Em 2022, chegou a Portugal uma nova marca de gin. A Puerto de Indias, distribuída pela Companhia Espirituosa, nasceu em Sevilha, no sul de Espanha, em 2013, e tornou-se a pioneira dos gins com sabores ao criar o seu gin com morango — que seria só o começo.
Em 2021, lançariam o sabor Blackberry (amora). Melão e lemon berry (limão) foram as mais recentes apostas da marca espanhola, que também comercializa gin puro e outras edições limitadas. Para já, os únicos sabores disponíveis em Portugal são o de morango e o de amora.
As garrafas de 70 centilitros, com um teor alcoólico de 37,5%, estão à venda em grandes superfícies como Continente, El Corte Inglés, Auchan e Pingo Doce, por 19,99€ (PVP). A oferta é vasta e contém, a cada ano, edições especiais e limitadas.
Um gin pioneiro, que surgiu por acaso
Este "gin muito sevilhano" surgiu pela criatividade de dois irmãos, tornando-se uma empresa familiar. Na altura da crise económica de 2008, José António e Francisco Rodríguez decidiram comprar uma destilaria que estava prestes a fechar. Los Alcores de Carmona tinha sido fundada em 1880, tornando-se uma das mais antigas de Espanha.
Além de organizar eventos neste local, os dois empresários queriam destilar anis e outros licores, mas também macerar fruta com álcool, para posteriormente a usarem em coquetelaria e pastelaria, assim como explicou a Global Consumer Director da marca, Laura Nogueira, à MAGG.
Aventuraram-se com os morangos e queriam vendê-los, mas a fruta acabou por derreter devido ao calor. Como estavam arruinados, decidiram deitá-los fora, mas mantiveram o líquido. Os filhos dos fundadores começaram a dar a provar aos amigos, que gostavam e que pediam mais.
"Por isso é que dizemos que foram os consumidores que criaram o gin Puerto de Indias", conclui Laura Nogueira. Atualmente, os irmãos sevilhanos já não se encontram envolvidos no projeto. A destilaria continua a funcionar, mas nunca lá foram dinamizados eventos.
Os bastidores da Puerto de Indias
Tanto a destilaria como a fábrica da Puerto de Indias estão localizadas na cidade espanhola de Carmona, que contém uma grande herança islâmica e romana (o que explica as minas romanas existentes na destilaria). Pudemos assistir à produção deste gin e ficar a saber mais sobre ele.
Antes de fazermos uma prova cega de gins (durante a qual os Puerto de Indias se destacaram sempre em comparação com outras marcas), conhecemos algumas das edições limitadas desta bebida, como a "Garrafa Injusta", que vem mais vazia, faltando-lhe 11,9% de produto, o que simboliza o quanto as mulheres recebem a menos por fazerem o mesmo trabalho que os homens.
Na fábrica misturam os produtos, empacotam-nos para a exportação e armazenam-nos. Desde a inserção do líquido nas garrafas à colocação dos rótulos e tampas e até ao empacotamento, é tudo muito automático e autónomo, feito com recurso a máquinas e robôs impressionantes.
Todos os dias ficam prontas cerca de 30 mil garrafas. 80% do fabrico corresponde ao gin de morango, por ser "o primeiro e o mais famoso", assim como justificaram à MAGG. Na destilaria, que foi montada para "parecer uma aldeia pequena" e que até tem uma loja de presentes com produtos travel size, há várias salas que apresentam o percurso deste projeto.
Chamam-lhe uma "experiência de cinco sentidos" e é isso mesmo. Desde a origem ao modo de fabrico e passando por todos os aromas envolvidos, é um percurso sensorial interessante para quem procura saber mais sobre o que bebe. Entre outras coisas, mostra o primeiro logótipo da marca — elaborado com o software Microsoft Paint.
A garrafa atual desta bebida espirituosa foi criada para se assemelhar à Torre del Oro, uma dos mais icónicas atrações turísticas de Sevilha e também um dos pontos principais da história desta região. Erguida no século XIII, representa todo o comércio que ali chegava e dali partia, na zona conhecida como o "Porto das Indias" (Puerto de Indias).
"A revolução rosa"
Ao criarem um gin com sabor, começaram "a revolução rosa". "Os dois irmãos focaram-se muito em ser fortes em Espanha, e foram bem sucedidos, mas não tinham o conhecimento ou os recursos para apostar na internacionalização. Grandes marcas que os tinham viram a oportunidade e copiaram", elucida-nos a Global Consumer Director, Laura Nogueira.
De momento, o gin Puerto de Indias já está presente em 47 países, mas este atraso fez com que "cerca de 140 empresas" tivessem copiado a ideia original. Todos os anos são vendidas cinco milhões de garrafas só em Espanha e 30% dos consumidores que experimentam, repetem.
As mulheres representam a maioria dos trabalhadores da Puerto de Indias, assim como dos consumidores (80%). "Não é algo que criámos, é algo que veio naturalmente. As mulheres costumam gostar de bebidas mais doces. Não é tanto por causa da cor", crê Laura Nogueira.
Depois do êxito do gin de morango, feito com morangos naturais, plantados nos campos de Andaluzia e conservados em arcas frigoríficas ao longo do ano, veio o sucesso de versões como a de amora, a preta e a de pêssego e laranja. Foram os consumidores quem escolheram os mais recentes sabores, através das redes sociais.
Além disso, nos inquéritos feitos, descobriram que "os homens gostam mais de sabores cítricos". "Então, também lançámos para corresponder a esse público", explica a Diretora de Inovação para Mercados Internacionais Isabella Lluch, quanto à eleição do sabor de melão, que ainda não chegou a território nacional.
"Se tudo correr bem, no futuro, começamos a introduzir os novos sabores, que consideramos ótimos e que achamos que vão apaixonar os portugueses", adianta Isabella Lluch, acrescentando que a marca ainda está numa fase de adaptação ao consumidor português.
O marco dos dez anos da Puerto de Indias vai ser assinalado de várias formas, sendo uma delas a inauguração da destilaria para visitas por parte do público, daqui a uns meses. Será cobrado "um valor simbólico" e a ideia de ali serem dinamizados eventos, tal como originalmente foi projetado, não é descartada.
*A MAGG esteve em Sevilha a convite da Puerto de Indias