Aquilo que parecia ser a resolução de um problema tornou-se num autêntico pesadelo para Joana Marques. A maquilhadora de 26 anos, que vive em Inglaterra, veio de propósito a Portugal, em março, para realizar um procedimento estético na Beauty Clinic, uma clínica cujo proprietário é um ex-concorrente da primeira edição portuguesa do "Big Brother" – Mário Ribeiro, que já esteve preso por vários crimes, como sequestro, roubo agravado e roubo qualificado, posse de arma proibida e falsificação de matrícula, diz a "Flash!". E a coisa deu para o torto, segundo partilhou nas redes sociais.

A maquilhadora, natural de Vila do Conde, tinha o desejo de fazer um preenchimento labial com ácido hialurónico, levado a cabo com produtos injetáveis que se apresentam embalados em seringas com a substância pronta a aplicar. O objetivo passa por aumentar o volume ou corrigir potenciais assimetrias nesta zona do rosto. Foi precisamente este último problema que a fez começar à procura de clínicas onde pudesse resolvê-lo.

Com base em pesquisas rápidas no Google e Instagram, encontrou a Beauty Clinic, que ficava em Vila Nova de Gaia, onde ia fazer um curso. Pareceu-lhe fiável, embora não tenha realizado mais pesquisas sobre as habilitações da clínica e respetivos profissionais para realizar os procedimentos. Até porque essa informação não consta no site oficial da mesma, ao contrário de outros estabelecimentos do género em Portugal.

Lip Fillers. O que são, para que servem e quais as vantagens?
Lip Fillers. O que são, para que servem e quais as vantagens?
Ver artigo

"Foi uma falha minha não ter pesquisado por isso", admite Joana Marques, em entrevista à MAGG. "Fui levada pela classificação e pelos seguidores, sim. É que se tivermos uma clínica de 100 seguidores e outra com 18 mil, o que é que a gente pensa? Que o de 18 mil tem mais procura, é mais qualificado. Hoje em dia, percebo que não", continua, acrescentando que o interesse cresceu pela rapidez com que o estabelecimento de Mário Ribeiro lhe respondia às mensagens.

Sem qualquer consulta de avaliação, revelaram-lhe o valor da intervenção (algo que, normalmente, depende da quantidade aplicada do produto, que só é conhecida depois de se ter contacto com o paciente, diga-se). "Disseram-me que era 175€ para fazer o procedimento e que tinha de dar mais 17,50€ para depósito. Marcámos para ir fazer o tal procedimento", explica a maquilhadora, acrescentando que a situação começou a descambar logo à entrada da clínica.

Mário Ribeiro terá sido responsável pelo procedimento

mário ribeiro
mário ribeiro

Ao chegar à clínica, Joana Marques ficou alarmada com a falta de procedimentos formais, habituais neste género de intervenções. “Eu entrei, não assinei nenhum tipo de papel, não assinei nada, ele só disse 'olá, sou o Mário'", explica à MAGG, frisando que este – o único presente na clínica – a encaminhou para o gabinete onde o próprio, que não tem qualificações para tal, lhe terá realizado o procedimento (e nem o local lhe parecia normal).

"No momento em que eu entrei, aquilo não parecia uma clínica de estética", conta a maquilhadora, descrevendo a sala como se de uma loja esotérica se tratasse. "Havia vários produtos, várias coisas, como pedrinhas" ou objetos que remetem para o mau olhado, de acordo com a própria. E mesmo estando lá dentro, alega que o responsável continuou sem fazer quaisquer perguntas que pudessem importar para a realização do preenchimento labial.

Não me fez nenhum tipo de pergunta sobre gravidez, por exemplo, ou sobre outros tratamentos passados – algo que me foi feito na última clínica [em que corrigiu o trabalho de Mário Ribeiro]", frisa Joana Marques, dizendo que a única questão que o ex-concorrente do "Big Brother" lhe colocou incidiu sobre o objetivo da mesma na realização daquela intervenção.

O que diz a Sociedade Portuguesa de Medicina Estética e Cosmética sobre casos deste género?

  • O médico é o profissional legalmente habilitado ao exercício da medicina, capacitado para o diagnóstico, tratamento, prevenção ou recuperação de doenças ou outros problemas de saúde, e apto a prestar cuidados e a intervir sobre indivíduos, conjuntos de indivíduos ou grupos populacionais, doentes ou saudáveis, tendo em vista a proteção, melhoria ou manutenção do seu estado e nível de saúde.
  • Deste modo, os médicos possuidores de inscrição em vigor na Ordem dos Médicos são os únicos profissionais que podem praticar os atos próprios dos médicos, nos termos do preestabelecido pelo Estatuto da Ordem dos Médicos.
  • O ato médico consiste na atividade diagnóstica, prognóstica, de vigilância, de investigação, de perícias médico-legais, de codificação clínica, de auditoria clínica, de prescrição e execução de medidas terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas, de técnicas médicas, cirúrgicas e de reabilitação, de promoção da saúde e prevenção da doença em todas as suas dimensões, designadamente física, mental e social das pessoas, grupos populacionais ou comunidades, no respeito pelos valores deontológicos da profissão médica.
  • Constituem ainda atos médicos as atividades técnico-científicas de investigação e formação, de ensino, assessoria, governação e gestão clínicas, de educação e organização para a promoção da saúde e prevenção da doença, quando praticadas por médicos.
  • Neste âmbito, a frequência em formação não conferente de grau (vg., cursos, aulas, conferências, palestras de formação, entre outros) não habilita pessoal não médico para o exercício de atos médicos.
  • A realização de atos médicos por pessoal não médico constitui uma violação de preceitos legais e regulamentares, o que se poderá consubstanciar na prática de um crime, nomeadamente no crime de usurpação de funções, punível com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa.
  • Qualquer pessoa poderá denunciar a prática destes factos, atenta a natureza pública do crime em questão.

A jovem de 26 anos relatou uma série de problemas no âmbito deste episódio. "[Mário Ribeiro] deu-me quatro injeções, mas eu ainda sentia o lábio, então deu mais quatro. Ao todo, foram oito injeções na gengiva", explica, referindo-se à anestesia utilizada. Em relação aos materiais utilizados, confessa que, por estar "de olhos fechados" durante o processo, não consegue dizer se as condições de higiene estavam asseguradas.

Isso não significa que não tenham existido outras práticas questionáveis. "[No fim do procedimento] usou uma espécie de batom roxo para os hematomas [provavelmente, Arnidol] diretamente na minha boca, ainda com sangue. Depois, usou um gloss, também sem aplicador descartável", denuncia, acrescentando que, no fim, também lhe foram passadas as indicações erradas no que toca a atingir o resultado desejado.

"Disse-me que podia usar batom para esconder os hematomas logo e disse que podia massajar os meus lábios, porque tenho uma amiga minha que ficou com umas bolinhas [granulomas, causados pela acumulação do produto]", afirma. E, de acordo com o que a própria ouviu de outros profissionais, isso não corresponde à verdade.

"Voltei para Inglaterra e resolvi numa outra clínica"

Quando Joana Marques recebeu "uma chuva de mensagens" que a alertavam para o mau estado dos lábios, que continuavam tortos e inchados, entrou em contacto novamente com a Beauty Clinic. Como qualquer paciente preocupado, enviou fotografias através das redes sociais e questionou se o que estava a acontecer era normal, explicando que fez o que foi aconselhado no rescaldo do procedimento (as massagens, portanto).

A resposta da clínica desalentou-a. "Ele desmentiu, disse que não devia ter tocado e que a culpa [de os lábios terem ficado deformados] foi minha", explica. "Tentaram contradizer-me. Nunca me tentaram ajudar. Diziam 'a culpada é você'", continua a maquilhadora, que teve de procurar ajuda no Reino Unido para reverter os efeitos desta intervenção.

Foi numa nova clínica que foi informada de que o preenchimento tinha sido mal feito. Olhando para trás, a jovem de 26 anos agora percebe que os resultados publicados na página de Instagram da Beauty Clinic são roubados a "outros profissionais", como a própria descreveu nas stories partilhadas esta terça-feira, 6 de agosto, onde denunciava o caso.

Tendo isto em conta, teve de remover o preenchimento labial – para isso, é usada uma substância intitulada hialuronidase. É utilizada tanto para (raras) situações de emergência, como necroses, que se manifestam através do escurecimento da região, como para o fim de que Joana Marques estava à procura: reverter o resultado da aplicação, para que pudesse ser realizada novamente.

Beauty Clinic diz que está a tomar "todas as providências legais"

A MAGG contactou a Beauty Clinic, através do Instagram, para esclarecimentos em relação a este episódio. A clínica respondeu rapidamente. "Em relação à questão mencionada, gostaríamos de informar que todas as providências legais acerca do sucedido já estão a ser tomadas", lê-se na mensagem.

"Estamos cientes da campanha gratuita de difamação em curso e garantimos que todos os responsáveis por essas informações falsas serão responsabilizados em sede própria", continuou a Beauty Clinic. "A nossa clínica sempre prezou pela transparência e qualidade dos nossos serviços, e qualquer insatisfação legítima é tratada com a máxima seriedade e profissionalismo", rematou.

A MAGG voltou a insistir, tentando ainda falar com um (ou o) responsável do estabelecimento, sem sucesso. "Já informámos que todas as providências legais acerca do assunto estão a ser tomadas. Quando falarmos sobre o assunto será em sede própria e em lugar de direito para o mesmo", retorquiu a página da Beauty Clinic.

Enquanto isso, Joana Marques diz que não quer que este assunto vá para tribunal. Não obstante, espera que a justiça seja feita, baseando-se na boa vontade de Mário Ribeiro para tal. “Espero que ele venha à minha procura, porque eu não quero entrar num processo enorme", concluiu.