
Joana Marques começou a ser ouvida esta sexta-feira, 11 de julho, no Palácio da Justiça por causa do processo colocado pelos irmãos Rosado, mais conhecidos como Anjos. A humorista, que está a ser processada pela dupla por mais de um milhão de euros devido a um vídeo que publicou nas redes sociais em 2022, esclareceu que a sua única intenção foi fazer rir o seu público, e que percebe que não consegue agradar a toda a gente. Disse ainda estar de acordo com os irmãos sobre os problemas de incitar o ódio, mas garantiu que não foi isso que fez com o seu vídeo.
“Vídeo era para rir, ou tinha outra intenção?”, perguntou a juíza a Joana Marques, citada pelo “Observador”. “Era para rir. Obviamente que não [tinha outra intenção]. A intenção é igual a tudo o que faço, intenção de fazer rir”, respondeu a humorista, esclarecendo também que não “tinha maneira de saber” se existia ou não um problema técnico na atuação da banda aquando do canto do hino nacional no MotoGP que se realizou em Portimão, que foi o ponto de partida para toda a situação. Joana Marques até pensava que a atuação tinha que ver com a aproximação do 25 de abril, uma vez que a performance se deu a 24.
“Achei que o vídeo tinha sido do próprio 25 de Abril. Não costumo ver coisas de motas”, disse, compreendendo que o momento tinha sido “insólito” e fugido ao “expectável”, mas acrescentando que, quando viu o vídeo, este já estava viral nas redes sociais. Isto fez então com que Joana Marques fizesse uma publicação onde intercalou a atuação dos Anjos com algumas críticas feitas no programa “Ídolos” a outros artistas, o que, pelo que os irmãos Rosado afirmam, prejudicou muito a carreira da banda.
“Considerei caricato, na altura estava no ‘Ídolos’ e lembrei-me de juntar os dois universos”, disse à juíza. “As pessoas que estão a ver o vídeo percebem do que se trata. Sempre que acontece uma coisa que corre mal ou diferente do esperado, é comum [usar-se esse tipo de conteúdo]”, acrescentou. Além disso, Joana Marques disse que escolheu as melhores imagens que continham um ângulo mais cómico, ao que a juíza perguntou se não eram “as piores”. “É subjetivo”, respondeu a humorista.
“Procuro o que há de engraçado para analisar, não o que a pessoa é, mas o que a pessoa faz”, disse também, respondendo à questão sobre as diferenças entre os programas “Isto É Gozar Com Quem Trabalha” e “Extremamente Desagradável”. “Não agrada a toda a gente”, acrescentou. “É uma série de exercícios que gosto de fazer, é a minha profissão. Gosto de encontrar graça nas coisas”. Mais tarde, Joana Marques explicou que tinha sido contactada pelos Anjos através de duas cartas, uma a dizer que o vídeo “lesava a honra de Nelson e Sérgio” e a pedirem para apagar a publicação, e outra a dizer que os irmãos iam avançar para tribunal.
“A minha profissão é mais suscetível de provocar reações acaloradas (...). Estou empática com as questões levantadas aqui, como pessoa que também recebe [mensagens de ódio]. Percebo o quão chato isso é (...). Devíamos fazer queixa dessas pessoas. Tenho uma opinião muito parecida com o Nelson e o Sérgio sobre mensagens de ódio, talvez a única coisa em que estamos de acordo”, disse também Joana Marques, mas acrescentou que tal não era o caso do seu vídeo.
Isto porque Joana Marques considerou que tanto os Anjos como a sua defesa olham para o “humor como desconsideração”, dizendo que a verdade é que os visados só gostam do que é dito no humor quando controlam os comentários. “Humor é muito democrático: ninguém está a salvo do ridículo. Não existe nenhum humor que não vá ofender ninguém. Humor que não ofende não existe”, disse.
No entanto, a advogada dos irmãos Rosado vai mais longe e pergunta a Joana Marques se não pensou que isto poderia evocar alguns comentários de pessoas de extrema-direita. “Quando produz o conteúdo tem ideia que era uma temática, até pelo hino e pelo 25 de abril, que ia tocar na questão do nacionalismo e no fanatismo levado ao extremo da extrema-direita?”, perguntou. “Não. Não vejo [o tema] com essa gravidade ou seriedade”, respondeu a humorista, acrescentando que não recebeu qualquer comentário vindo da extrema-direita.
“Não conheço todos os seguidores que tenho, mas penso que são pessoas que pensam pela cabeça”, disse Joana Marques no fim da primeira parte da audiência. “Estão na minha página à procura de conteúdos de humor (...). Não me sinto como instigadora”, finalizou.