Depois de ter estado apenas nove meses no grupo Cofina, Sandra Felgueiras rumou a Queluz de Baixo, onde é, desde setembro, um dos rostos da informação do canal. A jornalista de 45 anos foi entrevistada por Manuel Luís Goucha, no "Conta-me" desde sábado, 8 de outubro, e não se furtou a falar de um dos momentos mais delicados da sua vida: o processo judicial no qual a mãe, Fátima Felgueiras, esteve envolvida.
Em 2011, a antiga autarca de Felgueiras foi absolvida de todos os crimes de que era acusada no processo que ficou conhecido como "saco azul", absolvição essa confirmada em 2012 pelo Tribunal da Relação. A ex-autarca tinha sido acusada de 28 crimes, entre os quais corrupção, abuso de poder e peculato.
Sobre o lastro que essa fase ainda deixa na sua vida, e os comentários que ainda provoca, Sandra Felgueiras afirma que reage "com muita naturalidade" mas também "com muita mágoa". "A minha mãe foi das pessoas mais injustiçadas que Portugal conheceu. A minha mãe foi absolvida e se perguntares às pessoas na rua eu dir-te-ei que há uma grande percentagem de pessoas que não sabe nem se lembra que isto aconteceu ou, se sabe, dirá 'ai foi absolvida porque não se fez prova de', o que é uma enorme injustiça", lamenta a jornalista.
Mãe de Sara, de 9 anos, Sandra Felgueiras revela que esta pesada herança já teve consequências na vida da criança. "Já lhe perguntaram na escola 'a tua avó roubou?'. E nós respondemos 'não, nunca ninguém roubou'". A pivô da TVI confessa sentir-se "triste pelos pais das crianças que lhes disseram isto". "Triste por haver gente tão mesquinha, que tenha tido a veleidade de contar a um filho algo que lhe permitiu, sendo criança, perguntar isso a outra criança. Eu como mãe jamais o teria feito. Tive de explicar à minha filha que isso não aconteceu e que nunca se deixasse melindrar por nada que lhe pudessem dizer, nem sobre a avó nem sobre a mãe."
Sandra Felgueiras conta ainda que não conseguiu ainda resolver a "mágoa" do processo judicial que envolveu a mãe e que durou quase uma década. "Eu estive lá no dia em que estourou a notícia, no dia em que a levei para o Brasil, no dia em que a trouxe do Brasil. Eu sei tudo o que aconteceu, da génese ao desfecho. Essa mágoa vai perdurar em mim, por terem roubado à minha mãe a oportunidade de ser a pessoa maravilhosa que ela é, não que ela não seja, mas de dar ao país aquilo que ela podia ter dado", explica, acrescentando: "acho que a mataram em vida".
Recorde-se que, em 2003, e por ter nacionalidade brasileira, Fátima Felgueiras viajou para esse país para não ser sujeita à medida de coação preventiva decretada pelo Tribunal da Relação de Guimarães, no âmbito do processo do "saco azul". Regressou em 2005, após a revogação da medida de coação de prisão preventiva.