O quinto episódio do documentário "Harry e Meghan" contém revelações impressionantes sobre o processo que conduziu à saída dos duques de Sussex da família real britânica. E a versão apresentada pelo casal não coincide com a narrativa oficial que, ao longo de dois anos, tem sido veiculada nos meios de comunicação social.
Em janeiro de 2020, Harry conta que falou com o pai, propondo uma mudança para o Canadá (onde tinham passado as últimas semanas de 2019). "Queríamos muito continuar a fazer o nosso trabalho na Commonwealth e a apoiar a rainha", salienta o duque de Sussex. O casal enfatiza que, antes de as relações se deteriorarem, propuseram, por várias vezes, entre 2018 e 2020, afastarem-se do Reino Unido mas não das suas funções, além de se sustentarem, não estando dependentes do dinheiro dos contribuintes britânicos. Nova Zelândia e África do Sul já tinham estado na mira do casal, em 2018.
"O palácio aprovou a ideia de nos mudarmos para a África do Sul. O gabinete do meu pai sabia, o do meu irmão também e o da minha avó também. Alguém o passou para o 'The Times'. Acabámos por desistir desse plano porque passou a ser um debate público", relembra o príncipe. Depois, quando a hipótese da mudança para o Canadá foi apresentada, o pai pediu-lhe para submeter uma proposta por escrito. Os emails seguiram no início de janeiro de 2020. "Num deles, disse que estávamos dispostos a renunciar aos títulos de Sussex, se fosse preciso", relembra Harry.
Harry conta que, antes de ir para o Canadá, nas férias de Natal de 2019, agendou uma reunião com a rainha. Mas o encontro nunca chegou a acontecer, apesar de Isabel II ter convidado o casal para tomar chá e passar a noite em Sandringham. Harry e Meghan recordam que, assim que aterraram em Londres, receberam uma mensagem do palácio a dizer que não tinham autorização para estar com a rainha. "Foi o oposto do que ela me tinha dito". Harry ainda confrontou a avó por telefone, incrédulo com esta mudança de planos.
"Nessa tarde, descobrimos que a notícia ia ser publicada. Os tabloides sabiam desta proposta", relembra o filho mais novo do rei Carlos III. Meghan relembra que foi o rei que pediu a Harry para colocar a proposta por escrito. "Cinco dias depois, estava na capa de um jornal."
Harry afirma que foi "a instituição" que passou as informações aos media, embora nunca refira diretamente o nome do pai. "A parte chave dessa notícia que me fez ter a certeza de que a carta que enviei ao meu pai tinha sido passada à imprensa foi a parte da renúncia aos títulos", revela.
Estas notícias espoletaram o irreversível processo de saída dos duques de Sussex. Tudo começou com um comunicado do casal, publicado no Instagram a 8 de janeiro de 2020, em que anunciavam um "processo de transição" para funções mais reduzidas enquanto membros da família real.
Depois, foi convocada uma reunião em Sandringham com Harry, para a qual Meghan não foi convidada. "Eles planearam as coisas para que tu não estivesses lá", afirma o príncipe. E é nessa reunião, a 13 de janeiro de 2020, onde estavam a rainha, William e o atual rei Carlos III, que tudo se desmoronou.
"Eu apresentei a mesma proposta que já tinhamos feito mas, quando cheguei lá, deram-me cinco opções, entre 'continuam como estão sem mudanças' e 'saída completa'. Eu escolhei a terceira opção, 'metade dentro, metade fora'. Ter os nossos trabalhos, mas trabalhar para apoiar a rainha. Mas tornou-se muito claro que isso nem sequer estava em cima da mesa", relembra o duque de Sussex.
Harry relembra ainda como foi confrontado por William. "Foi assustador ter o meu irmão aos gritos comigo, o meu pai a dizer mentiras e a minha avó ali, sentada, sem dizer nada, a processar tudo. Mas temos de perceber que, da perspetiva da família, em especial da dela, há certas formas de fazer as coisas e que a principal responsabilidade dela é a instituição", contemporiza.
Mesmo antes de abandonarem o Reino Unido e a família real britânica, a relação entre os irmãos já tinha sofrido danos irreversíveis. "A parte mais triste disto tudo é a divisão que criou entre mim e o meu irmão, ao ponto de ele estar do lado da instituição. E eu percebo essa parte. É a herança dele", afirma Harry.