Atenção: este texto contém spoilers sobre o documentário da Netflix "Harry e Meghan".
"Os membros da família real não quiseram comentar sobre o conteúdo desta série". É assim que começa o primeiro episódio do aguardado documentário protagonizado pelos duques de Sussex. Os primeiros três episódios já estão disponíveis, e haverá mais três, cujo lançamento está agendado para 15 de dezembro.
Harry e Meghan começaram a gravar testemunhos com os próprios telemóveis em março de 2020, no primeiro dia após deixarem os cargos de membros séniores da família real britânica. O documentário foi feito ao longo de dois anos e termina com entrevistas realizadas em agosto de 2022, semanas antes da morte da rainha Isabel II.
O assédio por parte dos paparazzi e dos meios de comunicação social ocupa grande parte do primeiro episódio, bem como as referências à princesa Diana. Pelo meio, o casal conta como se conheceu. E a versão da história que apresentam agora diverge da oficial, revelada em 2017, aquando do anúncio do noivado. Tal como muitos casais do século XXI, Harry e Meghan conheceram-se através das redes sociais, em julho de 2016. A então atriz da série "Suits" estava solteira "há dois meses".
"A Meghan e eu conhecemo-nos no Instagram. Eu estava a ver o meu feed e uma amiga minha tinha publicado um vídeo delas as duas, tipo um snapchat com orelhas de cão. E eu pensei 'quem é aquela?!", conta o príncipe.
A amiga em comum do casal mandou uma mensagem a Meghan, a dizer que um amigo tinha perguntado por ela e indagando se esta o queria conhecer. "Quem é o prince Haz?", recorda a duquesa de Sussex. No documentário, Meghan Markle diz que foi ver o feed de Instagram de Harry para fazer uma primeira avaliação. O primeiro encontro aconteceu em Londres, durante uma visita da atriz para assistir ao torneio de ténis de Wimbledon. Harry chegou atrasado e estiveram juntos apenas uma hora. "Parecíamos duas crianças juntos", recorda Meghan. No dia seguinte, voltaram a encontrar-se, desta vez para jantar.
Depois de terem estado juntos apenas duas vezes, Harry convidou Meghan para o acompanhar numa viagem ao Botsuana. Passaram cinco dias juntos numa tenda, "sem casa de banho nem rede de telemóvel", como recorda Meghan, embora o documentário mostre dezenas de fotos do arquivo pessoal do casal, captadas em vários momentos do início da relação.
Em outubro de 2016, o namoro torna-se público. "O secretário de comunicação do irmão, Jason Knauf, ligou-lhe para o informar de que um tabloide tinha a notícia. Ele disse 'se vai sair amanhã, vamos divertir-nos hoje!", recorda Meghan. A última noite de 'liberdade' do casal aconteceu numa festa de Halloween, onde também estiveram a princesa Eugenie, prima de Harry, e o atual marido, Jack Brooksbank. "Fui ingénuo e não sabia no que me tinha metido. Mas, em outubro, de 2016, tudo mudou de repente", recorda Harry.
"A minha mãe tomava quase todas as decisões, se não todas, com o coração", diz Harry
"Por fazer parte desta família, é o meu dever revelar a exploração e os subornos que acontecem na nossa comunicação social", diz Harry nos primeiros momentos do primeiro episódio. A presença da princesa Diana é uma constante ao longo dos quase 60 minutos, e as referências à infância de Harry também.
"Acho que, para muita gente na minha família, especialmente os homens, pode haver a tentação de casar com alguém que encaixe no molde, por oposição a alguém com quem estamos destinados a estar. É a diferença entre tomar decisões com a cabeça e com o coração. A minha mãe tomava quase todas as decisões, se não todas, com o coração. E eu saio muito a ela", diz o duque de Sussex.
Apesar de reconhecer que, na sua infância, "não faltou riso, felicidade e aventura", Harry diz que acha que bloqueou as primeiras memórias de infância da mãe. "A maior parte das minhas memórias são de estar rodeado de paparazzi", conta o príncipe. "Sempre houve pressão pública, com a sua dose de drama, stress e lágrimas. E testemunhar essas lágrimas. Via-as sempre na cara da minha mãe", recorda.
Um dos momentos mais desconfortáveis acontece precisamente quando são exibidas imagens de arquivo de Diana a ser perseguida por paparazzi, juntamente com os filhos, durante umas férias na neve em 1991, e a confrontar um dos fotógrafos. "A minha mãe fez um excelente trabalho a tentar proteger-nos. Ela tomava a iniciativa de confrontar aquelas pessoas", recorda o príncipe.
A pressão mediática de fazer parte da família real, conta Harry, teve um grande peso nas suas relações amorosas. "Todas as relações que tive, numa questão de semanas ou meses, apareciam escarrapachadas nos jornais. A família dessa pessoa era assediada e as suas vidas viradas do avesso. À terceira ou quarta namorada pensei 'será que quero isto?'", questiona Harry, comparando depois Meghan à mãe. "Tanto do que a Meghan é, a personalidade dela, é tão parecido com a minha mãe. Ela tem a mesma compaixão, a mesma empatia, a mesma confiança. Ela é muito afetuosa".
A morte da princesa Diana, em 1997, teve ainda maior impacto na forma como o príncipe se relaciona com os meios de comunicação social. "O país passou a ver-me a mim e ao William como filhos deles. A expectativa que as pessoas tinham de me ver a mim e ao William foi muito difícil para nós", conta.