Com apenas 19 anos, Beatriz Frazão é atriz de teatro, televisão e cinema. Está atualmente em cartaz com o "Diário de Anne Frank", que considera o papel mais gratificante que já fez, e no pequeno ecrã na novela "Por Ti", na SIC, onde contracena com o namorado, Simão Fumega.
Com uma carreira de sete anos, que começou na novela da TVI "Jardins Proibidos", em 2015, a jovem atriz revela que a competição é a parte mais complicada do meio em que trabalha e que a novela que mais gostou de fazer foi "Amor Maior".
Tímida, Beatriz Frazão conta à MAGG como foi receber o Prémio Revelação dos Globos de Ouro em 2017, escrever o seu livro “Queres ser ator?” e revela que planeia apostar numa carreira internacional, com o sonho de fazer uma série da Netflix. Revela, também, como conheceu o namorado, o também ator Simão Fumega, e como foi trabalhar com ele.
Depois de a MAGG ter entrevistado Beatriz Frazão, o Teatro da Trindade anunciou que a peça "Diário de Anne Frank" vai volta à cena em 2023, de 26 de julho a 8 de outubro, desta vez no Teatro Maria Matos.
Está atualmente em cena na peça “Diário de Anne Frank” em cena. Como está a ser lidar com a intensidade de interpretar uma personagem tão marcante da História do século XX?
Está a ser mesmo muito bom. Já estamos em cena quase há quatro meses, aliás já acaba dia 30 de dezembro. É incrível fazer uma peça tão pesada como esta, mas ao mesmo tempo tem uma parte cómica. Tem muitas camadas, mas não é uma peça apenas para chorar. Vermos o público todo a aplaudir e 90% das pessoas a chorar é muito gratificante, porque significa que conseguimos passar a mensagem. Para mim é muito especial estar a fazer uma peça como esta e estar a representar uma figura tão importante da Segunda Guerra Mundial.
Como foi a preparação para esta peça por se tratar não de uma personagem, mas sim de uma pessoa real e com uma história verídica?
Como é uma personagem real e, ainda por cima, a Anne Frank, foi logo uma grande responsabilidade para mim e o Marco Medeiros [encenador] estava-me sempre a dizer que eu tinha uma grande responsabilidade. Para me preparar li o diário [de Anne Frank] três vezes para perceber melhor quem ela era. O encenador me estava sempre a dizer é que eu tinha de ser a voz do espetáculo, tinha de ter garra, ao mesmo tempo tinha de ser a luz daquele esconderijo, porque se não fosse “eu” [a Anne Frank] era tudo triste e a chorar.
Consegue deixar toda a emoção envolvida em cima do palco ou sente-se emocionalmente desgastada?
Consigo deixar tudo no palco, sempre fui assim, por acaso. Nunca levei nada para a vida pessoal, mas o que me faz triste na vida pessoal aproveito para chorar no palco e depois esqueço-me disso completamente.
"Quando era criança eu não tinha amigos nenhuns. Não porque não gostava deles, mas simplesmente não queria"
Com apenas 13 anos foi para o Grupo de Teatro Infantil Animarte. O que significou para si?
Significou muito. Eu lembro-me que, quando fui fazer o casting para o Animarte, estavam lá imensos miúdos e só podiam passar duas raparigas. Cada um tinha de cantar uma música e eu não tinha confiança nenhuma a cantar. Lembro-me que cantei a música “Fly Me to the Moon” e depois comecei a chorar, mas disseram-me para não me preocupar, porque eu já tinha ficado. A minha primeira peça foi “A Princesinha”, depois fiz várias com a Animarte, a minha primeira profissional foi o “Sonho de uma Noite de Verão”, também com o Marco Medeiros, depois fiz a “Alice no País das Maravilhas” e agora estou a fazer “o Diário de Anne Frank”.
Quando se estreou já tinha em mente que queria representar o resto da sua vida?
Tinha, eu era “maluca” por isto desde os 7 anos. Eu sabia perfeitamente que era isto que eu queria fazer e não descansava enquanto não conseguisse. Eu não ia desistir, mesmo que estivesse a vida toda a tentar.
Já disse várias vezes que não se imagina a ser outra coisa que não atriz. Quando era criança não sonhou ser outra coisa?
Não, acho que nunca tive. É engraçado, porque quando era criança eu não tinha amigos nenhuns. Não porque não gostava deles, mas simplesmente [porque] não queria. Então chegava à hora do intervalo na escola e, enquanto os meus amigos todos brincavam, eu estava completamente sozinha a criar personagens e a chorar, inventar cenas. Os meus pais até achavam que eu era maluca, porque do nada eu estava a chorar em frente a um espelho e eles perguntavam-me "Bea, está tudo bem?" e eu "Está, está".
Em 2015, fez a novela “Jardins Proibidos”. Percebeste logo que querias continuar a ser atriz de novelas?
Foi a minha primeira oportunidade, foi muito bom. Mas depois dos “Jardins Proibidos” tive uma fase sem fazer nada, o que é normal, e tive vários castings. Em três castings para novelas muito importantes fiquei entre as duas selecionadas finais, mas no mesmo dia o meu pai dá-me a notícia que tinha perdido todos. Aí eu lembro-que foi mesmo difícil, chorei a tarde toda, não queria acreditar. Depois, mais tarde, percebi que esses “nãos” foram muito importantes, porque se eu tivesse ficado numa dessas novelas não teria feito depois a novela “Amor Maior”, que foi a grande novela que me deu um Globo de Ouro. Por isso acho que faz tudo parte, mas foi uma fase complicada.
De todas as novelas que já fez, qual a que mais gostou?
Talvez tenha sido a “Amor Maior”, porque a minha personagem era muito marcante e tinha cenas muito difíceis e muito desafiantes. Mas eu gosto muito de todas. Também gostei muito da “Para Sempre”, porque fazia de vilã e foi um desafio interessante, o de fazer de uma rapariga má. Na “Por Ti” tive de aprender a tocar guitarra, o que foi muito bom, porque gosto de personagens que me façam aprender coisas. Mas a “Amor Maior” foi a que me marcou mais.
Venceu o Globo de Ouro na categoria Revelação em 2017. Como foi ganhar um prémio tão importante com apenas 13 anos?
O dia do Globo de Ouro foi dos melhores dias para mim, porque é muito gratificante eu saber que o meu trabalho estava a ser reconhecido daquela maneira, eu só pensava “como é que isto é possível?”. Foi mesmo muito especial para mim. Ao mesmo tempo tinha o seu lado mau, porque depois comecei a sentir muita pressão em cima de mim e sentia que nos próximos projetos que fizesse tinha de continuar a ser boa e não podia desiludir as pessoas, porque toda a gente sabia que eu tinha um Globo de Ouro. Isso mexeu muito comigo, porque ainda não tinha confiança suficiente para lidar com essa situação. Agora, olho para trás, e acho que consigo lidar melhor com essa pressão e estou muito feliz por ter acontecido.
Disse num programa da SIC que a novela "Amor Maior" lhe causou pesadelos. Foi difícil desligar-se dessa personagem?
Nunca me afetou muito, foi só mesmo pesadelos no “Amor Maior”. Toda a gente me perguntava isso, se eu chegava a casa a chorar e diziam ao meu pai para me dar chocolates por estar sempre muito triste, mas eu estava muito feliz, na verdade.
Qual foi o papel mais desafiante que fez até hoje?
A Anne Frank está a ser o papel mais gratificante, porque eu não sei se alguma vez vou voltar a ter a oportunidade de representar uma personagem real e com esta importância.
Em entrevista ao "Curto Circuito" disse que sonhava fazer o seu próprio guião. Ainda são projetos que estão na gaveta?
Sim. Eu costumo escrever algumas coisas, mas é só mesmo para mim. O meu pai é guionista [Miguel Frazão], então às vezes escrevemos curtas-metragens e sempre que temos oportunidade de as fazer, fazemos.
"A Rita Blanco incentivou-me a ser vegetariana, eu hoje sou vegetariana por causa dela."
Lançou em 2021 o livro “Queres ser ator?” para ajudar todos os jovens que querem ser atores. Como foi o processo de o escrever e de o lançar?
Escrever um livro demora muito tempo mesmo. O mais difícil é fazer a estrutura, dividir por capítulos. Eu recebia imensas mensagens de jovens, como eu, que me perguntavam como podiam ser atores, como é que podiam estar numa agência, como podiam fazer uma novela. Eu não sabia muito bem como responder a isso, então quando tive a oportunidade de escrever um livro eu pensei em ajudar essas pessoas e contar a minha experiência. Tive a ajuda dos meus pais, mas maioritariamente fui eu que escrevi. Pedi também testemunhos de outros atores com quem já tinha trabalhado, como a Maria João Luís, Rita Blanco, outros realizadores e encenadores. Tem dicas... tem um pouco de tudo. Foi muito boa a sensação de ter um livro. O meu pai está-me sempre a dizer “Bea, já tens um livro, já plantaste uma árvore, agora só falta teres um filho”. E é verdade, já escrevi um livro e já plantei uma árvore. Isso é quase um objetivo de vida.
Referiu as atrizes Rita Blanco e Maria João Luís. Costuma dizer que são os seus “amores” e as suas “mães” da representação. Porquê?
Para já, elas são das melhores atrizes com quem eu já trabalhei, já têm muitos anos de experiência e ajudaram-me imenso em todos os projetos. Além disso, fizeram ambas de minha mãe. A Maria João Luís foi quem me chamou para fazer a “Alice no País das Maravilhas” e eu estou-lhe muito grata por isso. A Rita Blanco incentivou-me a ser vegetariana, eu hoje sou vegetariana por causa dela. Tenho um carinho muito especial por elas as duas.
Numa entrevista à Nickelodeon, há 2 anos, disse que se pudesse escolher um superpoder seria conseguir ler a mente das pessoas porque estava constantemente a pensar no que pensam de ti. Hoje em dia a opinião das pessoas ainda a afeta?
Ainda afeta, mas já não afeta tanto. Eu mudaria o superpoder, diria que gostava de saber falar todas as línguas.
Tem mais de 85 mil seguidores no Instagram. Como é que lidas com os comentários negativos que recebes?
Por acaso tenho tido sorte e não tenho lidado com muitos, mas lembro-me que quando estava a fazer a novela “Amor Maior” e estava mais presente na televisão, tinha alguns comentários negativos. Naquela altura, como estava a começar enquanto atriz eu ficava muito afetada com isso e sempre que lia algum eu não conseguia dormir nessa noite. Depois o meu pai proibiu-me de ler os comentários. Agora acho que sou capaz de aceitar isso um bocadinho melhor, também sei que é impossível toda a gente gostar de nós e do nosso trabalho e por isso, desde que estejamos a fazer o nosso melhor, isso é o mais importante.
Sendo uma pessoa que se preocupa com a opinião dos outros, como gere o que publicar nas redes sociais e o que deixar em privado?
Eu sou muito desligada das redes sociais. Devia ser muito mais ligada, mas nunca sei o que hei-de publicar e o que não hei-de publicar. Publico uma foto por mês. Eu não gosto nada de partilhar a minha vida pessoal, partilho poucas coisas de vez em quando, mas também não gosto de fazer isso. Também não gosto de expressar a minha opinião sobre as coisas, sou sempre muito insegura em relação a isso. Ainda estou a tentar descobrir o que quero fazer com as minhas redes sociais, porque é uma coisa que eu ainda não sei muito bem.
É uma pessoa tímida. Como lida então com salas de teatro cheias, por exemplo? E com pessoas a abordarem-na na rua?
Eu sou mesmo, mesmo, mesmo muito tímida e se tivesse de mudar alguma coisa em mim era isso. Aliás, o Marco Medeiros, que é o encenador da peça “Diário de Anne Frank”, disse-me que eu era a pessoa mais tímida que ele já conheceu na vida. Eu acho que uso as personagens para não ser tímida e toda a gente me diz que, depois em palco, eu sou uma pessoa completamente diferente, mas assim que a peça acaba e eu vou ter com as pessoas que a foram ver eu sou tímida outra vez, não há hipótese. Às vezes eu até tenho vergonha de ir agradecer ao palco, por isso é bom usar as personagens para não ser tímida.
Qual foi a abordagem mais marcante de um fã?
Tenho muitas abordagens engraçadas. Lembro-me de uma vez estar no centro comercial Vasco da Gama, onde é horrível porque toda a gente me conhece, e vem um miúdo ter comigo, começou aos berros e eu só pensava “ai meu Deus, eu não acredito que ele está a berrar”, até me tentei esconder. Mas a mais importante que eu tive foi há pouco tempo, mais ou menos há um mês. Eu estava à porta do teatro e estava a passar um senhor que quando olhou para mim começou a chorar. Eu perguntei “então está tudo bem?”, e ele “sim, eu fui ver a peça agora e não consigo parar de chorar, quero agradecer-vos pelo vosso trabalho” e isso foi mesmo muito importante para mim.
Também é bastante competitiva. Num meio como o da televisão, teatro ou cinema como lida com a competição que existe?
Acho que a competição é a parte mais difícil, porque num meio como este... acho que em todos, mas mais na representação nós estamos sempre a comparar-nos uns com os outros. Vamos a um casting, eu e outras amigas minhas que também são atrizes, uma fica e as outras não ficam, é sempre assim. Estamos sempre a comparar-nos umas às outras e estamos sempre a “competir”. Acho que é a parte mais difícil de lidar.
Como lidas com a frustração de não ter conseguido um papel que queria muito?
É claro que eu fico muito triste quando não consigo os papéis que eu gostava muito, mas eu também acredito muito que fica a pessoa que tem de ficar e eu sempre disse “se eu não fiquei aqui é porque isto não é para mim, isto é para outra pessoa e vem outra coisa melhor”. Eu sempre acreditei muito nisso. E também me ajuda a ter força para os próximos castings.
Desde 2013 que trabalha. Como foi conciliar todos estes anos a escola, o trabalho e ainda a ginástica acrobática?
A ginástica acrobática ajudou-me muito a conciliar, porque eu fazia ginástica de alta competição e nós treinávamos seis vezes por semana durante três horas e meia. Aquilo era mesmo muito puxado e eu era muito nova, então eu acho que essa organização e método ficou presente em mim. Tinha a escola de manhã, nos intervalos ia para a casa de banho estudar, depois gravava à tarde e à noite tinha ginástica. Sempre me tentei organizar, mas eu nunca tinha um momento para me sentar no sofá e ver uma série... eu tinha, mas não queria. Ficava muito ansiosa. Mas depois tive de sair da ginástica, porque era muita pressão.
Quando tens um tempinho livre o que mais gostas de fazer?
Agora tenho mais tempo. Eu gosto muito de ler, tento ler um livro por semana e gosto muito de ver filmes e séries em família. E estudar línguas, é o meu objetivo agora.
Namora com o também ator Simão Fumega. Como se conheceram?
Nós conhecemo-nos a gravar a novela “Por Ti”, na SIC, há mais ou menos um ano.
Como foi trabalhar com o seu namorado? Conseguiram separar bem a vossa relação pessoal da relação na novela “Por ti”?
Eu não gosto nada disso. Aliás, eu sempre disse que nunca ia ter um namorado que faça o mesmo projeto que eu, porque eu sou super profissional, então eu chego às gravações e tenho de estar focada. Mas ao mesmo tempo tinha lá o meu namorado e, ainda por cima, era recente, então pensava “não acredito, logo na novela”. Mas agora já sabemos separar melhor as coisas e ele sabe que quando é trabalho... (risos)
As vossas famílias já se conhecem? O que é que a sua família achou do Simão?
Já, já. Eles gostam muito do Simão.
E como reagiram, sabendo que vocês namoravam, ao ver as vossas cenas mais íntimas na novela?
Por acaso os meus pais nunca comentam nada sobre isso, nunca me falam da minha vida pessoal. Aliás, eles veem as minhas coisas, principalmente o meu pai está sempre a ver as minhas coisas, mas a minha mãe também. Mas nunca comentam nada sobre isso, só se eu estiver a representar mal ou se alguma cena não estiver bem, aí dizem-me. Mas de resto eles nunca me dizem nada e ainda bem (risos).
"Gostava de ter projetos lá fora, nem que fosse ir a Espanha gravar um filme ou fazer uma série"
Olhando para o futuro, como se imagina daqui a 10 anos? Que projetos ambiciona fazer no futuro?
Gostava muito de começar a tentar apostar numa carreira internacional, porque gostava de ter projetos lá fora, nem que fosse ir a Espanha gravar um filme ou fazer uma série. Claro que fazer uma série da Netflix, acho que é o sonho de qualquer ator. Vejo-me a fazer isso e estou a apostar nisso.
Ambiciona escrever mais algum livro?
Sim, talvez. Ainda não pensei muito nisso, mas também gosto muito de escrever. Talvez se eu escrever outro livro desta vez não seja sobre representar, talvez seja, sei lá, um romance, porque eu também gosto muito de ler e escrever e isso podia ser um plano b.
A pergunta que não quer calar: teatro, cinema ou novelas? Para consumir ou para representar num destes meios.
Isso é muito difícil, é quase como dar a escolher entre um pai e uma mãe. Para consumir eu diria cinema... ou teatro... não sei. Eu acho que vou ter de dizer teatro, porque é o que eu mais gosto. O teatro tem uma coisa que os outros não têm que é a relação com o público e naquele momento nada pode falhar. Agora na peça da Anne Frank nós já criámos uma relação entre nós todos mesmo muito especial, então a minha relação com o João Bettencourt, que é o ator que faz de Peter na peça, é muito especial. Já estamos a fazer aquilo há tantos dias que não conseguimos estar a olhar um para o outro sem nos desatarmos a rir.
Lembro-me que, na semana passada, fiquei super nervosa e ele também, porque não sabíamos como é que íamos fazer a cena sem nos desatarmos a rir um com o outro, porque as nossas cenas são muito cómicas. Ainda por cima, teatro é isso, no momento nós não nos podíamos rir, senão íamos estragar a peça toda e depois tínhamos 400 crianças a rirem-se às gargalhadas das nossas figuras e nós só pensávamos “concentra-te, concentra-te”... (risos). Esta é uma sensação que nas novelas não tenho, por exemplo, porque na novela se tu errares podes repetir. Por isso eu acho que o teatro é mesmo muito, muito especial e eu diria que é o meu meio preferido, mas não sei...