João Paulo Rodrigues, 45 anos, é apresentador de televisão, ator, humorista, músico e, mais recentemente, piloto de aviões. Atualmente, está a apresentar o programa “Missão: 100% Português”, na RTP1, ao lado de Vera Kolodzig, e a gravar o seu primeiro disco de originais, cerca de 12 anos depois de ter surpreendido os portugueses ao cantar e encantar na primeira edição d’ “A Tua Cara Não Me É Estranha”, na TVI, da qual se sagrou vencedor.

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O humorista popularizou-se na dupla Quim Roscas e Zeca Estacionâncio, juntamente com Pedro Alves. Protagonizaram o “Telerural”, na RTP, que estreou em 2008. À MAGG, João Paulo Rodrigues fala sobre o sucesso que as personagens continuam a ter, passadas mais de duas décadas, ao ponto de continuarem a esgotar salas de espetáculos, e revela que gostava de voltar a ter um programa em televisão com o seu amigo de longa data. Além disso, adianta que os fãs podem contar com um terceiro filme e ainda deixou no ar uma possível série.

Nos dias 16 e 17 de fevereiro, a dupla estará no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, sendo que a segunda data já se encontra esgotada, a 24 em Ermesinde, a 25 em Anadia e a 29 viaja até Andorra. A 2 de maio vão atuar no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Pode encontrar os bilhetes para os espetáculos aqui e aqui.

Além disso, explica como é viver entre Lisboa, onde trabalha, e Leiria, cidade onde as filhas, Rita, 13 anos, e Sofia, 7 anos, moram com Juliana Marto, a sua ex-mulher. João Paulo Rodrigues revela ainda à MAGG se continua solteiro e bom rapaz.

Leia a entrevista.

O João Paulo Rodrigues está atualmente a gravar o seu primeiro disco de originais. O que se pode esperar dele?
Ui, ui, ui. Na verdade, ainda não posso adiantar muita coisa, mas é uma coisa que está a demorar algum tempo a fazer, estou a fazer com muita calma, porque acho que as pessoas vão estar duplamente atentas. O pessoal já sabe que eu gosto de cantar, mas vai estar à espera de perceber o que é que vai sair dali. Já não falta muito para lançar a primeira música, há de ser para breve. Não posso adiantar muito mais.

A música não vem de agora e tem um dueto com a Rita Guerra, “Por Mim”, que já conta com milhões de visualizações. Quando é que decidiu seguir também por este caminho?
Foi uma coisa muito natural. Nunca me imaginei a ser cantor, apesar de gostar de cantar e cantar nos espetáculos que fazia com a dupla do Quim Roscas e Zeca Estacionâncio, mas não era uma coisa que eu me imaginasse a fazer profissionalmente. Acho que foi ali a partir de 2012, quando eu fiz “A Tua Cara Não Me É Estranha” e ganhei aquilo. O pessoal começou a convidar-me para cantar, a contratar-me para ir cantar, eu nem banda tinha nem nada. Eu comecei a sentir essa vontade das pessoas, que fizesse coisas minhas, originais. Os fãs diziam: ‘gostava que tu cantasses’. Eu comecei a deixar-me ir um bocadinho para aí, comecei a fazer umas músicas, uns originais com um produtor meu amigo, e desafiaram-me para fazer um álbum, para fazer uma coisa com pés e cabeça e bem feita. Lá está, como as pessoas estão à espera do Quim Roscas, de um tipo que vai dizer umas asneiras ou que vai brincar um bocadinho, eu tenho de ter a certeza de que uma música vai resultar e as pessoas vão gostar. Há-de ser uma coisa completamente oposta àquilo que eu sou enquanto Quim Roscas, enquanto personagem. Acho que as pessoas vão gostar, acho que está uma coisa madura, sóbria, muito bem escrita, e por isso acho que tem tudo para resultar. Se não resultar, pelo menos tentei.

A par da música, apresenta desde 2020 o programa “Missão: 100% Português”, ao lado de Vera Kolodzig, na RTP, que o faz conhecer vários recantos de Portugal e vários produtos nacionais. Esta é mesmo a melhor parte do formato?
É. É um programa que é muito fácil de se fazer, é muito agradável de se fazer, porque vais para todo o lado em Portugal. Conheces o Portugal que normalmente não se conhece. Não é aquele programa típico em que vais àquela determinada zona do País e já sabes que vais ver aquela coisa porque é típica daquela zona. Isso não acontece. Nós focamo-nos precisamente em mostrar aquelas coisas que as pessoas não conhecem, que são completamente novas e que são desconhecidas, e só por isso é giro. Para mim, é giro porque conheço coisas novas, como muito... Eu farto-me de comer, engordo em média cinco a sete quilos a fazer o programa (risos). Eu sou o lateiro de serviço, a Vera não come muitas coisas, portanto tenho de ser eu a comer. É giro porque viaja-se imenso, tenho uma equipa com quem trabalho – normalmente é sempre a mesma equipa – que é já família, já são bastantes temporadas, muitos meses na estrada. É um programa que as pessoas gostam, porque é divertido, este picanço entre mim e a Vera é giro.

Há uns tempos, há um ano, eu ia para os Estados Unidos fazer um espetáculo com o Pedro [Alves] e estávamos no aeroporto de Lisboa já na parte internacional, no controlo de passaportes, e há um senhor inglês que, em inglês, diz-me: ‘olhe, desculpe, você não é o apresentador daquele programa que fala sobre Portugal?”, eu fiquei a olhar para ele e disse: ‘sim, sou’. E ele: ‘é que eu vim a Portugal porque vi esse programa e vim conhecer coisas de que vocês falavam’. É giro perceber que nós nos divertimos imenso a fazer e há sempre aquelas missões completamente maradas que nos põem a fazer tudo e mais alguma coisa, saltar de aviões, fazer parapente, fazer escalada, que é uma coisa que eu detesto, conhecer pessoas, negócios, empresas e marcas 100% portuguesas, mas sobretudo mostra um Portugal mais desconhecido. Não é aquele Portugal que o pessoal está à espera, mas também é Portugal. Aliás, eu diria que é Portugal e as pessoas não conhecem. Se calhar tem trazido muita gente de fora para aqui, para conhecer Portugal, e eu tenho muita gente que me diz que viu uma cena qualquer no programa e foi conhecer esse sítio, essa aldeia, aquele restaurante, aquele negócio. É giro perceber que te divertes muito a fazer aquilo, mas que estás a fazer algum serviço público, o que é bom.

Na RTP, também já apresentou o “I Love Portugal 4”, com Filomena Cautela, “Chefs da Nossa Terra”, com Isabel Silva, e “Não Te Esqueças da Letra!”. Identifica-se com os programas que tem apresentado ou gostaria de conduzir um projeto que fosse mais a sua cara, mais humorístico, por exemplo?
Eu dou sempre o meu cunho, de humorista não saio. É o que eu faço há mais tempo e faz parte da minha natureza brincar e ser bem disposto. Houve programas com os quais eu me identifiquei e gostei muito de fazer, houve outros... Nos “Chefes da Nossa Terra” andámos pelo País todo a cozinhar, e cozinhar não é o meu forte, mas foi giro fazer, conheci pessoas também muito boas pessoas, muitos chefs, fiz amizade com muitos chefs e agora junto-me com eles para irmos jantar e essa malta sempre que está em Lisboa liga-me e vamos jantar. Eu tenho um grupo de amigos chefs, que é um privilégio, e foi precisamente nesses programas que eu os conheci. Depois apresentei o “I Love Portugal”, que foi um programa que eu adorei fazer, porque adorei trabalhar com a Filomena, é uma excelente coapresentadora e colega e muito generosa. E depois também me diverti muito, há uma altura em que te esqueces que estás a apresentar um programa e já estás a jogar com as equipas, já é uma rebaldaria e está tudo bem-disposto. Também me identifiquei muito com isso, com esse programa.

O “Não Te Esqueças da Letra” foi o meu primeiro programa sozinho, sem ninguém ao meu lado, foi uma aventura gira e foi um programa que ficou na memória das pessoas, porque era muito divertido e foi pena não termos feito mais. Pode ser que a RTP queira fazer mais umas temporadas disto, pôr o pessoal a dizer as letras e ganhar pontos por saber a letra. Foi muito divertido e gostei muito de fazer isso. É assim, ao fim e ao cabo eu tenho tido sorte com os projetos que a RTP me dá. São sempre coisas que eu normalmente gosto de fazer e que têm que ver comigo, mas isso também já é um trabalho que a RTP faz que é: ‘isto é capaz de ficar bem sendo apresentado pelo João Paulo, porque tem que ver com ele’. Acho que eles também fazem essa triagem e eu tenho tido a sorte de ter feito tudo aquilo que eu escolheria. Está a correr bem.

Foi nesta estação que voltou a trabalhar com Vera Fernandes, em “Hoje é Domingo!”, depois de terem feito dupla no programa “OK KO”, na TVI, em 2013, que não correu como esperado e acabou por ser cancelado passadas apenas duas semanas. Como foi voltar a trabalhar com a Vera?
Eu conheci a Vera precisamente quando começamos a fazer o “OK KO” na TVI, em 2013, e ficámos amigos sempre. Podemos estar algum tempo sem nos falarmos, mas a amizade continuou. É giro que os dois projetos dela em televisão foram comigo, um na TVI e outro na RTP. O segundo já durou mais algum tempo, que era aos domingos, mas lá está, eu trabalhar com a Vera é trabalhar com uma irmã mais nova. A gente diverte-se muito, ela é super divertida, uma excelente profissional, uma mulher da rádio, mas com muita pica para televisão, uma excelente companheira também de apresentação. Como somos amigos, é sempre bom estar com ela. O que quer que eu faça que seja com a minha Verinha é sempre bom, porque ela é das minhas pessoas preferidas neste meio.

O João Paulo Rodrigues participou e ganhou a primeira edição d’ “A Tua Cara Não Me É Estranha”, em 2012. Sentiu que este programa o deu a conhecer a ainda mais público?
Na altura, eu não pensei em nada disso. Ligaram-me da Endemol: ‘olha, temos um programa de televisão, basicamente os concorrentes são todos figuras públicas das mais diversas áreas, têm de se vestir como os cantores e têm de imitar os cantores para ganhar’. E eu: ‘oh, que maravilha, eu vestir-me de rapariga, pôr um bigode ou uma peruca e cantar. Vamos embora, siga’. Eu não ia com essa intenção de me mostrar a outro tipo de pessoas, mas por acaso aconteceu. Eu lembro-me que nesse ano, em que eu fiz “A Tua Cara Não Me É Estranha”, a dupla do Quim Roscas e Zeca Estacionâncio bateu um recorde de espetáculos, acho que fizemos 192 nesse ano, por aí. As pessoas que não conheciam e que viam o João Paulo Rodrigues no programa quiseram conhecer as outras coisas que eu fazia e, de repente, deram de caras com a dupla.

Foi um bocadinho à imagem do que acontece agora do Bino, a personagem que o Pedro [Alves] faz [na novela “Festa É Festa”] que é um sucesso enorme na TVI neste momento e havia pessoas que ainda não conheciam a dupla e que, por causa do Bino, começaram a conhecer. Vamos acrescentando sempre mais público à dupla por causa destas coisas que eu o Pedro vamos fazendo. Esse ano de 2012 foi brutal, porque fui lá para me divertir, fui lá para cantar que é uma coisa que gosto de fazer, fui lá mesmo para a palhaçada. Lembro-me que no programa, que era em direto, eu ganhei aquilo, com voto imediato do público, fui para o hotel, deitei-me e quando acordei tinha centenas e centenas de mensagens, pessoas a pedir para me seguir na altura no Facebook. E eu: ‘mas o que é que se passa?’. Liga-me a produtora da Endemol: ‘tu não tens noção do fenómeno que foi, não estás bem a ver’. Foi giro, essa sensação foi muito boa. Acho que é daquelas sensações que não vou voltar a sentir alguma vez na vida, ainda por cima a fazer uma das coisas que eu mais gosto que é cantar. A minha aventura na música começou aí, com pessoas a dizer para eu gravar um disco. Agora, 12 anos depois, vou fazer a vontade a essa malta que me pediu esse favor. É mais um favor para mim.

Nesta altura, foi apresentado como uma grande promessa da TVI. Sente que o facto do “OK KO” ter corrido mal acabou por ditar a sua saída da estação?
Não, acho que não. Eu já não me lembro como é que foi, mas acho que nessa altura estávamos sempre... se não estávamos nos cinco primeiros, estávamos sempre nos dez primeiros do dia, não foi um flop o programa. Agora, a forma como gerem, a que horas vai passar ou não, isso já não me diz respeito. Para mim foi um sucesso o programa, porque eu diverti-me imenso a fazer aquilo. Mas acho que não. A minha saída da TVI teve exclusivamente que ver com o facto de me terem apresentado na altura uma proposta para um projeto longo e muito desafiante, que era fazer daytime, fazer programas diários, que é uma coisa que acontece de vez em quando na vida dos apresentadores. É um grande desafio, foi um grande projeto ir apresentar um programa da manhã ao lado da Júlia Pinheiro, ter uma professora daquelas ao meu lado e aprender a fazer televisão em daytime foi um privilégio para mim. Isso foi o que ditou, de facto, a minha saída da TVI. Mantive os mesmos amigos, tudo igual, mas estas coisas são assim. Eu estou a fazer uma coisa aqui e oferecem-me um trabalho que eu acho que me vai desafiar mais...

Foi uma opção de carreira que eu tomei e, de facto, fui para a SIC onde estive seis anos e estive ao lado da Júlia Pinheiro cinco. Foi uma grande escola de televisão, foi das melhores escolas de televisão que eu tive. Todos os dias é um programa completamente novo, é em direto, com temas complicados, o nível de profundidade é diferente, a forma como te entregas às coisas de que falas é completamente diferente, não andas ali na maluquice, e jogas ali um bocadinho: ‘agora vamos brincar um bocadinho e vamos pôr o pessoal todo a rir e vamos cantar, e agora vamos falar de coisas sérias, de crimes, de histórias tristes’. Ali és um bocadinho de tudo. És apresentador, entertainer, jornalista, és tudo, e foi de facto esse desafio, esse projeto que me apresentaram na altura, que fez com que eu seguisse para outros sítios.

"É preciso ter um arcaboiço especial para estar ali todos os dias com temáticas às vezes não tão agradáveis, mais difíceis, que mexem contigo pessoalmente"

Gostaria de voltar a fazer daytime?
Gostei muito de fazer daytime. É um registo que não é para toda a gente. Muito respeito às pessoas que fazem daytime há anos, como é o caso da Júlia [Pinheiro], do Manuel Luís Goucha, do Jorge Gabriel, da Sónia [Araújo], agora do Cláudio [Ramos] e da Maria [Botelho Moniz]. É preciso ter um arcaboiço especial para estar ali todos os dias com temáticas às vezes não tão agradáveis, mais difíceis, que mexem contigo pessoalmente. Gostei muito de fazer aquilo, aprendi muito, mas eu sou muito mais do registo para cima, bora brincar, bora curtir, e foi um registo que não foi fácil. Houve dias em que me deixava ir abaixo com alguns temas, como pais que perdiam os filhos.

Lembro-me de uma senhora que foi ao nosso programa, porque precisava de um medicamento que era caríssimo. Foi lá uma, duas, três vezes, conseguiram o medicamente e depois morreu. Parecendo que não, deixaste envolver e havia uma altura em que já estava a mexer um bocadinho com a minha forma de estar. Foi uma fase, foi muito boa, aprendi muito a fazer daytime, mas não sei se conseguiria fazer outra vez, é puxado. Muito respeito por quem faz daytime.

Na SIC, integrou o elenco de “Golpe de Sorte”. Como foi fazer parte desta série? Gostaria de voltar a fazer novelas?
Foi muito giro. Foi mais um desafio que o Daniel [Oliveira] me lançou na altura e adorei. Eu nunca tinha feito novelas, sempre tinha feito exclusivamente comédia, mas foi uma coisa que eu descobri que gostava de fazer. Para já estava um grupo maravilhoso, aquele grupo de atores e atrizes que ali estava era fora de série. A Maria João [Abreu], que eu já conhecia e que era minha amiga há muitos anos, foi a nossa mãe ali e a nossa âncora durante muito tempo. Eu gostei de fazer aquilo, porque aquele grupo de pessoas que já faziam aquilo há algum tempo me recebeu muito bem, me deixou completamente à vontade, me ensinou, e acabamos por criar ali uma pequena família que ainda existe hoje. Ainda hoje estamos juntos, de vez em quando vamos todos jantar, é um grupo muito forte. Lá está, descobri que é uma coisa que eu gosto de fazer, mas aquele grupo era especial.

Se faria novela outra vez? Não sei. A mim, o que me alimenta e o que me desafia é o projeto em si. Se eu achar que é um projeto que me vai desafiar, que eu vou gostar de fazer com aquelas pessoas, eu vou. Se eu achar que é uma coisa à qual não me vou entregar a 100%, se calhar prefiro não ir e não fazer. Tem de ser para me entregar a 100% e eu tenho de perceber que me vou divertir, que vou gostar daquilo e que vai ser uma coisa desafiante, senão mais vale estar quieto. Para fazer asneiras mais vale estar sossegado.

"Houve dias em que me deixava ir abaixo com alguns temas, como pais que perdiam os filhos [sobre a passagem pelo daytime da SIC]"

O João Paulo Rodrigues, juntamente com Pedro Alves, forma a dupla icónica Quim Roscas & Zeca Estacionâncio. Apesar de terem começado nos primórdios do Youtube e não investirem muito nesta presença no digital, têm vídeos com milhões de visualizações e espetáculos esgotados. Como explica este sucesso e mesmo o facto dos jovens de hoje em dia saberem sketches de cor?
De facto, é um fenómeno. Seria natural ao fim de 23 anos juntos que as coisas fossem esmorecendo, mas acho que eu e o Pedro nunca deixamos que isso acontecesse, mesmo fazendo outras coisas para além da dupla. Fiz um programa de daytime durante cinco anos e podia ter pensado: ‘olha, se calhar agora vou acalmar com a comédia’. Não deixámos que isso acontecesse, porque aquilo era o nosso porto-seguro. E explica-se como? Há pessoas que nos começaram a seguir na altura que agora já têm filhos e os filhos seguem-nos agora. Houve pais que mostraram aos filhos quem era o Quim Roscas e o Zeca Estacionâncio, a malta mais nova foi descobrindo... Agora na pandemia, por exemplo, tudo o que era memes nossos foi parar a todo o lado de repente, excertos dos nossos vídeos. A minha filha mais velha tem 13 anos e ela de vez em quando manda-me coisas que eu gravei há 20 anos e pergunta-me: ‘pai, isto és tu? Não és tu, pois não? Os meus amigos estão a dizer que és tu’. E eu digo: ‘sou, filha’ (risos).

Os miúdos passam uns aos outros e querem ir ver os nossos espetáculos. Nós temos miúdos de 13/14/15/16 anos que vão aos nossos espetáculos com os pais, temos a malta de 20 e 30 anos que nos foi descobrindo com o “Telerural”, que fez parte da infância deles, os nossos vídeos e DVD’s que andavam para aí a circular fizeram parte da infância dessas pessoas. Por isso, é daquelas coisas que não dá para explicar, mas nós apreciamos. É muito bom irmos ao Porto, que é a nossa cidade, e termos um Coliseu completamente esgotado, dois [Teatro] Sá da Bandeira seguidos esgotados, vimos a Lisboa e temos dois Coliseus esgotados também. É daquelas coisas que não sabemos explicar, mas essencialmente acho que nós nunca inventamos muito. Aquilo que nós somos é aquilo que a gente leva para o palco, as mesmas asneiras...

Agora se calhar estamos um bocadinho mais apurados na forma como dizemos as coisas, também já são muitos anos e já percebemos o que funciona e o que não funciona, e temos a sorte de ter um público que é fiel, um público que estava connosco desde o início e continua. Mas continua mesmo. Nós tínhamos grupos de fãs que na altura começaram a seguir-nos com 12 anos, agora estão todos na faculdade ou já terminaram os seus cursos e estão a trabalhar, que já estão a casar e a ter filhos, e que continuam a seguir-nos. Temos tido a sorte de não dececionar os nossos fãs, as pessoas que realmente compram bilhete para nos ir ver e que esgotam as salas. É uma relação de amor com toda a gente. Estamos muito gratos por isso.

Em 2013, lançaram o filme “7 Pecados Rurais” e, em 2022, o “Curral de Moinas – Os Banqueiros do Povo”, que foram dos filmes portugueses mais vistos de sempre. Alguma vez esperaram este sucesso também no cinema?
Não, foi daquelas coisas que ninguém estava à espera. No segundo, obviamente que tínhamos esperança que as pessoas aderissem. No primeiro, já tinha passado algum tempo desde que tínhamos feito as últimas coisas enquanto Quim e Zé do Curral de Moinas. O “Telerural” acho que se tornou uma cena pop da cultura portuguesa, ainda hoje as pessoas se lembram de sketches. Mais do que eu até, lembram-se das falas todas e eu já não. Nós fizemos um programa que era o “Portugal Tal & Qual”, a seguir ao “Telerural”, e havia uma personagem que era o Cândido Faísca, que era um tipo que era raptado por extraterrestres. Há um grupo de discípulos, de fiéis seguidores, do Cândido Faísca, com colares, quadros, têm tudo.

Como o Curral de Moinas ficou sempre como fazendo parte um bocadinho da cultura portuguesa, as pessoas foram ao cinema porque queriam ver como é que aquilo continuava. Elas pensaram: ‘deixa ver que nível de estupidez é que estes gajos conseguem subir’. E subimos. Não sei se é o terceiro ou o quarto filme mais visto de sempre em Portugal e foi um fenómeno mesmo. O segundo ainda foi um esforço maior, uma conquista maior, porque estávamos completamente a sair da pandemia. As pessoas não estavam a ir ao cinema e a gente já sabia que ia demorar algum tempo a encher salas de cinema. Foi o que foi, foi um sucesso tremendo.

Já estamos a pensar no terceiro, porque a ideia sempre foi fazer três. Acho que o Curral de Moinas é mesmo aquela fórmula que resulta sempre. Nós não gozamos com ninguém, não falamos de política, de religião, de nomes de ninguém. Muito dificilmente vamos ofender alguém, a não ser nós próprios, porque a ideia é mesmo nós gozarmos connosco. Nós gozamos com uma aldeia que não existe, com personagens que nós criámos, que nós inventámos, que também não existem, e brincamos connosco. De alguma forma, as pessoas acham piada àqueles vários níveis de estupidez. Tens aquele primeiro nível que é o visual, com a monocelha, as faces coradas, aquela estupidez visual que está a acontecer à tua frente, que tu ainda encontras em alguns sítios. Depois tem a comédia que é muito bem escrita. O Henrique Dias e o Frederico Pombares são, para mim, dois gurus da escrita em Portugal. Acho que parte do sucesso é, de facto, esta mistura minha e do Pedro com o Henrique e o Fred, e todos nós criámos aquela panelinha de parvoíce que as pessoas gostam. Não é identificarem-se com a nossa parvoíce, é acharem inacreditável as coisas que a gente diz ali.

Considera que o Quim Roscas e o Zeca Estacionâncio são personagens de culto?
Não sei, não serei a melhor pessoa para dizer isso. É pesado eu dizer uma coisa dessas, é de uma grande responsabilidade. Acho que o “Telerural”, o Curral de Moinas e tudo o que tem que ver com aquilo se tornou em algo que é de culto mesmo. Se fores à Wikipédia tens lá as personagens todas, quem são as personagens, as frases deles, e alguém fez aquilo de forma espontânea. Mas sim, o “Telerural” tornou-se uma coisa de culto, não há dúvida nenhuma. Quanto ao Quim Roscas e o Zeca Estacionâncio, acho que não sou eu quem devia dizer isso, deviam ser as pessoas, mas acho que fazemos parte da vida de muita gente. Já estamos na vida de muita gente há 23 anos. Houve pessoas que se casaram, tiveram filhos, separaram-se, agora são os filhos que veem... se calhar, se calhar. E fico muito feliz e muito lisonjeado que as pessoas continuem a vir ao culto (risos).

E um regresso do Curral de Moinas à televisão?
Eu confesso que gostava de voltar a fazer o “Telerural” em televisão, com um upgradezinho ou então exatamente como era, porque aquilo é que era genuíno. Nós tivemos a série que resultou do filme, se bem que o filme tinha 100 minutos e a série tem mais 150 minutos, portanto são 250 minutos de pura estupidez e de descontração ao natural com a história muito mais bem contada. Quem não viu aquela série devia ver, tem lá coisas deliciosas de serem vistas. Agora, um regresso do “Telerural” à televisão não sei. Eu alinhava nisso.

"O Curral de Moinas é mesmo aquela fórmula que resulta sempre. Nós não gozamos com ninguém, não falamos de política, de religião, de nomes de ninguém."

Não está previsto, muito mais facilmente nós faríamos o “Telerural” para ser visto numa plataforma qualquer. Isso está nos nossos planos, já está a ser falado há muito tempo e é uma coisa que gostávamos muito de fazer. Seria uma coisa muito mais controlada por nós, a nível de linguagem estaríamos muito mais livres do que num canal aberto em prime time ["horário nobre" em português]. Num Youtube ou assim, quem quer ver vai ver e quem não quer não vai ver. É uma coisa mais livre e ia permitir que nos esticássemos um bocadinho mais nas notícias. É uma coisa que está aqui no nosso pensamento há algum tempo. Para já temos mais um filme para fazer, quem sabe mais uma série. O filme é uma coisa que vai acontecer, porque quando nós negociámos ficou logo decidido que seriam três filmes. Eu diria que será para 2025/2026, também para as pessoas não enjoarem. Os fãs do Curral de Moinas vão ter novidades em breve. E talvez uma série, isso agora... Também não posso contar tudo (risos).

“Um dia, vamos acabar juntos, a fazer comédia no mesmo canal”, disse Pedro Alves numa entrevista à MAGG em 2021. É um desejo que também partilha?
Sim. Tudo o que eu faço na área do entretenimento hoje em dia, seja como apresentador, ator ou músico, começou de facto em parceria com o Pedro. Foi a trabalhar juntos que nós nos demos a conhecer e que nos tornámos conhecidos, foi por causa daquilo que começámos a ser convidados para fazer rádio, televisão, cinema, vem tudo dali. A origem sou eu e o Pedro, por isso fazia todo o sentido e era muito giro que nós voltássemos a estar juntos num canal de televisão a fazer alguma coisa em comédia. Conhecemo-nos muito bem, somos dois irmãos, apesar do meu mau feitio e do mau feitio dele (risos). Acho que faria todo o sentido e acho que nós merecemos voltar a estar juntos no mesmo canal para fazer a javardice que as pessoas já conhecem.

"Se somos consensuais é por causa disto: brincamos com tudo, mas não gozamos com nada. Longe de mim zangar o meu público"

Considera-se uma pessoa consensual para o público, apesar do tipo de humor que faz com o Pedro Alves?
Acho que sim. Há coisas sobre as quais eu não falo: política, religião, futebol. Sempre tive esse cuidado. O Pedro, no início, nos espetáculos, falava muito de futebol, às vezes falava de região e um dia eu disse-lhe: ‘eu não falo de tudo o que seja uma destas coisas que possa dividir logo as pessoas e a plateia’. Tenho as minhas convicções religiosas, filosóficas e políticas, tenho, mas são minhas. Sou consensual, se calhar porque não provoco aquilo que possa gerar divisão na opinião das pessoas nos veem. Percebi isso quando comecei a fazer daytime e lia as opiniões das pessoas. Vais sempre acabar por criar alguma eletricidade estática nesta ou naquela pessoa, mas faz parte nesta profissão. Quem trabalha para o público e acha que aqui ou acolá não vai fazer ou dizer qualquer coisa que vai desagradar alguém, é melhor não vir para este trabalho. Acho que eu e o Pedro fomo-nos mantendo consensuais, porque nós não fazemos questão de dar a nossa opinião sobre isto ou aquilo. Se somos consensuais é por causa disto: brincamos com tudo, mas não gozamos com nada. Longe de mim zangar o meu público.

O Pedro Alves está atualmente na novela “Festa é Festa”, na TVI, na qual é um dos protagonistas. Como está a ser ver o amigo neste papel?
Para já, foi giro ver a forma como ele se desenrascou. O Pedro nunca se viu numa novela, se lhe perguntasses há cinco ou 10 anos, se ele se via a fazer uma novela, ela dizia: ‘achas? Nunca na vida’. Por isso foi giro ver a forma como ele arranjou as ideias dele para se lançar numa área que era completamente nova para ele e a forma como ele se tornou confortável no desconforto. Aquilo é trabalhoso, tens de decorar texto todos os dias, tens de ser uma pessoa regrada, focada. Vê-lo desenrascar-se foi giro, vê-lo a sair da sua zona de conforto.

Tenho orgulho nisso, em vê-lo a ter sucesso e a mostrar que ele consegue ter sucesso por ele e consegue abrilhantar qualquer elenco. De alguma forma, o sucesso dele acaba por ser o sucesso da nossa dupla. Isso foi bom. Tenho muito orgulho naquilo que ele conseguiu. Ele fez anos há uns dias e juntou alguns amigos que fez aqui em Lisboa por causa da novela, e é giro ver como eles, pessoas que já fazem isto há muitos anos, olham para o Pedro com carinho, respeito e admiração. Gosto de sentir isso, gosto de o ver no novo ambiente dele e de ver que ele é valorizado enquanto ator. Enche-me de orgulho.

Além da televisão, do humor e da música, também tem partilhado uma nova paixão: a aviação.
A aviação sempre foi uma coisa que eu gostei, sempre foi daquelas coisas que tu não explicas. Desde que tenho memória que eu sou completamente apaixonado por aviões. Se calhar veio de outra vida qualquer. Os aviões sempre foram a minha paixão. Um dia achei que devia experimentar. Sempre fugi muito disso, porque quando estava no secundário pensei: ‘quero ir para a Força Aérea, quero ser piloto de caças’. Era o que queria mesmo fazer, mas tinha pavor a matemática. Fui mal guiado nessa área, porque hoje adoro. Não tenho dúvidas nenhumas que se não fosse o medo que eu tinha da matemática, eu tinha seguido uma carreira de piloto aviador. Era a minha paixão, mas ficou em standby estes anos todos. Houve um dia em que eu pensei: ‘não faleço sem fazer aquilo que eu quero fazer e sem fazer as coisas que eu gosto de fazer’. Esta é uma delas. É muito mais que um hobby. Eu li algures num dia naqueles memes filosóficos que andam para aí, que para além dos teus trabalhos, da tua profissão, tu devias ter algo que tu fizesses enquanto hobby, mas que também fosse remunerado. A aviação é essa coisa para mim. Eu faço porque adoro fazer aquilo, vejo como um hobby porque não há esforço nenhum a fazer aquilo, mas um dia pode ser também mais uma profissão.

E podem pensar: ‘mas não são coisas demais? És ator, humorista, música, apresentador de televisão e agora és piloto de aviões?’. Sou e ainda sou pai, ex-marido, sou tudo e um par de botas. Eu sou aquele gajo que há pelo menos 15 anos que digo que não admito que me metam numa gaveta. É possível fazer várias coisas e fazer bem. Acho que fui mostrando às pessoas que é possível não estares fechado numa gaveta e que podes fazer várias coisas. Se há várias coisas na minha vida que me fazem feliz e sem as quais não consigo viver, como cantar, voar e fazer comédia, se me falta uma dessas coisas não tenho a minha equação completa. Para que eu seja feliz, tenho de fazer essas coisas todas. Obviamente, há alturas em que não posso dar tanta atenção a um, mas isso é deixar fluir naturalmente.

Atualmente vive entre Lisboa e Leiria, dado que as suas filhas, Rita e Sofia, moram nesta cidade com a mãe. Como é viver neste constante “cá e lá”, sendo que ainda tem espetáculos pelo País?
Não é fácil. As minhas filhas são a parte mais importante da minha vida, aquelas duas miúdas são as duas metades do meu coração. Elas estão a viver com a mãe em Leiria, eu arrendei uma casa em Leiria para estar com elas e faço-o sem esforço. Não é fácil ter de andar entre Lisboa e Leiria duas a três vezes por semana, ir para espetáculos, ter um programa ali e um concerto acolá, não é fácil. Houve uma altura em que eu tive de aceitar. Elas sabem que o pai faz estas coisas todas e aceitam. As minhas filhas moram em Leiria, porque a minha ex-mulher é de Leiria e achamos que era um sítio maravilhoso para elas cresceram, porque é um sítio super bonito e com uma qualidade de vida excelente.

Ali consigo estar se calhar mais tempo com elas. Estou ali e estou mesmo com elas, não estou a fazer outras coisas. Se calhar até aproveito muito mais o tempo que estou com elas do que se vivesse numa vida de ir buscá-las à escola, elas fazerem as coisinhas delas, depois está na hora de ir para a cama, no dia seguinte vão para a escola e quase não usufruímos da companhia uns dos outros. Vou trabalhar e volto, é uma coisa à qual nós já estamos todos habituados. Tenho a sorte de a mãe das minhas filhas ser uma miúda espetacular também e, apesar de já não estarmos juntos, somos muito amigos e fazemos coisas juntos, porque somos os dois pais daquelas duas crianças e queremos que elas cresçam com os pais a fazerem coisas juntos. Resumindo e concluindo, não é fácil, mas é a minha vida. São pormenores da minha vida que eu tenho de gerir e aceitar.

E como está o seu coração? Solteiro e bom rapaz?
Estou solteiraço (risos). Estou sossegadinho. Se acontecer, se aparecer alguém, aparece, não ando ativamente à procura. Às vezes nos espetáculos o Pedro diz que eu estou solteiro e eu digo que estou a fazer castings. Não estou, é brincadeira como é óbvio, mas estou entretido com as várias coisas que faço. O meu tempo, aquele em que não estou a trabalhar, é para as minha filhas e amigos. Se gostava de ter alguém? Claro, obviamente que toda a gente gosta e precisa de ter alguém, porque envelhecer sozinho também é um bocado chato. Não estou à procura, mas se acontecer que seja aquilo.