O casamento entre José Castelo Branco e Betty Grafstein, que já dura há quase três décadas, está prestes a terminar. Em maio, a joalheira de 95 anos acusou o ainda marido de a ter agredido, algo que fez com que este fosse detido e não só constituído arguido pelo crime de violência doméstica, como alvo de de um processo de divórcio litigioso. E o furor à volta deste casal de socialites é tanto que é destaque da edição de setembro da revista norte-americana "Vanity Fair".

Mesmo antes de as alegações de violência doméstica terem vindo a público, a jornalista de investigação da publicação, Alice Hines, teve conhecimento deste casal de "estrelas ao nível das Kardashian em Portugal" e decidiu acompanhá-lo durante uns meses. O objetivo era, além de conhecer a sua história, perceber a dinâmica entre ambos, já que os 35 anos de diferença são um óbvio motivo de curiosidade.

Divórcio de Betty Grafstein e José Castelo Branco vai ser litigioso. Entenda porquê
Divórcio de Betty Grafstein e José Castelo Branco vai ser litigioso. Entenda porquê
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A jornalista frequentou o apartamento do par em Nova Iorque, acompanhou-o a consultas – carregando as malas de ambos pelas movimentadas avenidas nova-iorquinas –, foi a aplicações de botox e preenchimentos vários, tendo até ajudado a fazer malas. Isto é, antes de os dois virem para Portugal em março, algo que viria a ser fatídico para o casal, já que foi no contexto dessa viagem que Betty Grafstein viria a acusar o marido de violência doméstica.

Betty Grafstein esteve internada no Hospital CUF, em Cascais e em Lisboa, de 20 de abril a 4 de junho, na sequência de uma queda. A joalheira contou que sofria de maus tratos por parte de José Castelo Branco, algo que foi denunciado ao Ministério Público pelos responsáveis do hospital – o que culminou na detenção do socialite, que foi obrigado a usar uma pulseira eletrónica para se manter longe da mulher. Entretanto, já nos Estados Unidos, o processo de divórcio foi iniciado – e será litigioso.

Contudo, durante os tempos em que esteve com o casal, Alice Hines apercebeu-se de várias incongruências, que desmontou no reportagem. Afinal, de onde vinha o dinheiro de Betty Grafstein, que sempre foi considerada uma herdeira de um grande império de joias? E a joalheira tem, efetivamente, algum título aristocrático ao ponto de ser conhecida como Lady Betty? E em relação à casa de Nova Iorque, que o casal sempre deu a entender que era sua? Veja as respostas.

Betty não é assim tão rica (e recebe reforma da Segurança Social)

José Castelo Branco e Betty Grafstein
José Castelo Branco e Betty Grafstein José Castelo Branco e Betty Grafstein

A investigação revelou que a fortuna de Betty Grafstein, frequentemente avaliada, como confirma a "Forbes Portugal", entre cerca de 23 milhões e mais de 92 milhões de euros, havendo mesmo quem diga que o seu património pode ascender a quase meio milhão de euros, não corresponde à realidade, fruto de um mito que se foi difundindo ao longo das décadas – e sim, tem que ver com os diamantes.

A socialite sempre se apresentou como sendo a herdeira de uma vasta fortuna, graças à misteriosa Grafstein Diamond Corporation. Trocado por miúdos, esta era a empresa de Albert Grafstein, um negociador de diamantes com quem Betty foi casada, depois de o ter conhecido quando trabalhava nos escritórios da Pepsi. Quando o ex-companheiro morreu, na década de 90, a socialite herdou a tal fortuna, que, afinal, não é assim tão grande.

Quem o confirmou foi Pierre Cohen, o neto do ex-marido de Betty e um dos gestores do negócio de diamantes da família, em entrevista à "Vanity Fair". "O Albert era um comerciante de diamantes normal", disse, acrescentando que era "não era particularmente bem sucedido, uma vez que vivia em Portugal durante metade do ano". Aquando da morte deste, o neto também recebeu uma quantia, que não era suficiente para comprar um apartamento sequer, escreve a jornalista da publicação.

Quem confirmou que, roupas, malas e a casa hipotecada de Sintra à parte, Betty Grafstein não é assim tão rica foi Roger Basile, o filho da joalheira. Negando que a empresa tenha sido uma fonte de grande riqueza para a mãe, exclamou que a mãe não só "não tem um tostão", como vive da reforma da Segurança Social.

O título aristocrático foi uma invenção

betty grafstein
betty grafstein créditos: Instagram

Que atire a primeira pedra quem nunca ouviu José Castelo Branco a corrigir quem ousasse não tratar Betty Grafstein pela forma como esta é conhecida: uma lady. Esta foi uma designação atribuída à joalheira ao longo dos anos, consequência do facto de a própria dizer nas redes sociais que lhe foi concedido o título de Dama Comandante da Ordem do Império Britânico.

Contudo, de acordo com Alice Hines, foi tudo inventado, uma vez que não existem registos oficiais que confirmem a veracidade da condecoração da joalheira pela família real britânica. O título ter-lhe-á sido atribuído por Anthony Bailey, conselheiro de relações públicas e consultor diplomático irlandês, considerado um habitué das festas de José Castelo Branco e da mulher ao longo das décadas.

Foi Roger Basile que confirmou estas informações à jornalista, frisando que a condecoração recebida pela mãe diz respeito à Sagrada Ordem Militar Constantiniana de São Jorge e a Real Ordem de Francisco I, uma ordem católica, e que em nada tem que ver com a família real britânica. Além disso, os registos de cavaleiros e damas homenageados pela monarquia britânica não contêm o nome de Betty Grafstein.

A culpa desta invenção será, de acordo com o filho da joalheira, de José Castelo Branco. "A minha mãe nunca se fez passar por mais do que era", disse Roger Basile, citado pela mesma publicação. "O José impingiu estas histórias e eles tornaram-se celebridades em Portugal. E ela alinhava nisso porque gostava da atenção", continuou. Já Betty Grafstein, confrontada pela jornalista, nunca admitiu que se terá tratado de uma mentira – "o Roger que diga o que quiser", retorquiu a joalheira.

A casa de Nova Iorque é arrendada

José Castelo Branco e Betty
José Castelo Branco e Betty

Alice Hines também esclareceu que o luxuoso apartamento no Upper East Side, em Nova Iorque, de que Betty e José tanto falavam, não é propriedade do casal. A casa, alegadamente utilizada pelos socialites para grandes festas, é, na verdade, arrendada – e a renda até é controlada (ou seja, não pode ser aumentada). 

Foi um parecer do Supremo Tribunal de Nova Iorque de 2019 que confirmou que o apartamento não passa de um arrendamento. E quanto pagam, afinal, José Castelo Branco e Betty Grafstein de renda? Não sabemos, mas a jornalista confirmou que é o valor é menor àquele que a própria tem de desembolsar todos os meses.

Isto significa que a renda da casa é muito menor do que o valor de mercado para propriedades semelhantes, o que contradiz as alegações de que esta era uma grande posse do casal. A par disto, a investigação revelou que a suposta propriedade de luxo e os eventos extravagantes lá realizados eram mais uma fachada do que uma verdade substancial.