Quando Khloé Kardashian falou sobre o seu mais recente segredo de beleza, a Internet ficou em alvoroço. "Eu uso esperma de salmão", admitiu a socialite num dos últimos episódios da sexta temporada de "The Kardashians". Aparentemente, não é a única cara conhecida a fazê-lo, sendo que a irmã, Kim Kardashian, já tinha admitido que era fã, assim como Jennifer Aniston, de acordo com a "Real Simple". Não há como não ficar a pensar: "Esperma de quê?". A resposta é séria, garantimos. E a boa notícia é que este tratamento já se faz em Portugal.

A responsável por nos explicar a ciência por detrás desta inovação é Ana Silva Guerra, diretora da clínica homónima e médica especialista em cirurgia plástica. A substância que está na génese desta nova obsessão das celebridades chama-se polidesoxirribonucleotídeo (PDRN) e tem vindo a ser estudada há vários anos noutras áreas da medicina, nomeadamente na ortopedia ou na cicatrização de úlceras. Agora, percebeu-se que pode ser usada em várias zonas, nomeadamente no rosto.

"O PDRN é um produto que deriva do esperma de salmão e tem propriedades regeneradoras. Foi por aí que começou a ser explorado na estética", explica à MAGG, acrescentando que este composto é, na verdade, "um fragmento de ADN" do peixe. Mas calma, ninguém lhe vai passar peças de sushi no rosto. Este "ADN de salmão", como lhe chamam, é uma fração muito específica do material genético que vive nas células sexuais do peixe. 

Quando bem aplicado, chega à derme – a camada mais funda da pele, diga-se – e diz aos fibroblastos: "toca a produzir colagénio". E eles, pelos vistos, obedecem. O resultado é uma pele mais hidratada, mais luminosa e mais resistente. Segundo a especialista, também faz maravilhas na "cicatrização cutânea" e tem ainda "propriedades anti-inflamatórias". Por isso, é um ótimo aliado, por exemplo, para "quando fazemos um tratamento mais agressivo, como um laser ou microagulhamento, porque acelera a regeneração da pele".

ana silva guerra
ana silva guerra Ana Silva Guerra, médica especialista em cirurgia plástica

No entanto, apesar da origem invulgar, a substância obtida através do esperma do salmão não dever ser vista como algo "milagroso", visto que "não substitui o ácido hialurónico, a toxina botulínica, os bioestimuladores" e muito menos uma cirurgia, cujo objetivo é corrigir imperfeições. "O PDRN atua na superfície. Melhora o brilho, a hidratação e reforça a barreira cutânea — mas não corrige rugas ou flacidez", reforça Ana Silva Guerra.

Por isso mesmo, este tratamento tem sido apelidado por alguns médicos como um "skin booster" – uma espécie de acelerador de qualidade de pele, digamos. É, portanto, ideal para quem procura aquela luminosidade saudável, especialmente em vésperas de um evento ou numa fase em que a pele parece baça e sem vida. A sua ação pode ser imediata, mas os benefícios aumentam à medida que o tempo vai passando e que vamos apostando cada vez mais na sua administração.

Como é feito o procedimento?

Para o tratamento resultar, é preciso que o ADN do salmão chegue ao sítio certo – afinal, o PDRN "vai atuar a nível celular, ou seja, tem de ser arranjar a forma de ele, ao ser aplicado na pele, entrar dentro das próprias células". Para isso, faz um caminho até lá chegar e conta com a ajuda de técnicas como o microagulhamento ou a dermapen, que consistem na perfuração da pele, fruto das agulhas que os instrumentos utilizados para o efeito contêm.

"Se colocarmos líquido sobre a pele, é muito difícil de atravessar a nossa barreira [cutânea], porque é enorme – estávamos mal se a pele fosse porosa ou permeável", explica Ana Silva Guerra, acrescentando que esta "tem de ser danificada controladamente para que o PDRN possa entrar e chegar ao alvo, que são as células". Desta feita, as "pequenas perfurações abrem microcanais na epiderme", pelo que é através dessas microportas que a substância faz o seu trabalho silencioso, mas eficaz.

E porquê o salmão e não outro peixe? De acordo com a cirurgiã plástica, tem que ver com a linhagem germinativa desta espécie e não com, por exemplo, as gorduras saudáveis pelas quais todos conhecemos este peixe. Ou seja, "estamos a falar das células que têm a missão de criar um novo ser, que são especiais, visto que têm cadeias de aminoácidos que mostraram ser eficazes na regeneração", reitera, desmistificando o assunto desde logo.

"Sempre que há um processo de cicatrização, há inflamação. Se eu reduzir essa inflamação, vou estar a melhorar o meu processo de cicatrização, ou seja, vou beneficiar esse processo. Logo, ao mesmo tempo que acelera a regeneração, acelera a epitilização, ao mesmo tempo também diminui a inflamação", afiança, referindo-se aos benefícios – que não dizem respeito apenas ao rosto, já que o PDRN também pode ser aplicado no decote, zona que é habitualmente negligenciada no que diz respeito à skincare. 

Com que regularidade pode (ou deve) ser feito?

O PDRN não é daqueles tratamentos que exigem fidelidade cega nem visitas semanais à clínica. Segundo Ana Silva Guerra, a frequência depende de pessoa para pessoa e, claro, dos objetivos que quer atingir. Há quem opte por sessões mais rotineiras, como parte de um estilo de vida em que o cuidado constante é rei, mas também há quem recorra ao tratamento apenas em momentos estratégicos – quando sente que a pele podia mesmo beneficiar do mesmo, diga-se.

"Por exemplo, se tivermos uma jovem de 26 anos que não tem necessidade nenhuma de toxina botulínica, porque não tem rugas, e não precisa de tratamentos com ácido hialurónico, porque está tudo nas proporções certas, mas ela sente que a pele é um bocadinho baça, o PDRN pode ajudar", explica, dizendo que este vai ajudar a conferir "brilho, hidratar e melhorar a qualidade" da pele. Por isso, nesses casos, o indicado é fazer de "seis em seis semanas", diz-nos. 

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Por outro lado, se tivermos uma senhora mais velha, a história é outra. "Se a paciente, que já faz o seu ácido hialurónico e botox, sente que a pele está mais fina, mais quebradiça e gostava de a iluminar e hidratá-la, então, com a adjuvância aos outros dois, pode fazer outro tratamento – uma esfoliação, por exemplo – depois pôr o PDRN", enfatiza, mencionado que a vantagem do tratamento é precisamente essa versatilidade de não haver um protocolo fixo.

Trocando por miúdos, o PDRN é daqueles tratamentos "que se pretende que se faça com alguma cadência, para tirarmos o máximo partido dele". Até porque a palavra-chave no que toca aos tratamentos estéticos deve ser, na maioria dos casos, a prevenção, visto que assim é que se conseguem resultados mais promissores. uma coisa preventiva que depois também vamos ver frutos no futuro. Isto é cuidar da pele, é como pôr creme no corpo", remata.

Há contraindicações?

Apesar de vir do mar e de parecer um produto natural e quase zen, o PDRN pode não ser para toda a gente. Há algumas contraindicações importantes. "Se a pessoa tiver alergia ao peixe, não pode fazer o tratamento com PDRN", alerta a médica. Faz sentido, já que o princípio ativo vem do esperma de salmão, não é? Por isso, se fica cheia de comichão só de olhar para uma peça de sushi, o melhor é não arriscar.

Outra situação em que o tratamento está fora de questão é a gravidez. Não porque se tenha provado que faz mal, mas precisamente porque ainda não se provou o contrário. “Embora não haja uma contraindicação conhecida, não há estudos suficientes que provem que é seguro nesse contexto", explica a médica. É aquela regra básica da estética (e da medicina): se está grávida, jogue sempre pelo seguro – há tempo para brilhar depois.

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De resto, o tratamento é "bastante bem tolerado" por todas as idades – e até por peles sensíveis. A médica diz que os efeitos secundários são mínimos e, na maioria dos casos, quase inexistentes. Claro que, como em qualquer procedimento que envolve microagulhas, pode "haver alguma vermelhidão ou sensibilidade" nos primeiros dias, mas nada de grave. Ainda assim, é sempre importante fazer uma boa avaliação prévia e confiar em profissionais qualificados.

"Tem que ser feito em pele sã que foi trabalhada com microagulhamento ou com uma esfoliação profunda", afirma a médica, reiterando que, "para mais do que isso, devemos ser cautelosos, porque ainda faltam muitos estudos na área específica da dermatologia para se poder dizer que isto é 100% seguro noutros contextos" que não sejam aqueles em que o procedimento já foi testado e, por isso, estampado com um selo de segurança e eficácia.

Caso queira testar as águas (vá, tivemos de fazer este trocadilho) e render-se às maravilhas do PDRN, pode fazer o tratamento em Portugal em locais como a clínica Ana Silva Guerra, que fica no número 29B da rua Augusto Gil, em Lisboa. De acordo com a médica, o procedimento tem um custo de cerca de 200€ por sessão.