No início de janeiro, a saída inesperada de Hélder Tavares da Cidade FM foi o pontapé de saída de um rebuliço nas principais rádios nacionais, com transferências, mudanças de programas e novas caras. Pouco tempo depois de se ter despedido da antena jovem do grupo Bauer Media Audio Portugal, Hélder Tavares era anunciado como o novo reforço da RFM.

O comunicador e influenciador digital de 28 anos está agora aos comandos do "Tá Bonito", nas tardes da RFM, mais um desafio numa carreira que, como conta à MAGG, quer que continue próspera e, de preferência, com uma perninha na televisão.

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Como é que foi fazer parte deste mercado de transferências de inverno? 
Foi bom porque eu diria que o mercado de inverno começou com a minha contratação, não é? Depois disso é que veio esta rebaldaria toda (risos)! O mercado da rádio nunca esteve assim tão forte e poder estar na linha da frente, ainda para mais com 28 anos... Eu digo isto muitas vezes a amigos próximos, que eu às vezes não tenho essa noção. Este mercado de rádio nunca esteve tão forte e eu na linha da frente, um miudinho com 28 anos! É surreal? É surreal.

É engraçado que diga isso porque, quando saiu da Cidade FM, criou-se um alarido enorme nas redes sociais. Foi giro, parecia que estávamos a falar de uma transferência da televisão. 
Sim, sim.

A partir daí foi ainda mais surpreendente porque se quebrou quase um acordo silencioso entre as rádios, de não contratarem pessoas da concorrência. Porque as pessoas seguem os animadores e procuram-nos.
Eu próprio não tinha a noção desse impacto. Mas eu acho que sou um bocadinho assim. Na verdade, acho que não sou tudo o que as pessoas dizem ou acham. Eu sabia que a minha saída da Cidade podia criar algum burburinho, mas eu não tinha a noção de que ia ser ao ponto de pessoas fazerem vídeos no TikTok, que não me ouviam, queriam saber onde andava o Hélder Tavares, o que se estava a passar... Eu próprio recebia vídeos, amigos meus mandavam-me links a dizer 'olha o que é que me apareceu'.

De repente, gerou-se aqui toda uma telenovela a que a rádio não estava habituada, com rumores que se criam, com especulações. Isto é uma coisa que na televisão habitualmente acontece, especular-se, criarem-se rumores. A rádio não estava habituada a isso e, portanto, de repente, as figuras da rádio que têm este impacto e este poder, é muito bom.

Existe uma ideia pré-concebida, talvez de pessoas mais velhas, que acham que quem vai para as rádios mais jovens é escolhido com base nos seguidores do Instagram, do TikTok, e que são pessoas sem talento. Como é que vê essas críticas?
Eu acho que nós, o povo português, tem muito o hábito de queixar-se de tudo e por nada, não é? Somos muito mesquinhos, arranjamos o que for preciso para lançar energias negativas ou mensagens negativas. Parece que a pessoa nunca está feliz com o que quer que seja. Portanto, já que as pessoas nunca estão felizes, vamos fazer à mesma a mudança. Volta e meia, é claro que aparecem comentários nas publicações da RFM. Apareceu um comentário de alguém que não ficou conformado com esta mudança, com a minha presença num horário de destaque, ainda por cima um miúdo que nem tem voz de rádio. Se acham que eu não tenho voz de rádio, então quem é que poderá ir para ali, não é? É muito por aí. As pessoas não estão confortáveis com nada e arranjam o que for necessário para picar. A minha opinião é: não gostas, tens tanta oferta de rádio! Se não gostas de um, ouve outro.

Mas as pessoas fazem esse tipo de comentários em tudo. 
Exato, em tudo. Já sabemos como é que a coisa funciona e não podemos fugir disso, não é? Mas é engraçado perceber. Eu estava a pensar nisso há bocadinho. Se a pessoa diz que eu não tenho voz de rádio, então quem é que tem? Não é (risos)?

Acha que o Hélder, a Mafalda Castro e a Catarina Maia, que têm uma presença forte no digital são, em parte, responsáveis pelo rejuvenescimento do público da rádio? Porque vocês atraem muita gente. 
A rádio que se faz agora já não é a rádio de antigamente, onde só ouviam personalidades de voz e ponto. Hoje em dia a rádio já trabalha muito com a imagem. As pessoas da rádio já são mais do que isso, já são figuras públicas. Eu não sou apenas um locutor de rádio, já sou mais do que isso. E acho que a rádio tem sabido fazer essa mudança, tem trabalhado muito bem o facto de trazer pessoas que não são só locutores de rádio mas que também são criadores de conteúdo, porque, a meu ver, hoje em dia a rádio já não vive só da voz. Vive de conteúdos no digital, e quem melhor do que trabalhar conteúdos no digital do que as pessoas que fazem disso vida também?

O facto de eu também ser criador de conteúdos faz com que, na rádio, possa ajudar com a criação de conteúdos, possa ter ideias para coisas que queira fazer e criar no TikTok da RTM ou no Instagram. Por exemplo, ontem recebi a Mafalda Creative e a Mariana Bossy.  Criámos alguns conteúdos que vão dar jeito para as redes sociais. Portanto, teres ali três figuras no digital automaticamente vai fazer com que os números cresçam. Isso traz também anunciantes, é tudo bom para o negócio.

"A rádio à antiga não é a minha forma de fazer rádio"

Que desafio lhe foi proposto neste novo programa?
Estou a fazer o "Tá Bonito" no horário de regresso a casa, das 16h às 19h. Aquilo que eu faço é um bocadinho aquilo que já fazia do outro lado e é um bocadinho aquilo que faço no dia a dia, que é levar muita animação às pessoas. Uma comunicação muito leve, que acho que é o meu estilo de fazer rádio. A rádio à antiga não é a minha forma de fazer rádio. É aí que entra a parte do rejuvenescimento, de fazer algo novo. A minha forma de comunicar mais próxima, um lado mais fun, mais descontraído. Eu gosto muito de ter as pessoas a participar por WhatsApp. Quero fazer com que as pessoas sintam que têm um poder muito grande no programa. É entreter quem regressa do trabalho, fazer com que as possam participar, sentir que o áudio dessas pessoas é importante para o programa.

Como é ser agora colega da Joana Marques, que também já brincou consigo no "Extremamente Desagradável" [rubrica do programa da Renascença "Três da Manhã"]?
Já me cruzei várias vezes com a Joana Marques e eu próprio elogiei o podcast delas. Acho que foi muito inteligente. Acho que é incrível aquilo que fazem. Acho que elas, quando todos os dias levam conteúdos diferentes de pessoas diferentes, a ideia não é escarafunchar ou fazer com que essa pessoa seja lesada. Porque há pessoas que levam aquilo muito a peito. Mas é humor, não é?

Também se tornou, de certa forma, um privilégio ser visado no "Extremamente Desagradável". Significa que a pessoa existe. 
Exatamente. Significa que tu não és um Zé ninguém.  Seres visado num "Extremamente Desagradável" significa que não passas despercebido, que és alguém minimamente conhecido ao ponto de ela conseguir brincar contigo. E brincou muito bem. Eu próprio desatei-me a rir porque acho que teve muita graça. E acho que, da parte dela, saber que há pessoas que não levam aquilo tão a peito, também é bom, não é? Acho que, logo aí, fez com que a minha relação com elas se tornasse mais forte.

Fazer televisão está no seu horizonte?
Fiz um programa na antiga TV Ficção, o "Show Talent". Foi a primeira experiência em televisão. Na altura, estive também no "All Together Now" [talent show da TVI emitido em 2021], mas não senti...

Foi num momento estranho, na pandemia...
Eram 100 jurados. Para mim, aquilo não foi propriamente uma experiência de estar a apresentar um programa de televisão. Gostei muito de fazer o "Show Talent" porque todas as semanas gravávamos num sítio diferente. Aquele programa dava a conhecer talentos. As pessoas mandavam vídeos do talento que tinham, fosse na área do canto, da representação, o que fosse. O que eu fazia ali era dar a conhecer, reagir a esses talentos. E foi bom porque percebi que o bichinho da televisão me apanhou. Esse é, neste momento, o meu próximo objetivo. Estou muito bem na RFM...

O que é que gostaria de fazer em televisão, dentro das possibilidades, infelizmente, cada vez mais reduzidas que a televisão, pelo menos a generalista, tem?
Gostava de fazer entretenimento. Um programa de sábado à noite, sábado à tarde, ou domingo à noite. Por exemplo, um programa como o "Dança com as Estrelas", muito por aí nesse registo, de entretenimento que junte as pessoas. Um programa de desafios, por exemplo. Mais entretenimento e menos coisas sérias.