No panorama televisivo português, poucos momentos são tão entusiasmantes quanto o surgimento de novos rostos. Renato Duarte, que se assume como o Infiltrado no reality show "Dilema", na TVI, é um deles. Aos 36 anos, embora tenha passado pelo pequeno ecrã em tempos já idos, o comunicador vive, desde o dia 7 de julho, este novo desafio, fruto de um convite que, segundo considera o próprio, caiu-lhe no colo no momento mais certeiro da sua vida profissional.
Afinal, Renato Duarte é conhecido por ser uma das vozes da Renascença há quase 15 anos, tendo sido esta emissora a primeira (e, até agora, a única, uma vez que lá permanece desde então) a acolhê-lo – um percurso atípico, sendo que foi para uma das rádios mais adultas do País, quando ainda era bastante jovem. Foi precisamente por isso que esta se assumiu como uma autêntica escola, tal como nos conta, acrescentando que foi graças a ela que foi construindo os alicerces que sustentam a sua passagem pelo reality show.
Mesmo com toda a visibilidade que o novo formato oferece, o comunicador não deixa de valorizar as suas raízes na rádio, cuja paixão é mais do que evidente, não fosse este um meio de comunicação em ascensão e cada vez mais robusto. É para lá que vai voltar em força depois de o "Dilema" chegar ao fim, em setembro, mas não nega que, agora que a janela da televisão se abriu, continuará de olhos postos em futuras oportunidades neste sentido.
Falámos com o comunicador em relação ao caminho que até aqui trilhou. Desde os seus primeiros passos na RTP e na rádio a esta nova aventura, passando pela passagem pelo jornalismo, por reflexões sobre o impacto do seu trabalho na rádio e até pela influência de Manuel Luís Goucha no seu modus operandi, saiba do que é que falámos com Renato Duarte.
Leia a entrevista
Acho que devemos começar pelo fim e falar desta sua oportunidade mais recente, que é o facto de ter sido convidado para ser o Infiltrado do "Dilema". Este é o seu primeiro papel de destaque num programa de televisão. Como é que esta oportunidade surge no seu caminho?
Não sei bem como é que chegaram a mim. Sei que recebi o convite por parte da Endemol, que me perguntou se eu estaria interessado em fazer um projeto deste género. Eles queriam perceber, sobretudo, se eu teria essa disponibilidade primeiro, porque é muito diferente de tudo aquilo que eu já fiz. A minha vida tem sido feita na rádio. Eu comecei na televisão, fui jornalista de um programa da RTP2 que se chamava "Câmara Clara", mas, ainda assim, sendo em televisão, era um registo completamente diferente. (...) Depois, comecei logo na rádio, fiz um casting e, uns anos mais tarde, fui convidado pela RTP2 para ser repórter de um programa de moda. Portanto, isto para dizer que não é propriamente a minha estreia em televisão, mas, não sendo, acaba por ser.
Sim, tendo em conta que é um formato tão diferente e nunca antes feito por si.
Exato. Um reality show, na TVI, em horário nobre, à noite, com o Manuel [Luís Goucha]. Enfim, uma série de circunstâncias muito novas e muito diferentes. Eu percebi que, sendo um reality show, tinha aqui uma proposta um bocadinho diferente, porque é um reality show de verão, com o Manuel e com esta grande novidade que é ter alguém que co-apresenta, digamos assim, o programa, indo à casa conversar com eles [os concorrentes]. É um desafio entrar na casa, não podendo trazer muitas informações do exterior, e ter como missão, acima de tudo, tentar perceber como estão os ânimos ali na casa, tendo em conta que são pessoas que estão a viver uma experiência muito específica.
E foram todas essas especificidades de que falava há pouco que o levaram a aceitar esta oportunidade? Se lhe tivesse sido oferecido um papel diferente, com pessoas diferentes, a resposta teria sido outra?
Eu nunca pensei em não aceitar, assim que me falaram disto. Porquê? Pelo desafio. Enquanto comunicador, é muito desafiante e muito interessante ter este objetivo de estar em contacto com pessoas que estão numa circunstância muito especial. Depois, é na TVI, em horário nobre. É uma experiência, apesar de tudo, muito controlada, porque são dois meses de verão, portanto é um risco calculado.
E estar com o Manuel – isso, para mim, foi absolutamente decisivo no momento de aceitar este desafio, porque ele é o melhor apresentador que temos em Portugal, pelo menos dos últimos tempos. Agora que estou mais em contacto com ele, tenho ainda tenho mais certeza disto, porque ele tem uma disciplina de trabalho e um método muito próprio e muito interessante de observar. E ele foi muito simpático e muito generoso, falou comigo sobre isto, e isso fez com que eu não pensasse duas vezes antes de aceitar. Eu estou numa fase da vida em que estou muito aberto a que isto acontecesse. Foi um timing certeiro, acho que muito mais tarde na minha vida talvez isto não fizesse sentido e muito mais cedo talvez não estivesse preparado.
O facto de ser um reality show, que não é dos formatos televisivos com melhor fama e há quem até olhe para quem os conduz e neles participa com algum desdém, não o deixou reticente?
Permita-me só discordar, porque, se olharmos para as pessoas em Portugal que apresentam reality shows, são os melhores apresentadores. São as pessoas mais bem preparadas, são as pessoas com maior capacidade de comunicação, porque conduzir um reality show tem especificidades que fazem com que não seja qualquer pessoa que o consegue [fazer]. Qualquer pessoa no sentido em que tem de ser alguém com bagagem pessoal, um património pessoal e de vida suficientemente vasto, uma maturidade que lhes permita entender a cabeça daquelas pessoas, aquilo por que aquelas pessoas estão a passar...
Muita inteligência emocional, portanto.
Muita inteligência emocional, exatamente. Muita capacidade de comunicação. Muita capacidade de lidar com o imprevisto. Isto tudo para dizer que não concordo com essa ideia de que os apresentadores de reality shows tenham de ser ou sejam pessoas vista com desdém. Acho que não e temos a prova disso em Portugal: Teresa Guilherme, Cristina Ferreira, Cláudio Ramos, Manuel Luís Goucha. São as pessoas mais bem preparadas e mais experientes a fazer televisão em Portugal. E isso fez com que eu até pensasse duas vezes não no sentido de "será que este é o programa para mim porque é visto com maus olhos", mas o contrário: "será que eu estou à altura de agarrar um desafio desta natureza, tendo em conta a minha pouca experiência a fazer televisão?".
Eu não tenho esse preconceito com reality shows. Não estou a dizer que seja um espectador bastante assíduo (...), mas eu acho que é, do ponto de vista de espetáculo televisivo, o formato mais interessante que existe. Enquanto comunicador, conduzir um formato destes ou estar envolvido na equipa de um formato destes é uma oportunidade absolutamente única e, mais uma vez, digo que nunca me passou pela cabeça dizer que não. As minhas únicas dúvidas tiveram que ver com o facto de será que eu estou à altura deste desafio? E ainda não tenho a certeza (risos).
O Manuel Luís Goucha, desde o início, acha que está (risos). Aliás, quando foi anunciado como o Infiltrado, ele disse que o Renato ia ter uma "auspiciosa estreia". Isto fez com que lhe acrescesse alguma pressão, sendo que vem, como disse anteriormente, de um dos maiores apresentadores dos últimos tempos?
Fez de igual medida. Ou seja, quando eu li isso e quando comecei a ter contacto com o Manuel e a conversar com ele, eu estava incrédulo e absolutamente assoberbado com tudo o que estava a acontecer. O Manuel Luís Goucha, de facto, dá-se ao trabalho de falar comigo, de tranquilizar-me e acreditar em mim. Por isso, ao mesmo tempo que existe a pressão, o Manuel é tão generoso e tem-me tranquilizado tanto, que ele tem talento suficiente para ele e para mim – para me tranquilizar, para me deixar confortável. Portanto, toda essa pressão que eu senti, que é verdade, desapareceu quase imediatamente, a partir do momento em que eu comecei a conversar com o Manuel, a perceber que ele confiava em mim e que era, para além de um ótimo comunicador, uma excelente pessoa e muito, muito generoso.
Reparei que usou o verbo "tranquilizar" várias vezes. Isso significa que existiam receios. Quais eram?
Eu tinha de ser um psicopata para olhar para uma coisas destas e não me sentir inseguro, ansioso, receoso relativamente à minha capacidade para entregar aquilo que as pessoas que me convidaram esperavam que eu entregasse. Portanto, os receios tinham que ver com o facto de ser uma grande aposta da estação, de ser a TVI, um programa de horário nobre, ao lado do Manuel e tudo o que isso implica. Não tendo eu muita experiência em televisão, obviamente que tive receios. Mas, como disse, esses receios foram apaziguados imediatamente pelo facto de eu sentir que estava muito bem suportado, com uma equipa muito experiente e que entendeu os meus receios. O saber-fazer eu tenho confiança que tenho – naturalmente, pela experiência toda que já tenho –, o difícil é sentirmo-nos confortáveis num ambiente que é, à partida, muito estranho. Termos alguém que nos faça sentir confortáveis e confiantes é meio caminho andado para que as coisas corram bem.
E agora que estamos a umas semanas de distância da estreia, que retrospetiva faz? Já lhe caiu a ficha? Sente que quer continuar a fazer televisão?
Sinto-me cada vez mais confortável, evidentemente, e cada vez mais no meu elemento. Porque eu tenho aqui duas circunstâncias que são diferentes: por um lado, eu entro na casa todos os dias e isso foi intimidante nos primeiros momentos (...); depois, há a circunstância das galas de domingo, que intimida pelo facto de acontecer num estúdio grande, com público, com todo aquele aparato. Quer numa situação quer noutra, eu sinto-me cada vez mais confortável. O "cair a ficha"... ainda não caiu. Eu acho que cai depois, quando isto acabar.
Na estreia, é curioso, eu achava que ia estar muito nervoso. Os dias que antecederam à estreia foram bastante inquietantes para mim, eu estava muito nervoso, mas, no dia da estreia, senti-me muito confortável, muito confiante. Percebo que é, cada vez mais, um dos meus elementos. Não vou dizer que me sinto tão confortável como me sinto, por exemplo, num estúdio de rádio, mas estou cada vez mais confiante e seguro, portanto o balanço é bastante positivo.
Mas sempre se imaginou a fazer televisão ou foi um desejo que foi surgindo à medida que ia trilhando o seu percurso?
Não vou mentir: eu era pequenino, brincava às televisões, às rádios, fingia que era repórter. Quando comecei mais a sério naquilo que queria fazer, não sei se por uma questão de gestão de expectativas (a televisão é um meio particularmente competitivo e, em Portugal, é um meio muito pequeno e há muita gente a querer, pelo que é difícil garantir um lugar), fui tentando descobrir outras áreas. E a verdade é que, na rádio, consegui descobrir um lugar em que sou muito, muito feliz. Assim que comecei a trabalhar, percebi que gostava bastante de fazer aquilo e estava bastante feliz, contente e realizado. E as oportunidades que me foram dadas dentro da Renascença foram-me estimulando sempre.
Portanto, a televisão estava no meu horizonte, mas, à medida que os anos iam passando, eu ia pensando que talvez estivesse cada vez mais distante. Não sendo eu já velho, também não sou um jovem que está a começar, portanto talvez as oportunidades sejam um bocadinho mais limitadas...
Mas acha que a televisão tem um prazo de validade? Ou seja, tem de se entrar muito jovem, ter sucesso e permanecer? Temos o caso da Teresa Guilherme, por exemplo, que entrou mais tarde.
Esses casos existem, sim, mas o mais comum é que as pessoas tenham o foco da televisão e comecem muito cedo, até para terem tempo de construir uma carreira ascendente. Vão começando a fazer coisas mais pequenas, que lhes permitam ter confiança e mostrar aquilo que valem e, depois, vão crescendo. Eu, tendo 36 anos agora, pensei que já não teria propriamente esse tempo, essa margem de progressão. Portanto, cair-me um projeto destes ao colo, que é um projeto que nos dá uma grande exposição de uma forma muito rápida, é muito difícil de acontecer e eu achei que não fosse acontecer. Não é uma coisa que eu procurasse ativamente, mas era uma coisa que estava no meu horizonte.
Há aquela célebre frase "video killed the radio star". Agora que já provou um bocadinho dos dois mundos, e porque a televisão acaba sempre por ser muito aliciante, acha que isso é verdade?
Eu vou ser muito honesto. Eu não sei o que é que vai acontecer daqui para a frente, estou preparado para fazer este projeto, para o projeto terminar e eu continuar a fazer a minha vida na rádio. Até porque, no último ano, estou a fazer um programa de que gosto muito. É um programa de fim de tarde [intitulado "T3"], com a Filipa [Galrão] e o Daniel [Leitão], que me tem dado muitas alegrias. E eu não me posso esquecer de que a rádio me preparou para fazer televisão da forma que faço. A rádio, como toda a gente sabe, é uma grande escola de comunicadores. Portanto, enquanto eu conseguir fazer rádio, até me deixarem, vou sempre fazer. A fazer o "Dilema", tive uma conversa com a Renascença e eles foram muito abertos e muito disponíveis para me deixar fazer este projeto, abrandando ali a minha presença no programa. Serei sempre grato à Renascença, que me deu uma oportunidade.
Portanto, não acredito nessa frase. No meu caso concreto, sou apaixonado por rádio e quero fazer até que me deixem, até que seja possível conciliar com tudo o que quero fazer na vida. No que respeita ao meio de uma forma geral, da forma como as pessoas se relacionam com a rádio, eu acho que está à vista que aquelas pessoas que diziam que a rádio teria os dias contados estavam enganadas. A rádio tem cada vez mais ouvintes, é um meio que se soube reinventar, tem cada vez mais atenção, que se distribui de forma muito eficaz pelas diferentes plataformas. Portanto, a rádio está melhor do que nunca, está muito robusta e eu quero continuar a fazer parte da história da rádio em Portugal.
Por falar na rádio, já está na Renascença há quase 15 anos. O que é que o faz permanecer na Renascença? O que é que esta estação tem que as outras não têm?
A Renascença, para já, foi a rádio que me deu a primeira oportunidade. Eu fiz um casting, em 2010, e por lá fiquei. Foi-me sempre estimulando, porque fui sempre fazendo coisas muito diferentes. Eu muito rapidamente cheguei ao programa da manhã, a fazer reportagem, que é uma coisa de que eu gosto muito. E a Renascença, pela circunstância de ser emissora católica, ser uma rádio com um formato muito difícil de trabalhar em rádio, é muito desafiante. E aquilo que, ao longo destes 14 anos que eu faço parte da equipa, tem acontecido em termos de transformações estratégicas, de testar isto, testar aquilo, tem sido uma coisa, para mim, muito estimulante. Porque a Renascença, desde que eu entrei – e eu entrei muito jovem numa rádio adulta, só há um ano é que faço parte do target da Renascença –, a equipa sempre me viu como uma peça importante. Sempre me senti muito acarinhado e sempre me senti como parte da estratégia e isso sempre foi muito estimulante para mim. Os desafios que me foram colocando foram formas de eu crescer, aprender.
Pelo facto de ser uma rádio de informação, eu, por vezes, navegava ali pelo entretenimento puro: num dia conversava com uma vendedora no mercado, por exemplo, e, no dia a seguir, seria possível conversar com um político. Portanto, esse desafio de fazer sempre coisas muito diferentes foi muito interessante para mim e, numa rádio com outras características que não a Renascença, eu não conseguiria ter esse espectro tão vasto que me permitiu crescer e testar enquanto comunicador. É essencialmente isso que a Renascença me tem dado – e, depois, as empresas são feitas de pessoas. Eu tenho uma ligação muito forte com aquelas pessoas, que já me acompanham há muito tempo, portanto isso também é determinante.
"Eu quero continuar a fazer parte da história da rádio em Portugal"
Eu cheguei à Renascença e a coisa que eu mais ouvia era "como é que tu estás na Renascença"? Porque seria uma rádio que, à partida, não fazia muito fit com aquilo que eu era e com aquilo que eu queria ser. Mas eu sempre achei o contrário, porque eu sempre acreditei que a Renascença tinha uma estratégia, queria chegar a um local onde eu faria muito sentido. E, anos mais tarde, veio dar-me razão, porque a Renascença é, hoje, uma rádio muito cool, muito atual, muito relevante.
Estava a dizer que foi repórter e eu lembro-me, inclusivamente, de um dos seus trabalhos – quando foi à procura da casa de Duarte Pio. Tem saudades de estar no terreno e dessa imprevisibilidade diária de não saber o que é que se avizinhava para o dia?
Sim. Eu acho que a minha essência, enquanto comunicador, é de repórter, no sentido em que eu gosto muito do contacto direto com as pessoas, do imprevisto, dessa questão da imprevisibilidade. A reportagem em direto, por definição, é isso. Eu fui 10 anos repórter e, durante muitos desses anos, todos os dias eu tinha mesmo de estar num sítio diferente. Havia uma pressão muito grande para que as coisas fossem permanentemente muito inovadoras e diferentes. Confesso que, nos últimos tempos, já sentia vontade de parar um bocadinho, estar em estúdio, que tem outros desafios que também me apetecia muito provar a quem dirige a Renascença que eu era capaz de aceitar. Portanto, fiquei feliz com esta passagem, mas não posso dizer que não tenha saudades.
Nesse sentido, agora que está no "T3" há pouco mais de um ano, quais são os destaques que retira deste desafio? Especialmente a trabalhar com o Daniel Leitão e a Filipa Galrão.
Estar tão próximo de pessoas, de forma tão íntima. Eu passo quatro horas por dia com aquelas pessoas, todos os dias, de segunda a sexta. Portanto, cria-se uma intimidade muito interessante – é quase como estes do "Dilema", que estão ali fechados com pessoas (risos). Não é bem a mesma coisa, mas tens a experiência de conhecer bem as pessoas e de teres de te adaptar aos ritmos de trabalho dos outros. Quando estamos em direto no ar, qualquer pessoa que faça qualquer tipo de trabalho com outra percebe que estas coisas da química e da sintonia são muito difíceis de criar, mas nós tivemos ali um encaixe muito bom desde o início.
A Filipa e o Daniel já faziam dupla, o programa já existia com eles os dois. Depois, houve ali uma mudança e eu entrei, passei a fazer parte da equipa com ele. Houve ali uma sintonia. Nós temos papéis muito definidos no programa. O Daniel é humorista, portanto o papel dele é trazer esse lado sempre mais descontraído e visão mais sarcástica, mais cómica sobre os temas que nós tratamos...
Mas o Renato e a Filipa também têm esse lado cómico.
Sim, mas ele [Daniel Leitão] é humorista. O trabalho dele é, de facto, escrever piadas e pensar de forma mais estruturada no lado humorístico. Nós entramos muito à boleia dele e, claro, também aprendi muito com ele nesse sentido. Depois, a Filipa é, tal como eu, uma locutora mais convencional, digamos assim, mas veio de uma rádio jovem. Portanto, traz também essa frescura que é precisa para um programa da tarde. Além disso, nós temos a circunstância de ser o primeiro programa da tarde sem a recitação do rosário, que há 80 anos acontecia às 18h30. Isso acabou.
"Eu acho que a Renascença entende a mais-valia de ter alguém ali na equipa com um destaque tão grande"
Nesse sentido, sendo a pessoa que é, defendendo as causas que defende e tendo até uma orientação sexual que não vai ao encontro dos valores da Igreja, como é que foi para si adaptar-se à Renascença?
Para já, eu acho que é ótimo que a Renascença me inclua na estratégia – não é uma caridade, obviamente, eu sei o meu valor e é com base nisso que ali estou. Eu não vou mentir e não vou dizer que quando comecei, em 2010, muitas dessas questões que surgiram. Até porque a questão da minha sexualidade, por exemplo, não estava tão bem resolvida como está hoje. Mas o que eu posso dizer é que, sempre que essa questão se colocou, as pessoas que estavam mais próximas de mim, os meus diretores, as pessoas que me chefiam sempre me tranquilizaram muito e a mensagem foi a mensagem de "isso não é uma questão sequer". Nunca me senti limitado na relação pessoal com as pessoas, de todo.
Depois, a Renascença, sendo a Emissora Católica Portuguesa, entende que tem de ser uma rádio relevante para todas as pessoas. E a Renascença, sendo uma rádio que vive de receita publicitária, tem de conquistar a maior fatia de mercado possível, portanto tem de ser uma rádio dos dias de hoje, que fale para as pessoas de hoje, que defende os valores contemporâneos da nossa sociedade. Com isto, eu não quero dizer que não haja uma linha editorial, que não se defendam certos valores – e eu respeito. Eu respeito a Renascença e aquilo que ela defende, não me deixando limitar, condicionar ou que os meus valores saiam perturbados nesta equação, mas a Renascença também tem um respeito enorme por mim, por aquilo que eu defendo e aquilo que eu sou. Se alguma vez me tivesse sentido condicionado, já não estaria na equipa da Renascença, isso posso garantir. (...) Eu acho que a Renascença entende a mais-valia de ter alguém ali na equipa com um destaque tão grande.
Para quem não sabe, o Renato foi estagiário do "Público", foi jornalista na RTP. O jornalismo foi das únicas áreas em que se envolveu que se assumiu como um caso de desamor?
Não foi desamor. Eu fiz um estágio no "Público", corria o ano de 2009 – e temos de pensar naquilo que o País vivia, na conjuntura económica dessa altura. Eu fiz o estágio, nunca tive nenhuma expectativa de ficar, apesar de o estágio ter corrido muito bem. Adorei estar ali, fui muito bem acompanhado e eu, nessa altura, estava completamente convicto de que o jornalismo tradicional ia ser a minha vida durante, pelo menos, mais algum tempo. Portanto, eu não me desencantei pelo jornalismo, o jornalismo é que não teve capacidade para me dar as condições e me absorver. Se o "Público", no final do estágio, me tivesse querido lá, eu provavelmente tivesse ficado e talvez estivesse lá ainda hoje.
Fico feliz pelo facto de isso não ter acontecido, porque, olhando para trás e para tudo o que tenho feito, acho que sou muito mais feliz trabalhando de forma menos condicionada. Óbvio que temos sempre condicionamentos, regras que guiam a forma como trabalhamos, mas o jornalismo – e é assim que deve ser – rege-se por códigos muito estritos, muito rígidos. Mas eu é que vim a perceber, depois mais tarde, que não é uma coisa que tenha que ver comigo. Faz um fit com a minha personalidade trabalhar de forma mais espontânea, se bem que este bichinho da informação permanece aqui. Portanto, sempre que eu consigo fazer entretenimento, criar conteúdos e trabalhá-los com esse norte também de ter alguma densidade no conteúdo...
Isso é um bocadinho o futuro, entreter informando, não? Especialmente sabendo que temos camadas mais jovens cada vez menos interessadas em receber informação que não as entretenha.
Sim e isso vai muito ao encontro daquilo que me deixa feliz em trabalhar na Renascença, porque é uma rádio de informação, portanto tem o objetivo de informar, mas tem essa valência do entretenimento também, que pode ser uma aliada forte. Ou seja, eu trabalho com jornalistas todos os dias no meu programa e, por isso, a tentativa que nós fazemos é trazê-los um bocadinho para o nosso lado, não deixando o rigor e a isenção, mas fazendo com que a forma como a informação é dada às pessoas seja mais leve, mais coloquial, para que as consigamos conquistar melhor (...). Fico feliz por poder ser uma figura que facilita a chegada dessa informação às pessoas, porque elas estão mais disponíveis para receber conteúdos mais leves, de entretenimento, e nós conseguimos enfiar para ali coisas mais densas e, talvez, até mais pertinentes.
E o futuro? Onde é que se imagina? A fazer mais rádio? Mais televisão?
Neste momento, estou a viver o sonho. Continuo na Renascença, a integrar aquela equipa [para onde vai voltar em força depois de o programa acabar, no dia 8 de setembro]. Portanto tenho essa perspetiva de futuro, a olhar para a frente e a imaginar-me parte da estratégia da Renascença. Mas abriu-se aqui esta janela de oportunidade. No fundo, nós trabalhamos com a atenção que conseguimos captar das pessoas. O meu objetivo, quando abro o microfone na rádio ou estou em televisão, é ter o maior número de pessoas disponível para ouvir aquilo que eu tenho a dizer. Portanto, aquilo que a televisão fez foi ampliar o meu público. Esta oportunidade parece-me interessante para conseguir chegar a mais pessoas. O futuro imagino-o dessa forma: a fazer aquilo que estou a fazer, mas cada vez melhor, claro, e a continuar a ter oportunidades interessantes como esta que aqui me surgiu.