Ainda que seja uma das influenciadoras digitais mais seguida, e tenha sido a primeira grande blogger de moda no mundo com um impacto global, Chiara Ferragni aproveitou o facto de ser a apresentadora das galas do festival Sanremo, o equivalente italiano ao Festival da Canção, para protestar contra os estereótipos de género. E mostrou que a sua forma de estar, as suas prioridades e posições sobre temas da sociedade mudaram muito com o passar dos anos. As mensagens que quis passar vieram estampadas nos vestidos que usou, mas fizeram-se sentir com ainda mais pujança aquando do discurso que proferiu na primeira gala desta edição.

O vestido brilhante em que se apresentou, com assinatura da Dior, assemelhava-se a um corpo nu, replicando a silhueta feminina e só isso já passava uma mensagem – que as mulheres têm o direito de mostrá-lo tanto quanto os homens, segundo uma publicação de Instagram. E frisou ainda que o corpo das mulheres só a estas pertence, sendo um direito inviolável.

Quanto ao discurso, Chiara Ferragni leu-o e ficou patente que o escreveu com um recetor em mente: a criança que foi. Todo o monólogo transpirava a sensação de que era uma carta à pequena Chiara, que percorreu um longo caminho pessoal e profissional, até ali. "Gostava de te mostrar como é a minha vida agora", começou por dizer a empresária ao seu eu do passado. 

"Era assolada por um pensamento a toda a hora: o de não me sentir suficiente. Quando pensava nisto, gostava de poder dar-te um grande abraço. Quando achava algo negativo em mim, pensava-o sobre ti também, e tu não mereces isso. Tu és suficiente, sempre foste", continuou Chiara Ferragni. Depois, referindo-se à vida da "pequena Chiara" e a todos os momentos (bons e maus) que por esta passaram, deixou-lhe um conselho: "Aproveita esses momentos e vive-os com todo o teu ser". E ainda a incentivou a fazer tudo aquilo de que tiver medo."Ninguém faz fila para uma montanha-russa plana", explicou, apelando para que não nos deixemos ser enjaulados pelo medo e pelo preconceito.

De seguida, começou a focar-se na família e em tudo que construiu. Mencionou o marido, Fedez, os filhos e todos os problemas que o mundo da maternidade acarretou, lançando farpas à pressão (misógina) que a sociedade impõe às mulheres para serem bem-sucedidas nessa missão. "Ser mãe é fácil? De todo, é o trabalho mais cansativo de todos e os únicos que te podem julgar são os teus filhos", explica. "Com que frequência é que a sociedade faz com que as mulheres se sintam culpadas por trabalhar longe dos filhos? E com que frequência o mesmo tratamento é aplicado aos homens? Nunca", continuou.

"Quero dar-te um conselho: comemora sempre as tuas vitórias, as grandes e as pequenas. Nunca te menosprezes à frente de ninguém. Nós, mulheres, estamos habituadas a diminuir-nos", frisou a empresária, que aproveitou para lançar uma provocação a Ricardo Pozzoli, o seu ex-companheiro, a quem foi atribuído o mérito pelo seu sucesso. "Penso no homem que ficou com os louros de me inventar e no facto de o ter deixado fazer isso durante anos, até perceber que isso estava errado, porque o mérito é teu", continuou, conversando com o seu eu do passado.

E, depois de refletir sobre o corpo feminino, dizendo que quem se esconde "é freira" e quem se mostra "é puta", a empresária encerrou o discurso ao lembrar que o machismo está presente nos comentários que todas as mulheres recebem diariamente. "Tu vais ler comentários de um sexismo já normalizado: enfrenta-os e não tenhas medo. Ser mulher não é um limite".