Janeiro de 2025 foi de mudanças, tanto para Pedro Fernandes como para Mariana Alvim. A dupla de animadores da RFM regressou ao "Café da Manhã", programa matinal da antena do grupo Renascença, depois de um hiato de dois anos e meio.

O primeiro mês do ano é também um marco importante para a comunicadora de 45 anos. Em janeiro de 2024, Mariana Alvim foi operada a um tumor benigno localizado no cérebro. Um "susto", como conta em entrevista à MAGG, que ainda conseguiu esconder dos três filhos (Vasco, de 17 anos, Diogo, de 13 e Matias, de 8) para que estes conseguissem desfrutar do Natal de 2023.

Há 16 anos na rádio do grupo Renascença, a comunicadora é também a anfitriã de "Vale a Pena", podcast premiado em 2023 na categoria "Arte e Cultura" do PODES - Festival de Podcasts. No formato dedicado ao prazer de ler, Mariana Alvim recebe figuras públicas, de escritores a celebridades da TV, que falam sobre os livros que marcaram as suas vidas.

Leia a entrevista

Como está a ser o regresso às manhãs da RFM?
A resposta que eu dou sempre aos meus amigos é 'pergunta-me daqui a um mês' (risos). Mas está tranquilo.

É quando assentar a rotina, não é?
A adaptação é sempre... Tens que passar por ela.

E como está a ser, juntamente com o Pedro Fernandes, voltar a estar quase como se fosse em casa? 
É sempre uma readaptação. Porque, quando saímos das manhãs para ir para a tarde, é estranho. É giro porque tu comparas vantagens e desvantagens. E estes dois anos e meio de tardes foram ótimos para agarrar as vantagens, não é? De repente, eu confesso que não era uma coisa em relação à qual eu estivesse cheia de vontade (risos). Agora sei que estou na adaptação por isso é que eu brinco. 'Pergunta-me daqui um mês', que significa 'deixa-me agora tentar voltar a lembrar das vantagens'. Porque há desvantagens também, não é? Acordar de madrugada nunca foi a minha escolha (risos).

Quão de madrugada é que acorda? Cinco da manhã?
Não. Mais perto das seis. Eu tento acordar o mais tarde possível. Ou seja, a roupa está preparada de véspera. Agora estou a tentar tomar duche à noite para, de manhã, não ter que tomar duche. Porque apesar de ser bom acordar e tomar duche para arrebitar também não quero acordar toda uma casa que está a dormir, não é?

O "Café da Manhã" é o mesmo formato, mas acaba por ser um bocadinho novo, porque têm elementos diferentes, o Luís Pinheiro e a Ana Garcia Martins, que transita da equipa anterior. Como é que está a ser esta adaptação?
Já conhecia a Ana a nível pessoal. É engraçado porque ela chega lá e faz o momento dela... E agora estou a ver ao vivo. E até é giro naquele momento ter uma rapariga ao pé de mim, porque há muitos anos que a minha vida é só de rapazes nas equipas. Portanto, dá-me imenso gozo. O Luís é um miúdo porreiro, Já o conhecia, era coleguinha da Mega Hits, gostava muito dele nos corredores. Agora estou a conhecê-lo no ar. E acho que tem tudo para correr bem. Estamos mesmo a conhecê-lo. Estamos todos ainda a apalpar terreno, porque o Pedro e eu éramos uma dupla e, de repente, há aqui um terceiro elemento. Portanto, temos o esforço de não deixar... Que nem o esforço, na verdade. Nós naturalmente não o deixamos de fora. E é giro porque é mais novo do que nós. Portanto, há-de haver aqui diferenças que estamos ainda a explorar.

Quando foram abordados pela direção para este regresso às manhãs, o que é que vos foi pedido?
Nós não somos novos na rádio, não é? Já conhecemos a rádio, já fizemos manhãs. O Pedro fez seis anos e eu fiz nove anos e meio. Então é um bocadinho regressar. O nosso programa da tarde chamava-se "6 PM", não é um "6PM" nas manhãs. É o Pedro e a Mariana que voltam às manhãs, trazem um novo elemento. As mudanças somos nós, que passamos da tarde para a manhã. De resto, a rádio é a mesma. E é dar o nosso melhor. Não há assim uma estratégia. Não há um contraste ou um corte no que aconteceu. A rádio continua.

Como é que analisa as transferências que aconteceram no início do ano nas rádios nacionais?
Se reparar, isto nunca tinha acontecido. Pelo menos nos meus quase 16 anos de rádio eu nunca vi uma coisa assim. Eu acho que é ótimo. Os meus antigos empregos eram em meios abertos. Tu não estás contente, mandas currículos. Tu és jornalista, podes mudar de jornal. Trabalhei em marketing, podia mandar currículos. E fiz. Aqui era um bocadinho um mercado fechado, que é um bocado assustador e até se calhar injusto. Porque não ter um mercado aberto? Eu fiquei muito contente com as mudanças que houve, pelas rádios e pelos meus colegas. Até que enfim que o mercado abana.

Para quem trabalha na RFM, sobretudo para quem está de volta ao horário nobre, há uma pressão acrescida de tentar bater a concorrência, a rádio Comercial?
No fundo o desafio é esse, claro que amigável. Mas a pressão, sem dúvida, é pelas audiências, até porque, se temos mais ouvintes quer dizer que estamos a fazer bem o nosso trabalho. Mas nem é a pressão do exterior. Vamos ser nós próprios e vamos agradar aqui aos ouvintes. E depois, obviamente, há a pressão dos resultados. Mas eu acho que, se vivêssemos preocupados com essa pressão, não estaríamos descontraídos. E antes de tudo é: "vamos divertir-nos e vamos divertir os nossos ouvintes". Se calhar não por esta ordem, mas divertir os nossos ouvintes e nós a curtir a fazê-lo. E depois, claro, há resultados para apresentar. Não deixam de ser empresas.

Em televisão, se dois coapresentadores não têm química, dá para disfarçar. Mas em rádio isso é, não diria que é impossível, mas é muito mais difícil porque a pessoa não tem a imagem para florear. Acha que a vossa ligação tem sido fundamental para o sucesso dos formatos que têm feito?
Eu acho que sim. E começou ao contrário. Nós começámos sem nos conhecermos. Não havia uma amizade, havia amigos em comum. Foi também natural esse nosso crescimento e aqui é um pau de dois bicos no bom sentido. Que bom esta empatia que cresceu entre nós e esta química que há, que bom para a rádio e que bom para nós porque, sem dúvida, se não há química, e se é forçado... Eu o Pedro somos muito parecidos porque nós somos muito... O que vês é o que nós somos. Somos um bocado até demasiado transparentes. Acho que, por mais que sejas profissional, não seria fácil disfarçarmos ou fingirmos esta empatia. E se calhar também não estávamos felizes, se calhar também não estávamos aqui. Acho que tivemos sorte e junta-se ao útil ao agradável.

Mariana Alvim e Pedro Fernandes

 A televisão tem mais artifícios e, na rádio, vocês têm mesmo de estar como se estivessem em vossa casa com as pessoas. Há dias em que isso é difícil? E quais é que são os recursos a que recorrem para ter esse à vontade?
Aí sim, não é fingir. Continuamos a ser genuínos. Acho que é esse o termo. Mas sem dúvida que é difícil. Eu estive quase 10 anos no "Café da Manhã" e tive momentos na minha vida muito difíceis. Eu tive um bebé que, durante dois anos e meio, não me deu uma noite inteira. E foi muito duro. Quando comecei o "Café da Manhã", em 2013, o meu segundo filho, o Diogo, tinha um ano e meio. Ainda lhe dava biberão de manhã. E deu-me um ano e meio sem noites. Quando finalmente começo a dormir bem, vou para as manhãs. Anos depois, tive o Matias, que nasceu em 2016. E foram dois anos e meio... Houve dias que eu cheguei a arrastar-me ao estúdio, a doer-me os olhos e a doer-me o coração. Mas depois, há aqui duas coisas. Primeiro, profissionalismo, sem dúvida, não vou passar a minha neura aos ouvintes. E segundo: aquilo que se fala do bichinho da rádio, é mesmo engraçado, porque dá-te mesmo pica. Eles até brincavam que eu tinha mau acordar. Já era gozada, quando trabalhava em marketing, 'não digam nada que ainda não são 11 da manhã', porque acordo devagarinho. Não sou refilona, mas não fales comigo. Acordo devagarinho. Portanto, até foi uma ironia este horário para mim.

Mas depois, entramos no ar e tu esqueces-te que o teu filho deu uma noite horrorosa ou que, se calhar, alguém na família está com problemas de saúde e tu estás triste por causa disso, eu não posso passar isso para o ar. Acredito mesmo quando se diz, e sinto mesmo quando os meus colegas dizem isso, que parece que deixas os problemas fora do estúdio.

Sobre o diagnóstico do tumor benigno. " Fiz rádio durante um mês
a sorrir e ninguém fez ideia"

Como é que surge a ideia do podcast "Vale a Pena"?
Eu gosto muito de ler e cheguei a uma conclusão muito cedo: tu lês muito por recomendação. Sempre tive essa curiosidade de... estou aqui a falar contigo e penso, 'o que é que será que a Raquel gosta? Qual é o teu género? És mais para intelectual, és mais de clássicos, de thriller, romance?'.  Então que giro que é conhecer pessoas, à partida, já mais conhecidas, a falarem de quatro livros de que gostaram. E, depois, que giro que é saber o que é que leu o Diogo Infante, a Catarina Furtado. Depois há as surpresas, como a Teresa Tavares, que tem ótimas recomendações. Fiquei radiante quando comecei a conseguir escritores e agora até as editoras pedem - o que é ótimo sinal. A grande queixa que recebo dos ouvintes que é não conseguem dar vazão a tantos livros (risos)! Estou a adorar este projeto, dá-me muito mais trabalho do que eu estava à espera mas chamo-lhe um investimento. Cresci imenso enquanto leitora.

Qual é que foi o convidado que mais a impactou?
O Gonçalo M. Tavares. Eu sei de antemão os quatro livros que o convidado gostou e vou estudá-los. O Gonçalo M. Tavares, de quem eu sou fã, escolheu "A Montanha Mágica", do Thomas Mann, Séneca, filósofo estóico do século I, e Rimbaud, poeta francês. E eu fiquei 'como é que eu vou desenvolver esta conversa?'. E foi uma surpresa maravilhosa porque a conversa foi ótima. Sou suspeita porque sou fã, mas de facto há muito que tu tiras das "Cartas a Lucílio", de Séneca, por exemplo. Lembro-me de perguntar ao Gonçalo: "Séneca é fácil, é acessível a toda a gente?". E ele disse: "Claro! Quer dizer, se for difícil, esforça-te e tenta outra vez!". E eu pensei "tens toda a razão!". Como em tudo na vida.

Então tive esse discurso com os meus filhos. Eles não adoram ler, é um desafio que eu tenho cá em casa, e o mais velho, aos 11 anos, adorou uma coleção juvenil e foi a única vez e primeira aliás que ele estava viciado na leitura e eu radiante. Quando o segundo filho faz 11 anos, eu doida para lhe emprestar os livros. E ele começou a adiar, a adiar, a achar que era um bocadinho difícil para ele porque não tinha o ritmo da leitura. E por acaso, agora aos 13, ele já está finalmente a ler e está completamente viciado. Lembro-me de, na altura, dizer "tu achas que vai ser difícil para ti ler este livro. Para já, tens que experimentar, não é? E se for difícil, lês mais devagar." Mexeu imenso comigo, a conversa do Gonçalo, que são coisas que tu sabes que são óbvias mas às vezes precisas de ouvir, e então foi um bom exemplo de uma conversa que deu ali a volta.

Gostava, se houvesse a oportunidade, de passar este podcast para a televisão? Porque a verdade é que o que há em televisão sobre livros é tudo muito, não ia dizer chato, mas se calhar formal.
É engraçado porque muitos seguidores pedem-me isso. É bom sinal. Eu concordo, acho que há muita coisa agarrada aos livros pouco divertida e este podcast - e eu digo isto agora com alguma confiança porque quem diz são os ouvintes não sou eu -  mas não é um podcast armado em intelectual. É para gregos e troianos até porque os convidados é que escolhem os livros e há de tudo. Há quem prefira a meditação e recomende livros de ioga, há quem de facto seja mais intelectual. Os programas de televisão que eu vejo associam muito ao intelectual, ao sério e o grande elogio que eu recebo é esse, que é acessível para toda a gente. Eu acho que o formato, se calhar sim, faz falta em televisão. Eu é que não tenho muito jeito para me vender (risos)!  Mas estou disponível para falarmos!

Fez agora um ano que foi operada a um tumor benigno no cérebro. Em retrospectiva, o que é que  sente em relação a esse susto?
Fez um ano em janeiro. Demorou a cair-me a ficha. Na altura, fiquei debaixo de água. Foi um susto enorme. Escrevi uma carta de amor aos meus filhos e os códigos do banco para o meu marido. Estava cheia de medo de não acordar. Também fiz uma carta de amor para o meu marido (risos)! "Meus amores, sejam gentis uns para os outros". Foi o que eu pedi aos meus filhos. Eu festejei sempre a sorte que eu tive. É benigno. Depois brincava com "podia ser no ombro ou no joelho, por favor?". Escusávamos de ter de abrir a minha cabeça. Foi um susto enorme. Em dezembro, fez um ano que fiz a ressonância magnética e caiu-me uma bomba no colo. Eu soube antes do Natal que tinha o problema que eu tinha, é um tumor no cérebro. Eu até dizia "uma coisa na cabeça", eu nunca gostava de usar os termos 'tumor' ou 'cérebro'.

Mariana Alvim com o marido, Tiago Rodrigues, e os três filhos
Mariana Alvim com o marido, Tiago Rodrigues, e os três filhos Mariana Alvim com o marido, Tiago Rodrigues, e os três filhos

E fiz rádio durante um mês a sorrir e ninguém fez ideia. Desabafei com a minha equipa na rádio, esperei pelo Natal, só depois é que contei aos meus filhos. Como mãe, o que é que eu vou fazer? Estragar-lhes o Natal?  E, depois, têm idades diferentes e percepções diferentes do que é que ia acontecer. O pequenino foi o último a saber. Eu disse "a mãe vai ser operada" e ele não perguntou a quê. Então eu disse aos mais velhos "o Matias não percebeu, não expliquem. Deixem-no nesta ingenuidade que vai facilitar-lhe a minha vida". Mas correu tudo bem, cá estou eu, graças a Deus. Podia ter ficado paralítica de um lado, não fiquei. Há algumas mazelas, mas não me posso queixar. Mas muita coisa muda no sentido em que... eu acho que já dava valor à vida. Eu perdi, infelizmente, pessoas na minha vida muito próximas muito cedo, portanto já dou esse valor à vida, já tenho esse medo. Somos muito frágeis e as coisas acontecem num instante.

Não sei se acontece aos 40 anos, começas a perceber que tens dificuldade em dizer que não e eu já estava nessa conversa comigo própria. E aqui digo "mais não". Hoje estou cansada, vou descansar. Saúde primeiro e valorizar a vida. Agora, também há sempre um receio que tudo isto volte, mas é é ir ao médico. É o que toda a gente devia fazer, como fazem com o carro, revisão obrigatória. Então é marcar médicos e estar atenta.