Os três restantes episódios do documentário da Netflix "Harry e Meghan" já estão disponíveis. E, no quarto, é possível relembrar como, depois do conto de fadas que foi o casamento, em maio de 2018, a popularidade do casal começou a ser vista como uma ameaça.

Depois da primeira digressão à Austrália, em outubro de 2018, já Meghan estava grávida, os duques de Sussex contam como os títulos na imprensa começaram a mudar. A popularidade do casal, que ultrapassou a de Kate e William e do então príncipe Carlos, começou, de acordo com os duques, a ser vista como um problema. "O palácio sentiu-se muito ameaçado com isso", diz Lucy Fraser, amiga de Meghan.

"O problema é que quando alguém que entra para a família, e deve ter um papel secundário, começa a roubar as luzes da ribalta ou a fazer melhor o trabalho do que a pessoa que nasceu para o fazer, isso incomoda as pessoas, cria um desequilíbrio. Porque somos levados a acreditar que as nossas organizações solidárias só conseguirão ter sucesso, que a nossa reputação só pode crescer é se aparecermos na primeira página dos jornais", salienta o príncipe Harry.

Harry compara Meghan à princesa Diana. "Tem a mesma compaixão, a mesma empatia, a mesma confiança"
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Outro momento semelhante, em novembro de 2019, o Festival of Remembrance, no Royal Albert Hall. No dia seguinte, Meghan estava em todas as capas e destaques da imprensa, ofuscando Kate Middleton e a própria rainha.

Meghan e Harry no Festival of Remembrance, em novembro de 2019
Meghan e Harry no Festival of Remembrance, em novembro de 2019

"De repente começaram a aparecer artigos nos tabloides, a criticar Meghan por tudo e mais alguma coisa", relembra James Holt, diretor executivo da Fundação Archwell e antigo porta-voz do palácio de Buckingham. Meghan recorda que, durante um passeio em que contactavam com o público, uma mulher lhe disse: "o que está a fazer com o seu pai não está certo". "Aquilo abalou-me imenso", recorda a duquesa. "O que lhes estavam a fazer e o efeito que estava a ter nela... já chega de dor, do sofrimento!", lamenta Harry, relembrando que a mãe, a princesa Diana, chorava dentro do carro antes de aparições públicas.

A saúde mental da duquesa de Sussex começou a ressentir-se, como relembram as amigas, Harry e também a mãe. "Eu pensei: 'isto vai parar se eu não estiver aqui'. E essa é a parte mais assustadora. Foi um pensamento muito claro", recorda a duquesa de Sussex.

Em lágrimas, a mãe de Meghan, Doria Ragland, relembra o desespero que sentiu quando a filha lhe disse que tinha pensamentos suicidas. "Lembro-me de ela me dizer isso. Que pensou em acabar com a própria vida. E isso partiu-me o coração porque eu sabia que a situação era grave. Mas estar constantemente a ser atacada por estes abutres, a devorar-lhe o espírito, ao ponto de ela chegar a pensar que não queria estar aqui... isso... não é fácil para uma mãe ouvir isso. E eu não podia protegê-la, o Harry não a podia proteger", diz a mãe da duquesa de Sussex.

Doria ragland, mãe de meghan markle
Doria Ragland, mãe de Meghan Markle créditos: Netflix

Harry admite também que não prestou o devido auxílio à mulher. "Eu estava destroçado. Estava a sofrer, ela também, mas eu nunca pensei que chegasse àquele ponto. Senti-me zangado e envergonhado. Não lidei com aquilo da melhor forma. Lidei com aquilo como o Harry institucional e não como marido", relembra o príncipe, reconhecendo que o seu "papel real" sobrepôs-se ao de marido. "Odeio-me por isso".

Tal como já havia dito na entrevista a Oprah Winfrey, Meghan reforça que queria pedir ajuda, mas que isso não lhe foi permitido. A saúde mental da duquesa de Sussex marcou um ponto de rutura também entre os duques de Sussex e os príncipes de Gales. Os gabinetes de comunicação dos casais foram separados, dando início a um afastamento.

"A quantidade de abusos que houve, especialmente contra ti [Meghan], foi incrível", diz Harry

Harry relembra que a avó lhe ofereceu a Frogmore Cottage para viverem longe de Londres. e receberam o filho, Archie, em maio de 2019.  E também esse momento esteve no epicentro das atenções, porque o casal escolheu não fazer uma apresentação pública tradicional, como os anteriores bebés da família real britânica.

"Eu estava muito nervosa com o parto porque era mais velha e não sabia se ia precisar de uma cesariana. Mas já tinha uma boa e longa relação com a minha médica. E foi a ela a quem confiei a minha gravidez". Meghan recorda que a sua médica trabalhava num hospital diferente daquele onde nascem os bebés da família real, o St. Mary, no centro de Londres. A duquesa de Sussex pediu que se mudasse a sessão fotográfica, o que acabou por acontecer, três dias depois do nascimento de Archie, no palácio de Windsor.

"A quantidade de abusos que houve, especialmente contra ti [Meghan], mas contra os dois porque não quisemos servir o nosso filho numa bandeja de prata, foi incrível", relembra Harry.

Em setembro de 2019, os primeiros sinais de que Meghan estaria a sofrer com a pressão mediática ficaram mais do que evidentes no documentário da ITV, feito pelo jornalista Tom Bradby, durante a visita oficial do casal à África do Sul. "Qualquer mulher, especialmente quando está grávida, sente-se muito vulnerável. Se acrescentarmos tudo isto ao facto de ter sido mãe há pouco tempo, ou ser recém-casada... Sim, bem, obrigada por ter perguntado, porque não houve muita gente a fazê-lo. É duro lidar com o que se passa nos bastidores", disse Meghan, admitindo que estava a ser "difícil" lidar com a pressão.

Após essa entrevista, tudo mudou. Para o público, que empatizou com a luta de Meghan e aos olhos da família real britânica. "Quando pensamos que vamos ter o apoio daqueles que nos são mais próximos, acontece o contrário", diz Harry. E foi nesse momento que, relembra Meghan, começaram a haver "conversas difíceis" sobre o que precisavam para continuarem a exercer as suas funções.