A história de Ângelo Rodrigues é, para muitos, um exemplo de força, superação e a prova de que os milagres acontecem. Um ano depois da tragédia, Ângelo Rodrigues está prestes a regressar ao pequeno ecrã, na SIC onde continua a dar vida a Bruno na quarta temporada da série "Golpe de Sorte".
Foi há um ano que Portugal soube que o estado de saúde do ator era complicado e reservado. Ângelo Rodrigues, na altura com 31 anos, deu entrada no Hospital Garcia de Orta, em Almada — onde permaneceu durante 2 meses — com uma infeção generalizada. A alegada causa, uma injeção de testosterona, nunca foi publicamente revelada nem tão-pouco confirmada pelo ator.
Esteve entre a vida e a morte, e em nenhum momento se pensou que conseguisse sair do hospital tão cedo. O ator teve alta hospitalar em outubro, mês em que regressou também às redes sociais. "Ressuscitado e mais forte que nunca. Obrigado por me fazerem acreditar que esta caminhada continua a fazer sentido juntos", disse na publicação que partilhou no Instagram no dia 24 de outubro de 2019.
O regresso à vida fora do hospital e ao trabalho
Ângelo Rodrigues saiu do hospital de cadeira de rodas, passou para as muletas e em dezembro já andava pelo próprio pé sem qualquer tipo de auxílio.
Nesse mês deu a sua primeira entrevista. O ator foi convidado de Cristina Ferreira numa emissão especial d "O Programa da Cristina" que foi transmitida a um sábado, dia 7 de dezembro, depois do "Jornal da Noite". Na altura, o ator tinha acabado de deixar as muletas e já tinha regressado às gravações do telefilme da série “Golpe de Sorte”, cuja história teve de ser alterada devido à situação delicada em que Ângelo se encontrava.
No programa, contou à apresentadora que, no início de agosto, começou a sentir que o corpo lhe estava a falhar, tinha febre e já revelava princípios de anemia, mas continuou a fazer uma vida normal. Antes de ser internado em estado grave, o ator já tinha estado no hospital, mas decidiu voltar para casa mesmo depois de saber que o estado clínico era complicado.
"Nunca na minha vida imaginei que ia ficar em coma", revelou o artista.
Ângelo Rodrigues esteve em coma induzido durante quatro dias depois de, como foi na altura noticiado, sofrer uma septicemia que fez com que os órgãos falhassem e que levou a uma paragem cardíaca. Quando acordou do coma, o ator não tinha noção de nada do que se tinha passado. "Eu não me lembro de absolutamente nada dos quatro dias em que estive em coma e dos três dias anteriores".
O ator diz que só conseguiu perceber a gravidade da situação através dos testemunhos dos médicos, amigos e familiares. A perna esquerda foi a parte do corpo mais afetada, estando mesmo em risco de ser amputada. Em entrevista a Cristina Ferreira, Ângelo revela que esteve mais de 2 meses sem olhar para ela. Só no dia em que saiu do hospital, depois de tirar as ligaduras, teve coragem de perceber as marcas que o episódio lhe tinha deixado.
Durante os meses em que esteve internado no hospital, optou por não ter acesso ao telemóvel nem à internet. Preferiu manter-se apenas rodeado de pessoas que lhe transmitiam a "energia certa". "Há uma poderosa ligação entre a mente humana e a saúde física."
Ângelo Rodrigues esteve sempre focado na recuperação. "Não houve um único segundo durante o tempo em que estive internado, que achei que não ia conseguir ou que não ia recuperar a 100%". O ator acredita que foi esta "força indestrutível" que o salvou. "Depois do que passei, fica difícil não acreditar em algo transcendente", admitiu na publicação que partilhou no Instagram no dia sete de dezembro de 2019.
As viagens
Além da representação, viajar é uma das maiores paixões do artista, que já visitou mais de 30 países. Ângelo Rodrigues descreve a viagem à Amazónia como "a experiência mais transformadora" da sua vida e a "mais marcante". Acabou a relação que tinha, vendeu o carro, recusou trabalho e partiu. Passou quinze dias a sobreviver sozinho na floresta e acabou a viver com uma tribo indígena. Depois desta viagem, Ângelo Rodrigues decidiu elevar a fasquia e partiu para Moçambique onde fez voluntariado. Deu aulas de teatro durante um mês e gravou toda a experiência para a poder transmitir num documentário que realizou ao qual deu o nome de "A Terra dos Mil Sorrisos".
Durante a quarentena, o ator decidiu apostar na elaboração de um documentário sobre a viagem à Amazónia que está prestes a estrear e chamar-se-á "Não há espelhos na Amazónia."
A experiência por que passou deu-lhe ainda mais incentivo para viajar e conhecer novos sítios. Saiu de Portugal assim que a saúde lho permitiu e viajou durante várias semanas pela Jordânia, onde procurou o "desconforto" como forma de encontrar "melhores histórias". A aventura foi documentada através do Instagram, onde Ângelo foi postando várias fotos dos locais por onde passou.
"Já olho para as minhas cirurgias como as medalhas que Michael Phelps ganhou em Pequim"
Já depois desta viagem, em maio, o ator foi submetido à oitava operação, iniciando assim a segunda fase de reconstrução da perna que "sapateou entre a vida e a morte". Esta intervenção cirúrgica teve como objetivo "reduzir o enxerto de 27 centímetros" que tinha na perna, corrigindo possíveis complicações.
Na publicação em que se mostrou deitado numa cama de hospital, Ângelo Rodrigues assumiu alguns medos e ansiedades: "Dezassete escadas separam o hall de entrada da minha casa e o meu quarto – cada uma do tamanho dos meus fantasmas. Sentar-me com eles talvez tenha sido uma das decisões mais sensatas da minha vida. São gajos fixes e, o melhor, domesticáveis. A minha visão de túnel evidencia ainda mais a minha mira – o meu quarto.”
Mas o positivismo vence sempre na vida do ator: "Nada disto atrasará um das minhas duas metas: dançar como o Chaplin no 'Tempos Modernos' e fazer um sprint com um atleta de alta competição. Como há babuínos com mais expressividade do que eu a dançar, a 2ª opção tem de ser possível. Sinto que é a isto que sabe a matéria dos vencedores. É que ter uma meta no horizonte é como atirar carne a um tigre, ele só vai parar quando ficar satisfeito."
De "Doce Fugitiva" a "Golpe de Sorte": 14 anos a fazer televisão
Aos 32 anos, Ângelo Rodrigues já conta com uma longa carreira televisiva. Estreou-se no pequeno ecrã no ano de 2006 na novela "Doce Fugitiva", da TVI, com o papel de Frederico. No mesmo canal, um ano depois, interpretou a personagem Luís na quinta temporada de "Morangos com Açúcar".
Depois disso, a carreira do ator foi sempre a subir. em 2008 e 2009 deu vida a Zé João e Germano Torres em "Casos da Vida" e "Deixa que te leve", também da TVI. No ano seguinte estreou-se na SIC, onde tem permanecido até hoje. Participou em "Laços de Sangue", vencedora de um Emmy Internacional, "Rosa Fogo", "Sol de Inverno", "Mar Salgado", "Poderosas", "Amor Maior", "Ministério do Tempo" (série da RTP1) e "Vidas Opostas".
Em 2012, sob o nome Angel-O, lançou o seu primeiro single intitulado de "Só Quero Que Saibas".
Em 2019, iniciou o projeto de "Golpe de Sorte" no qual permanece até hoje. A série da estação de Paço de Arcos foi um verdadeiro sucesso desde o início, tendo sido transmitida em diversas temporadas e ainda em telefilme.
"Golpe de Sorte" regressa brevemente ao pequeno ecrã. Ângelo Rodrigues iniciou as gravações poucos dias depois da oitava operação e fez questão de mostrar o esforço que fez para gravar ainda em condições pouco desejáveis. "Quando matarem saudades do Golpe de Sorte, lembrem-se que eu estava a fazer um esforço homérico para gravar sem muletas. "