Tenho 24 anos e, em março, submeti-me a uma intervenção estética. Não invasiva, no caso. Mas suficiente para ouvir comentários como "tão nova e já te estás a estragar toda", "no meu tempo não havia cá disso" ou, pior, no dia em que saí da clínica, imediatamente após o procedimento, ainda com o rosto vermelho e a caminhar para o negro (perfeitamente normal e para o qual já teria sido previamente preparada por especialistas), "não digas a ninguém o motivo desse negro, diz que caíste".
Não liguei, mas estranhei. Não esqueci o assunto e, em conversa com Francisco Sá Pena, CEO e fundador da NB Clinic, em Lisboa, fiquei a saber que este preconceito — porque não deixa de o ser — não só existe, como está de tal forma intrínseco na sociedade que se torna perigoso. Porque preconceito gera vergonha e, consequentemente, desastres que podiam perfeitamente ser evitados. Como? Com a informação certa.
Há cada vez mais queixas sobre procedimentos estéticos. Ora ficam "aquém das expectativas" ora provocam "dismorfias complexas" e, de acordo com a Ordem dos Médicos (OM), citada pelo jornal "Público", o número de queixosos tem vindo a aumentar, principalmente com experiências relativas à aplicação de botox (toxina botulínica) ou preenchimentos com ácido hialurónico.
Os números assustam. E, ainda que seja injusto generalizar, diferentes cenários em que saía da clínica com a cara deformada passavam em loop na minha cabeça, minutos antes de entrar na NB Clinic, na Rua Castilho, perto do Marquês de Pombal, em Lisboa. Isto até Francisco Sá Pena explicar que tudo o que estaríamos prestes a fazer podia facilmente ser removido com uma única picadela.
Leu bem. Antes de decidir investir o seu dinheiro — e confiar o seu corpo a um profissional — certifique-se de que o espaço tem hialuronidase disponível. Esta substância é utilizada tanto para (raras) situações de emergência, como necroses, que se manifestam através do escurecimento da região, como para um fim totalmente distinto: reverter o resultado da aplicação.
"É um produto que elimina o ácidio hialurónico do nosso corpo. Basta uma injeção, uma picada, e, um dia depois, está como antes", explica Francisco Sá Pena, enquanto Sofia Candeias, a médica dentista e especialista em harmonização orofacial responsável pelo nosso procedimento, acena com a cabeça e acrescenta que é um processo fácil e rápido.
Ainda assim, situações em que o paciente pede para retirar o ácido hialurónico em "excesso", porque "ficou exagerado", raramente acontecem, garante Francisco Sá Pena. Desde que os clientes escutem atentamente as recomendações de Sofia Candeias ou de qualquer outra especialista da clínica, durante a consulta de avaliação, que qualquer pessoa pode marcar: grátis e sem qualquer compromisso implícito.
Não vá com ideias fixas
Antes de avançar com qualquer tipo de procedimento estético na NB Clinic, todos os clientes passam por uma consulta de avaliação. É grátis, sem compromisso e serve apenas para que o especialista conheça o paciente, perceba as suas necessidades e esteja em condições de sugerir quais os procedimentos que mais se adequam.
Sendo que podem (ou não) ir ao encontro do que o cliente teria idealizado previamente. Tal como aconteceu comigo. Entrei na clínica a achar que a única intervenção estética que queria fazer passava pela modelação do nariz, que, desde sempre, apresentava um desnível que me incomodava e a ponta descaída.
No entanto, as minhas expectativas mudaram assim que a especialista Sofia Candeias me explicou que aquilo de que precisava era essencialmente de uma perfiloplastia, que passaria pelo preenchimento do nariz, dos lábios e — pausa dramática — do queixo.
Até à data, nunca tinha sequer olhado para o meu queixo como o culpado do desgosto que sentia sempre que me via em fotos de perfil ou, sem querer, calhava olhar para um espelho lateral. Mas rapidamente percebi que o que estava em causa era o equilíbrio do rosto. E lá me aventurei.
No meu caso, e porque o pretendido era apenas dar volume a determinadas zonas do rosto, ficámo-nos pela aplicação de ácido hialurónico. Mas não saímos do consultório sem esclarecer a dúvida que não queria calar: afinal, qual é a diferença entre botox (toxina botulínica) e ácido hialurónico?
"Sempre que a ideia seja dar volume, utilizamos ácido hialurónico"
Segundo Sofia Candeias, a dúvida é comum, mas a finalidade de cada um não podia ser mais distinta. "O botox é uma toxina que vai bloquear a atividade muscular. Não tem qualquer efeito de preenchimento. Não dá volume. Nada disso. Simplesmente bloqueia a atividade muscular e, portanto, rugas que advêm dessa atividade, que são as chamadas rugas de expressão (na testa, quando se sorri, levanta as sobrancelhas ou faz cara de chateada, por exemplo), com o botox, desaparecem", começou por explicar.
"Quer dizer, depende. As rugas dinâmicas, que são as rugas de expressão, com o passar dos anos intensificam-se e ficam mais vincadas. Quando se tornam estáticas, o botox melhora, mas já não tem o mesmo efeito. Já não tem essa capacidade, porque a pele já está mesmo vincada", acrescenta, com a ressalva de que "sempre que a ideia seja dar volume, tem de ser utilizado ácido hialurónico".
Sofia Candeias explica que o resulto do ácido hialurónico dura entre seis a 12 meses. No entanto, Francisco Sá Pena deixa a ressalva de que tudo depende do organismo do cliente e, ainda do número de vezes que já repetiu o procedimento.
"Varia sempre. Da segunda vez que se faz nariz, provavelmente já dura quase dois anos e a segunda vez que as pessoas fazem lábios, chega a durar um ano e meio", explica.
Quando o resultado desaparece, os lábios ficam murchos?
A resposta é simples, mas a dúvida é frequente: "Não, de todo", garante Sofia Candeias."Há muita gente que pergunta se, quando o resultado desaparece, os lábios vão ficar murchos. Mas não. A absorção é tão lenta que não há sequer essa possibilidade", explica.
O resultado vai desaparecendo de forma gradual ao longo dos meses, no entanto, imediatamente após a aplicação, há diferenças notórias."Os lábios ficam muito mais fáceis de cuidar", explica Francisco Pena. "O ácido hialurónico hidrata os lábios", acrescenta, ainda, Sofia Candeias.
"Temos vários tipos de ácido hialurónico. Não vamos usar o mesmo tipo de ácido para o queixo, para o nariz e para os lábios. São regiões diferentes que precisam de densidades e texturas diferentes. Dentro das tais medidas que geralmente apresentamos em comparação com uma colher de sopa, há densidades de ácido diferentes. Isto é muito importante. Não podemos usar um ácido muito fininho, utilizado, por exemplo, nas olheiras, no queixo, porque a região precisa de um ácido grosso que crie a ilusão de um osso, visualmente e também ao nível do toque."
Quando pensar em quantidades, não olhe a números, mas a colheres
Confuso? Talvez. Mas faz imediatamente sentido assim que olhamos para a imagem que a NB Clinic utiliza para simular as doses administradas.
Uma seringa de um mililitro (ml) de ácido hialurónico — que, para que tenha uma noção prática, preenche apenas 1/4 de uma colher de sopa — tem o custo de 320€. Sendo que, muitas vezes, é quanto basta (e ainda sobra) para determinadas regiões do rosto.
"Nunca pode fazer mais do que uma ampola nos lábios de uma só vez. É um dos erros que as pessoas tendem a cometer. Inevitavelmente, fica com um edema. E esse edema, se resultar da aplicação de duas ampolas, será ainda maior. E a pele precisa de um tempo para recuperar, porque vai esticar", explica Francisco.
"E no nariz é a mesma coisa. Não podemos colocar muito produto de uma só vez, porque vai pressionar os vasos e pode dar origem a uma oclusão vascular", acrescenta Sofia.
Vamos ao que interessa: não doeu e demorou 30 minutos
Há que dizê-lo: tenho pânico de agulhas. Pronto. Sou dessas. Por isso, e também porque esta coisa de ser jornalista alimenta-se de curiosidade, esclareci todas as dúvidas antes de ter coragem de me deitar na marquesa.
Aliás, antes de me deitar na marquesa e de me aperceber de que tinha passado a noite anterior em claro e...em vão. Não doeu. Nada. Zero.
Ainda antes de aproximar qualquer seringa do meu rosto, Sofia Candeias explicou que a anestesia que estava prestes a administrar era "a de dentista", "aplicada no interior da boca, ao nível da gengiva". O objetivo? "Anestesiar tanto os lábios como o queixo", duas das três regiões que decidimos moldar com recurso à aplicação de ácido hialurónico.
"É a melhor forma de conseguir ter um procedimento completamente indolor. Não vai mesmo sentir nada, isso é garantido. Sente-se uma impressão, mas zero dor. Depois vai ficar com a boca torta durante, pelo menos, duas a três horas, por causa do efeito da anestesia, e pronto", reforçou Francisco.
Meia dúzia de picadelas depois — que me transportaram para aqueles momentos imediatamente antes de arrancar um dente do siso — deixei de sentir ambas as regiões. Começámos no queixo e, breves minutos depois, passámos para os lábios. E foi aqui que Francisco destacou a importância de evolução da medicina estética.
"No preenchimento labial, usamos muitas vezes a técnica dos russian lips, que faz toda a diferença. Isto porque antigamente o lábio era preenchido essencialmente de lado e criava um efeito feio, em que tanto em baixo como em cima tinha o mesmo volume e eram quase só duas linhas que se destacavam. Agora, não. Respeitamos a forma natural do lábio, o que permite que nunca deixe de ser natural, quer seja mais volumoso, mais saliente ou mais subido. Tem, acima de tudo, de haver um equilíbrio entre o lábio superior e o lábio inferior", esclareceu.
"O que tentamos explicar às pessoas, muitas vezes, é que isto não tem apenas que ver com ser médico, que é obviamente importante por uma questão de segurança, mas é preciso toda uma componente artística e visual. É muito importante que os especialistas apostem em formações constantes, porque as técnicas estão sempre a evoluir", diz.
Alerta, spoiler: o queixo ficou negro e os lábios incharam. Mas passou rápido
Cerca de 30 minutos e meia dúzia de picadela depois, estava pronta. Durante a intervenção estética, fui ouvindo reações como "que diferença" ou "já está completamente diferente e ainda falta metade de seringa", mas só no final do procedimento é que me foi entregue um espelho para avaliar o resultado. Olhei, a medo, porque o pânico de ficar com o rosto deformado ainda ecoava na minha cabeça, mas assim que ganhei coragem e confrontei a minha nova cara só consegui pensar: como é que não fiz isto antes?
Tantos anos a apagar fotografias de perfil em milésimas de segundos para garantir que ninguém via ou a sentar-me estrategicamente numa ponta da mesa para não ficar "de lado" para ninguém e, afinal, só precisava de 30 minutos para contornar a situação. E para desconstruir esta ideia pré-concebida de que intervenções estéticas são sinónimo de pele desumanamente esticada, lábios gigantes e rostos paralisados.
Não são. Se é possível alcançar estes resultados com intervenções à base de botox e ácido hialurónico? É, claro. Mas não é esse o objetivo primário destes procedimentos.
Francisco Sá Pena, proprietário da clínica e responsável pelo acompanhamento do cliente, à margem das especialistas, frisa que o NB Clinic aconselha sempre os pacientes a fazer procedimentos graduais. "É bom não sentir uma mudança radical. Porque, se o fizer, é estranho, não se reconhece e isso assusta. É sempre melhor se o fizermos de forma gradual. Tem uma vida para o rosto mudar, sendo que já muda naturalmente", começa por explicar.
O processo pode e até deve ser gradual (e há uma explicação)
No meu caso, voltei duas semanas após a primeira intervenção e, em conversa com Sofia e Francisco, cheguei à conclusão de que os retoques que estaria prestes a fazer seriam mínimos, apenas para equilibrar o resultado final. Mais uma vez, o processo de anestesia repetiu-se e, no total, toda a aplicação durou cerca de 20 minutos. Mais uma vez: não dói. No entanto, as picadelas da anestesia sentem-se e podem revelar-se desconfortáveis para quem não está habituado a esta "anestesia de dentista".
Francisco Sá Pena admite que este tipo de intervenções estéticas tendem a ser "viciantes". Por isso, garante que é importante continuar a acompanhar cada cliente, de forma individual e personalizada, para evitar exageros e para perceber qual o estado de cada zona pós-tratamento. "Muitas vezes, os clientes vêm ter connosco e dizem: quero pôr mais, já não tenho nada — e ainda têm. E aí mostramos uma foto do antes, por exemplo", frisa, acrescentando que as médicas especialistas podem efetivamente aconselhar um cliente a esperar e adiar uma nova aplicação.
"Essa calma e esse espaço de tempo" permitem que o cérebro seja capaz de assimilar as mudanças de forma gradual, sem que se tornem viciantes. "Às vezes, menos é mais", remata, com a ressalva de que, às vezes, por mínima que seja a intervenção, nota-se repercussões imediatas na autoestima dos pacientes.
"Tivemos uma paciente de 55 anos que começou a chorar e disse: 'eu nunca pensei que uma coisa tão simples pudesse fazer tanta diferença nesta altura da minha vida'. As pessoas pensam que com 55 anos ou mais já não vale a pena, mas é mentira", frisa.
Francisco Sá Pena defende que este tipo de intervenções estéticas devem ser encaradas como um investimento. "Isto é um tratamento. Se tratas das unhas, do cabelo, da pele, porque é que não hás-de tratar as tuas olheiras ou dar hidratação aos lábios, que é muito mais fácil de alcançar com ácido hialurónico? Se contribui para a felicidade, porque não?", questiona.
Já no que nos diz respeito, podemos confirmar que faz a diferença. Se perdi o medo de agulhas? Não. Longe disso. Mas aprendi que as intervenções estéticas não têm de ser um bicho papão. E ainda bem.