estarmos de informar o que é que pode acontecer, tu podes explicar a esta pessoa e aí não se cria mais um stress à volta do que é um preenchimento labial, por exemplo", intervém Nicole Fernandes.
"As pessoas têm que perguntar a quem está a fazer os tratamentos qual é a sua formação, a pedir a cédula”, alerta a responsável. No entanto, isso nem sempre é suficiente, visto que há "muita gente que engana e diz que é médica e não é". Por isso, cabe também aos pacientes exigirem mais. "A transparência é mesmo a chave nestas questões", conclui a sócia e diretora-executiva da clínica de Cascais.