Passaram-se 10 anos, mas o tema continua a ser bastante atual, especialmente quando as mentalidades permanecem as mesmas. Em 2014, Jéssica Athayde viu o seu corpo ser alvo de duras críticas (especialmente por mulheres) quando desfilou para a marca Cia.Marítima no segundo dia de ModaLisboa, e recebeu vários comentários negativos sobre o seu eventual excesso de peso. Em 2024, a atriz garante que já nem pensa sobre o assunto.
“Já não penso nisso. Às vezes rio-me e penso ‘Chamaram-me gorda aqui? Coitados, e agora o que é que me iam chamar?’”, contou a atriz de 38 anos à MAGG, à margem do evento da Gillette Venus. Numa conversa com várias influenciadoras digitais, entre elas Maria Morango e Constanza Ariza, Jéssica Athayde falou sobre várias questões relativas ao corpo feminino, como a escolha da depilação e as relações sexuais, e, com a MAGG, abordou um tema que há muito lhe diz respeito: ter uma voz ativa e confiável nestes temas.
No entanto, em 2014, a história não era a mesma. Lidar com os comentários após o desfile não foi fácil, e a atriz acredita que foi um processo de aprendizagem. “Acho que ninguém está preparado para ser atacado em vão, e ia doer da mesma maneira sendo uma mulher ou um homem. A verdade é que ninguém gosta de ser atacado, e no fundo vivemos todos com aquela coisa de que queremos que todos gostem de nós. De repente chegar à conclusão de que nem toda a gente gosta pode ser difícil, mas lá está, é mesmo um processo de aprendizagem. É um processo da vida que acontece”, explicou.
2014 foi também o ano em que a atriz confessou que sofria de anorexia nervosa, um distúrbio alimentar e psicológico que afeta grande parte da vida das pessoas. “Há uma coisa muito importante sobre a anorexia e sobre a maior parte das doenças, é que elas não têm um princípio, meio e fim. É um processo que tu tens, algo que ficas a gerir ao longo da tua vida. É um processo que eu faço ao longo da minha e que continuo a fazer”, disse a atriz.
Ainda assim, aliado aos comentários negativos que recebeu na ModaLisboa, este foi um período em que Jéssica Athayde conseguiu transformar a negatividade das pessoas em algo positivo, e isso é algo de que se orgulha até hoje. “Consegui transformar isso, na altura, numa coisa até positiva, porque comecei a dar voz um bocadinho aos distúrbios alimentares, ao facto de como as mulheres e os homens se tratavam mal. Acho que também trouxe um bocadinho o tema para conversa, e isso é muito importante”, disse. No entanto, acredita que ainda há um longo caminho a percorrer.
“Se qualquer figura pública portuguesa for a um evento e tiver pelos nas axilas isso iria ser notícia. Mas porquê? É uma escolha da mulher, é algo natural, ela não está a fazer mal a ninguém e apenas tomou a decisão de não se querer depilar. Isso devia ser respeitado, e é aí que nós [Portugal] somos velhos”, explicou. Na sua visão, o que mudou na sua vida foi “a maturidade”, e a atriz acredita que é isso que falta a muitas pessoas.
Perante a situação de 2014 na ModaLisboa, onde desfilou em biquíni e foi bastante criticada, a atriz confessa que hoje, se lhe tirarem uma fotografia nos mesmos modos, já não é “uma grande preocupação”, e muito se deve à maternidade.
“Há uma coisa que aconteceu na minha vida, que foi o facto de ter sido mãe. Isso mudou-me bastante, a mim, à minha forma de estar e à maneira como eu vejo aquilo que os outros pensam. Mas claro que eu gosto de me sentir bem, quero estar confortável com o meu corpo, uma pessoa passa o ano todo a escondê-lo para depois chegar o verão e querer andar com ele de fora”, disse, entre risos. Jéssica Atahyde é mãe de Oliver, de 4 anos, fruto do relacionamento que a atriz tem desde 2018 com Diogo Amaral.
Os seguidores de Jéssica Athayde começaram a ver a atriz como uma espécie de influenciadora nas questões do corpo da mulher, não só pela sua voz ativa no mundo da saúde mental, como também pelas suas opiniões acerca do que a mulher deve ou não deve fazer — e, na opinião da atriz, a mulher deve tudo. Para a atriz, esta “influenciadora” é quem ela sempre foi, e a oportunidade de conseguir dar visibilidade a estes assuntos é muito enriquecedora. “Consegui ir transformando a minha própria visibilidade como atriz em temas que são importantes é muito bom, porque há reconhecimento”, disse. “É a pessoa que eu sou."
Quanto à maternidade, Jéssica Athayde refere que, além de ter feito com que ficasse mais confortável com o seu corpo, levou-a a conseguir compreender melhor aquilo que é ser mulher, o que a ajudou ainda mais neste processo de aprendizagem, que leva consigo desde 2014.
“[A maternidade] trouxe uma maturidade diferente, e acima de tudo, uma compreensão maior sobre o que é ser mulher. Não por ter tido um filho, mas pelas etapas a que fui obrigada a passar desde então, e a forma como sofri todas as alterações que isso pediu de mim. Hoje sei muito mais”, disse.