Pedro Fernandes está de volta ao "Café da Manhã" da RFM. O comunicador de 46 anos regressou, juntamente com Mariana Alvim, ao horário nobre da rádio, um retorno que faz parte das mudanças na grelha da antena do Grupo Renascença.

Se dissermos 'Pacheco', a geração X e os early millennials saberão logo que estamos a falar de Pedro Fernandes. Esta era a alcunha com que se estreou em televisão, em "A Revolta dos Pastéis de Nata", o talk show da RTP2 conduzido por Luís Filipe Borges, lá atrás no saudoso ano de 2005. São duas décadas repletas de programas de entretenimento, desde os talk shows ("5 Para a Meia-Noite", "Caia Quem Caia") aos game shows ("The Big Picture", "Brainstorm"), passando por talent shows ("Operação Triunfo", "The Voice Portugal", "Got Talent Portugal").

Em entrevista à MAGG, Pedro Fernandes fala sobre a passagem pela TVI, onde chegou a apresentar o concurso "Ver Pra Crer", em 2020, e de onde saiu com amargo de boca, uma vez que o projeto que tinha em mãos, juntamente com Marco Horácio, chegou a ser anunciado mas nunca concretizado. Enfatiza a importância que a rádio tem na sua carreira e não fecha portas a um regresso ao pequeno ecrã.

Casado há 19 anos com Rita Fernandes, o comunicador conta como é que está a lidar com a adolescência dos filhos, Tomás, de 16 anos e Martim, de 12. Conhecido nas redes sociais por ser um entusiasta por maratonas e triatlos, Pedro Fernandes revela ainda se vai participar numa das provas mais mediáticas dos adeptos de desporto, o Ironman, que este ano regressa a Cascais.

Esteve dois anos e meio afastado das manhãs da RFM. Como é estar de volta?
Foram dois anos e meio a fazer as tardes. Confesso que a adaptação foi muito mais rápida do que aquilo que eu estava à espera. Foi quase como se estes dois anos e meio não tivessem acontecido e, de repente, estou a acordar às cinco da manhã e parece tudo normal outra vez. Mas tem sido muito fácil a adaptação. Também continuo com a Mariana Alvim, que me ajuda a sentir em casa e nos terrenos que já tinha pisado antes. E por isso tem sido muito fácil.

Estava à espera deste regresso?
Não posso dizer que não estivesse à espera que acontecesse um dia. Não pensei que fosse tão rápido até porque estava a divertir-me a fazer o programa da tarde e já tinha adaptado toda a minha vida para aqueles novos horários. E estava a correr-nos muito bem o "6 PM". Era um programa de apenas duas horas, mas já éramos líderes na segunda hora, das sete às oito já éramos o programa mais ouvido em Portugal e estávamos a crescer na primeira hora. Estávamos taco a taco com a concorrência. E eu esperava fazer esse caminho e tornar aquele horário mais sólido ainda e líder a curto prazo. Não foi possível. Foi-nos pedido pela administração e pela direção para voltarmos para as manhãs. E lá está. Eu gosto é de fazer rádio. E divirto-me a fazer rádio. O horário acaba por ser o menos importante. A direção é que toma as decisões conforme os dados que tem na sua posse e os estudos que fazem. E, claro, não podia dizer que não. Se precisavam mais de mim na manhã, então lá vou eu para a manhã.

Esta cumplicidade que criou com a Mariana Alvim...
Eu não a conhecia antes do "Café da Manhã". Ela está na RFM há mais anos do que eu e só quando houve a reformulação do "Café da Manhã", há 8 anos, é que a conheci e fomos criando essa cumplicidade.

Pedro Fernandes e Mariana Alvim
Pedro Fernandes e Mariana Alvim Pedro Fernandes e Mariana Alvim

Que é resistente a horários. 
Eu gosto muito de ter a Mariana Alvim ali ao meu lado. Já criámos uma grande cumplicidade fora e no ar também. E espero que continuemos durante muito mais tempo enquanto isso fizer sentido para toda a gente.

Não sei se estou a dizer alguma asneira, mas estes casamentos profissionais na rádio têm de ser muito mais autênticos do que na televisão.
Sim, sim.

Porque é muito difícil, quando estamos só a ouvir a voz, disfarçar que não se gosta da outra pessoa. 
Eu acho que os ouvintes, quando estão a ouvir um programa, conseguem perceber se a cumplicidade não é real. E eu acho que as cumplicidades reais são as que depois aguentam mais tempo no ar. E acho que é isso que tem acontecido comigo e com a Mariana. Por isso é que também somos muito amigos fora do ar.

Nestas últimas semanas aconteceram coisas interessantes no mercado da rádio,  transferências quase ao estilo do futebol, que é algo que já nem sequer acontece em televisão, pelo menos nos últimos anos. Como é que observou estas movimentações? 
Com satisfação. Acho que é natural e tem de cada vez ser mais natural. Parecia que havia quase como que um pacto silencioso entre as rádios, de não se contratar ao outro lado da barricada. E agora parece que se quebrou essa barreira. E eu acho que ainda bem, porque as pessoas têm de se sentir bem onde trabalham, não é? Têm de se sentir valorizadas.
E têm de ir procurar sempre o melhor para a vida delas. E às vezes, quando não nos sentimos valorizados num sítio, se alguém nos dá valor num outro sítio, acho que isso é bom, não é? Acho que dá-nos mais alegria e acho que trabalhamos com outra alegria quando o nosso chefe é uma pessoa que gosta do nosso trabalho e que nos valoriza. Portanto, eu acho que é muito saudável e espero que continue.

Porquê é que acha que, pelo menos em Portugal, as figuras que fazem os horários principais das rádios se tornaram tão atrativas para o mercado? Mesmo em termos publicitários. Vemos figuras como a Joana Marques a fazer campanhas publicitárias, a serem requisitadas também para a televisão...
No digital também.

Sobretudo no digital. Como é que acha que acha que esta mudança aconteceu e porquê?
Sim, eu acho que finalmente se percebeu que a rádio fala mesmo para muita gente. E se comparar as audiências de programas de rádio com programas de televisão, as diferenças são abismais. Por exemplo, nós nos "6PM" estávamos com uma média de 600 mil ouvintes. Qual é o programa de televisão que faz 600 mil ouvintes?

Só à noite.
Só à noite. Se passas para amanhã, por exemplo, nós estamos com 800 mil ouvintes. Mais coisa, menos coisa. Já tivemos mais. É verdade, já tivemos 900 mil.

E para a contabilização desses dados nem sequer contam as audiências em meio digital. 
Sim, nós já temos acesso a esses dados, como é óbvio. Aliás, esses são os mais fidedignos. Porque as pessoas ligam-se online, escolhem a rádio e nós sabemos em tempo real. Esses conseguimos analisar em tempo real quem é que está a ouvir, quem é que fica, quem é que sai, quanto tempo é que fica, etc. Os dados que servem para as sondagens da rádio são menos fidedignos porque são feitos com chamadas telefónicas e perguntam-te que rádio é que tu ouviste ontem. Normalmente é a rádio que está mais no top of mind [termos em inglês que significa "o primeiro que vem à cabeça"], é que beneficia com esse tipo de sondagens. A rádio que tem mais poder de investimento em média e em publicidade é que beneficia mais destes resultados. Portanto, as leis do mercado e o valor de cada rádio e a atratividade para as marcas e para a publicidade acaba por ser baseada, se calhar, na forma menos correta de medir as audiências de rádio. Mas são as regras que nós temos e são com essas temos que nos reger.

Mas eu acho que foi isso. Estas figuras que fazem estes horários mais nobres, seja o regresso a casa, seja o ir para o trabalho de manhã, que é o prime time da rádio, chegam mesmo a muita gente. Estamos a falar de impactar um milhão de pessoas em cada manhã. Portanto, se as marcas não estavam tão acordadas para isso, é porque também andavam a dormir, nesse aspecto. E eu acho que isso pode-se explicar um bocadinho da atratividade que essas pessoas também têm para as marcas.

Do outro lado, para si, a televisão deixou de ser interessante? A sua última passagem pela televisão foi... 
Foi um bocadinho fugaz, não é? A televisão continua a ser interessante para mim. Agora, eu acho que a rádio apareceu na minha vida numa altura em que eu estava muito confortável em televisão. Ainda estava na RTP e a fazer também horário nobre. E depois houve ali uma série de convulsões na minha carreira na televisão que me levaram até à TVI. E depois, na TVI, as coisas não correram como eu esperava e as coisas que eu tinha planeado não se concretizaram.
E a rádio, nessa altura, assumiu o papel principal na minha vida profissional. E eu tenho vindo a aprender a viver com isso, cada vez melhor, ao ponto de hoje, não sentir muita falta da televisão. Mas com um gosto enorme por voltar a fazer televisão. Porque acho que tenho muita coisa para fazer ainda. E acho que posso fazer muita coisa bem feita em televisão.

O que gostaria de fazer em televisão? Porque nós olhamos para o cenário atual e é tudo muito monolítico. 
Pois. Não há, assim, apostas em grandes formatos novos, não é? Que marquem pela diferença. Mas eu acho que nós podemos, mesmo em formatos que já existem, podemos sempre marcar pela diferença com a nossa personalidade. Portanto, eu acho que seria capaz de fazer o quer que fosse em televisão, voltar a fazer um talk show, por exemplo. Ou voltar a fazer programas de entretenimento, nos quais eu me divirto muito, e o que eu considero que o "Café da Manhã" também é, um programa de entretenimento com alguma informação. Eu vejo-me a encaixar em qualquer lado. Porque acho que o meu cunho acaba por ser sempre muito pessoal e tem a minha personalidade. E acho que isso cada apresentador dá um bocadinho de si também e transforma os conteúdos em programas ligeiramente diferentes. E por isso é que os programas não são todos iguais e não resultam da mesma maneira num país ou noutro, não é? Por isso, respondendo à sua pergunta, via-me a fazer qualquer coisa, quer que fosse. Mas, neste momento, a rádio preenche-me tanto, e as outras coisas todas que eu faço para além da rádio, que acabo por já deixar um bocadinho
de pensar nisso. Se surgir, surge. E muito bem, vou agarrar com unhas e dentes outra oportunidade. Se não surgir, olha, paciência. Não morre ninguém por causa disso.

Sobre o triatlo. "Já corria muito e estava a precisar de mais desafios"

Como é que é ser pai de adolescentes?
Está a ser muito fixe! Não são filhos que me deem problemas. Para já. Espero que continuem assim.

Desportistas como o pai?
Nem por isso. Essa é a parte que eu falho. Estou a tentar incutir-lhes o desporto, mas não está fácil.  Mas eu também só acordei muito para o desporto muito tarde também. Ou seja, tive o desporto muito cedo, mas depois baldei-me e só agarrei no desporto passado muitos anos. Portanto, incutir-lhes isso, espero que mais pelo exemplo que eu dou, de fazer desporto todos os dias e me sentir bem com isso. E que mais dia, menos dia, também o 'bichinho' do desporto acorde entre eles e que eles cheguem ao exemplo do pai.

Pedro e Rita Fernandes com os filhos
Pedro e Rita Fernandes com os filhos Pedro e Rita Fernandes com os filhos

Sente que inspira muita gente ao mostrar o seu estilo de vida saudável, a prática de desporto e que não é preciso ter começado a correr aos 10 anos para fazer provas? 
Não só sinto, como tenho a certeza. Porque recebo muito feedback nesse sentido. 'Olha, comecei a correr por tua causa, incentivaste-me a começar a correr, eu nem gostava e agora também gosto'. Agora, com o triatlo, também há muita gente a dizer que também já começou a tentar praticar e pede-me dicas, seja de nutrição ou da bicicleta ou de nadar no mar, coisas que eu também tenho vindo a partilhar.

Porque é que escolheu o triatlo?
Já corria muito e estava a precisar de mais desafios. Comecei a ter muitos amigos que estavam também a praticar triatlo, comecei a ficar curioso, fui experimentar um dia um treino de natação, fui experimentar um dia um passeio de bicicleta e, às tantas, 'olha, isto é capaz de ser giro'. As coisas depois vão crescendo.

Vai fazer o IRONMAN de Cascais?
Vou fazer o half, em princípio. Eu já fiz o ano passado e este ano estão a tentar convencer-me a fazer o full. Mas eu já disse que quando chegar à altura...São 3.800 metros a nadar, 180 quilómetros de bicicleta e 42 quilómetros a correr, uma maratona. O half é metade das distâncias.  Já disse, 'quando chegar à altura, uma semana antes, eu digo se estou preparado para o full ou não e depois logo vejo.

Como é que uma pessoa se prepara para uma prova destas?
Tem que se treinar todos os dias. Tens de tirar tempo da tua vida pessoal para conseguires treinar todos os dias.