Nem sempre temos oportunidade para ter um sommelier ao nosso lado que escolha os vinhos que vão bem com o menu de um restaurante de luxo ou um jantar de quatro momentos harmonizado com vinhos da Calçada Wines. Em alternativa, podemos munir-nos de conhecimento com um enólogo que sabe bem que vinhos devemos beber e especialmente como os beber nesta época de calor.
Um dos maiores desafios do verão é manter o vinho fresco na mesa quando fazemos uma sardinhada lá fora e ideias podem haver muitas — como colocar o vinho no congelador ou mesmo servi-lo com uns cubos de gelo —, mas nem sempre são as mais corretas. Fomos então à procura de saber os certos e os errados no que diz respeito ao vinho.
O enólogo Jorge Sousa Pinto, das Quintas de Melgaço — da qual saem vinhos como o QM Vinhas Velhas 2020 e o vinho Alvarinho QM 2020 (o único Alvarinho a conquistar a medalha de duplo ouro no SAKURA Japan Women’s Wine Awards) — explicou-nos tudo sobre como consumir vinhos no verão, seja um vinho verde Alvarinho, seja um tinto de outra casta.
Ponto por ponto, revelamos como não comprometer a qualidade do vinho e, ao mesmo tempo, garantir que está sempre fresco.
Um tinto no verão. Sim ou não?
É raro ver um copo de vinho tinto servido numa esplanada numa tarde em que os termómetros pediam uma piscina mesmo à mão. Mas mesmo no verão é possível beber um copo de vinho tinto de modo a não deixar as garrafas ganharem pó até ao inverno. Basta um truque. "Refrigerar um pouco os vinhos e utilizar uma 'manga' térmica, durante o seu consumo. Desta forma, atenuamos o efeito 'calor' transmitido pelo álcool do vinho, pela menor temperatura do serviço", explica Jorge Sousa Pinto.
O que vai bem com cada prato de verão
O "Santo António já se acabou" e o São Pedro também, mas ainda há muita sardinha para tirar da brasa e colocar em cima de uma fatia de pão. A salada de tomate e pimentos fica de um lado, o copo de vinho do outro. Quanto ao tipo de vinho, pouco importa. "Pensando em comer sardinhas assadas, normalmente, escolhemos um local descontraído, se possível uma esplanada, e um grupo de amigos. O nosso foco não está provavelmente na escolha criteriosa do vinho, nem no serviço de copos, pois a escolha do local, terá sido feita mais por base na qualidade das sardinhas", diz o enólogo.
Ainda assim, há alguns vinhos que vão bem com o peixe do verão. "Nada melhor do que um verde clássico, o vinho Verde Leira do Canhoto de álcool moderado (10,5%), na sua total paleta de cores, branco, rosado e tinto", sugere Jorge Sousa Pinto.
Uma vez que o verão também é dado a petiscos — e deixamos de lado os caracóis que só vão bem como uma cerveja —, quando se trata de uma tábua de queijos ou de enchidos, a história é outra (e até se dá a atrevimentos). "A entrada de carnes no menu permite que sejamos ou pouco mais atrevidos na escolha. Podemos continuar na região dos vinhos Verdes e escolher um vinho de uma casta mais fresca e com um teor alcoólico mais elevado, como o Alvarinho das Quintas de Melgaço", continua. Outros petiscos mais ligeiros também vão bem com um copo de vinho, ainda que muitos achem o contrário.
"Existe algum preconceito em consumir vinho em espaços mais ou menos públicos fora da refeição principal", diz o enólogo, que afirma que até uns tremoços vão bem com vinho, sendo que deve apostar num branco ou num blend de duas castas. Para que não lhe falte nada, Jorge Sousa Pinto deixa como exemplos a casta Alvarinho e a casta Trajadura, presentes no vinho Torre de Menagem da Quintas de Melgaço.
O vinho altera as propriedades quando colocado no congelador?
O cantor Toy, como muitos portugueses, "põe a cerveja no congelador", mas a dúvida que se coloca é se podemos fazer o mesmo com o vinho sem alterar as propriedades do mesmo. "Não coloca em causa a qualidade do vinho quando este é sujeito a um abaixamento rápido da sua temperatura. Seria bem mais grave servir um branco a uma temperatura elevada", nota o enólogo das Quintas de Melgaço.
Uma forma de evitar esta solução rápida que arranjamos quando queremos ter um vinho fresco na hora de servir seria ter sempre vinho no frigorifico, só que o espaço disponível nem sempre permite fazê-lo. E ainda bem. "Para os vinhos de consumo diário, o ideal será comprar à medida das nossas necessidades, desta forma temos acesso a vinhos mais jovens e, dentro do mesmo ano, aos últimos enchimentos", refere Jorge Sousa Pinto.
Colocar gelo no vinho: jamais, uma vez sem exemplo ou justificável?
É uma dúvida perigosa e particularmente sensível para os mais entendidos em vinho. Mas será que é um ato assim tão pecaminoso? "Vamos pensar, porquê colocar gelo no vinho? A colocação de gelo no vinho poderá ter como objetivo atingir dois propósitos: baixar a temperatura do vinho e/ou diminuir o seu teor alcoólico se esperarmos pela fusão do cubo de gelo", refere o enólogo.
Isto significa que, na prática, não há uma razão válida para adicionar umas pedras de gelo no vinho. "O vinho não foi pensado para tal", continua Jorge Sousa Pinto, uma vez que a temperatura é fácil de solucionar com uma balde de gelo e manga térmica e o teor de álcool com a escolha prévia de um vinho de menor percentagem alcoólica.
Dicas para manter o vinho fresco à mesa
Já vimos que adicionar cubos de gelo ao vinho não é boa ideia, mas com o calor durante as almoçaradas no jardim ou na varanda não é fácil mantê-lo a uma temperatura que permita sentir o prazer de um vinho fresco a cada gole. Pelo menos é o que achamos. A experiência do enólogo Jorge Sousa Pinto permitiu-lhe reunir algumas dicas e uma delas é colocar "pequenas quantidades de vinho no copo para que este não tenha possibilidade de aquecer até ser consumido" — o que também é uma forma de seguir as regras de etiqueta ao não encher o copo.
No entanto, o vinho que verter para o copo só estará fresco se cumprir com alguns cuidados antes. "Normalmente, a grande dificuldade não é a temperatura de chegada à mesa, mas a temperatura de saída da garrafa para o copo até ao seu consumo. Um balde com gelo é uma ferramenta ótima para resolver este problema", dica que o enólogo volta a reforçar, apontando um novo pormenor. "Devemos ter cuidado para que a garrafa não fique totalmente imersa no balde de gelo. Devemos homogeneizar o vinho antes de servir, caso contrário estamos a servir a parte superior da garrafa a uma temperatura bem mais elevada do que a parte imersa".
O que fazer com um vinho por terminar
A questão é: será que isto realmente acontece? Seja um almoço de família ou um jantar de amigos, normalmente há sempre quem aceite dividir o que resta na garrafa, mas quando nem mais uma gota é tolerada, o melhor é reservar para mais tarde. "Existem pequenos aparelhos como bomba de vácuo, para retirar o ar do interior da garrafa, rolhar e voltar a colocar no frigorífico", diz o enólogo.
Em alternativa, pode também guardar a garrafa (sem precisar de grandes cuidados), ou até verter o restante vinho para um frasco, e usar em futuros cozinhados.
Para que não se esqueça das sugestões apresentadas pelo enólogo das Quintas de Melgaço, mostramos cada um dos vinhos enumerados, bem como os preços (com promoções). Ora espreite.